Centrais sindicais focarão política no 1º de maio

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A pandemia do novo coronavírus, o risco de desemprego, as negociações de corte de jornada e salário e até as polêmicas envolvendo o abre e fecha do comércio deram fôlego político às centrais sindicais que há muito não se via.

Reunidos em uma teleconferência na tarde desta terça-feira (21), após uma audiência com líderes dos partidos do chamado centrão, os dirigentes das seis principais centrais sindicais brasileiras —CUT, Força Sindical, UGT, CTB, Nova Central e CSB— reforçaram a decisão de alargar o palanque, desta vez virtual, na tradicional comemoração do Dia do Trabalho, em 1º de maio, para fazer a defesa do emprego e da democracia. Na avaliação das centrais, ambos estão sob ameaça.

A lista de convidados é diversa. Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ocuparão o mesmo palanque virtual.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) e o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), José Dias Toffoli, foram convidados a participar. A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e os governadores Wilson Witzel (PSC) e João Doria (PSDB) também deverão falar aos trabalhadores em mensagens exibidas durante a live que será exibida em 1º de maio.

A participação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na manifestação de domingo (19) pelo fim do isolamento social —e marcada por faixas de apoio ao AI-5— acabou por ampliar a lista de oradores do ato virtual promovido por 11 centrais sindicais.

Para o presidente nacional da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Sérgio Nobre, “está cada vez mais claro que Bolsonaro não tem apreço pela democracia e trabalha o tempo todo para instituir um regime autoritário no país”. Por isso, o corte para a participação do ato do Dia do Trabalho é a defesa do emprego, da democracia e das instituições.

Excluídos da mesa de debates sobre saídas para a crise, os sindicalistas negociam diretamente com as bancadas do Senado e da Câmara, em reuniões com parlamentares do centrão e da oposição, alternativas às medidas implementadas pelo governo federal.

Na terça-feira, a pauta era a medida provisória que autoriza empregadores a reduzirem salários e jornadas de trabalho dos funcionários durante a pandemia do coronavírus.

O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, afirma haver uma consenso para que o leque de participantes seja o mais amplo possível.

Segundo ele, a fixação do auxílio de R$ 600 para o auxílio, em detrimento dos R$ 150 originalmente propostos pelo governo federal, é uma amostra da eficácia do diálogo em tempos de pandemia. Os sindicalistas afirmam ter participado para que o valor aumentasse, chegando a R$ 1.200 para as mães de família.

“Sem uma articulação ampla não saímos do lugar”, diz.

Para Juruna, a presença do presidente da República nos protestos de domingo acendeu entre sindicalistas a pregação do “Fora, Bolsonaro”. Segundo ele, há na base sindical uma tendência de apoio à saída do presidente.

Mas não o bastante para que fosse incorporado à pauta oficial de convocação do ato, cujo lema é “Saúde, emprego, renda e democracia: um novo mundo é possível com solidariedade”.

O presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores), Ricardo Patah, é um dos que recomendam cautela. Ele diz que os dirigentes sindicais estão indignados com a precarização do emprego e preocupados com a incapacidade de gestão do presidente no enfrentamento à crise. “Mas não é o suficiente para ganhar as ruas”.

Patah conta que, apesar do isolamento, os dirigentes sindicais se reúnem diariamente em teleconferências nesse momento em que empregados são demitidos via WhatsApp.

Dizendo que a reforma trabalhista implementada pelo governo não alcançou o efeito prometido contra a crise econômica, o presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), Adilson Araújo, afirma que, na ausência do Estado, é preciso construir um movimento amplo em busca de soluções capazes de revigorar a economia e evitar que nos tornemos um país de miseráveis e desempregados após a pandemia.

Segundo ele, não há medidas do governo neste sentido. “Cadê o posto Ipiranga? Escafedeu-se”, diz Adilson, em alusão ao ministro da Economia, Paulo Guedes.

Na opinião do sindicalista, “a tese do bloco de esquerda se dilui quando a batalha é a defesa da democracia”. Ele diz que os movimentos sindicais sempre foram abertos ao diálogo, porque quem quer reivindicar tem que negociar sem escolher o interlocutor. Reconhece, no entanto, que a postura de Bolsonaro propicia a ampliação do diálogo.

“Tudo que não conseguimos fazer no mundo real podemos fazer agora no mundo virtual”, afirmou.

Essa é a segunda vez que as centrais sindicais organizam, conjuntamente, as manifestações do Dia do Trabalho. Ano passado, o governo Bolsonaro –e a redução no caixa das entidades por causa da reforma trabalhista– motivou a união de dez centrais no mesmo palanque pela primeira vez na história do sindicalismo nacional. A celebração foi no Vale do Anhangabaú, em São Paulo.

Com a crise do coronavírus, as centrais decidiram apoiar o isolamento, cancelando pequenos atos programados para acontecer em diferentes regiões do país. A partir das 10h, diferentes personalidades –incluindo representantes da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil)– farão depoimentos de três minutos cada, entremeados por shows de cantores convidados.

Sem os tradicionais sorteios de brindes e shows ao vivo, a produção ficará bem mais barata. Em 2019, o orçamento foi de R$ 700 mil.