Base digital abandona Bolsonaro
Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
A primeira reação da tropa de choque digital do presidente Jair Bolsonaro ao pronunciamento-bomba do agora ex-ministro Sergio Moro provocou cenas que pareceriam absurdas .
Elas incluíram um pedido de desculpas à imprensa, um rompimento pelo Twitter e até um questionamento público por parte de um dos mais fiéis seguidores do presidente.
Houve ainda o lançamento de Moro como candidato a presidente em 2022.
Nem o jornalista Allan dos Santos, cão de guarda feroz de Bolsonaro, conseguiu esconder a perplexidade com as acusações feitas por Moro. Segundo ele, é preciso uma explicação do que é ou não verdade.
“[Moro] afirmou com todas as letras que o presidente fez pior que Dilma e Temer. Agora resta saber o que é ou não verdade”.
O @SF_Moro deixa o MdaJ, saiu atirando e entregando a cabeça do presidente @jairbolsonaro ao @RodrigoMaia (que estava prestes a ser enterrado politicamente). O MdaJ afirmou com todas as letras que o presidente fez pior que Dilma e Temer. Agora resta saber o que é ou não verdade.
— Allan dos Santos – opovonopoder.com.br (@allantercalivre) April 24, 2020
Em outro tuíte, ele admitiu o óbvio: “Moro dissolveu a base do presidente”.
Para o ex-tucano Xico Graziano, importante líder ruralista, foi a gota d’água numa relação que já vinha desgastada. Ele anunciou seu rompimento com o presidente.
Se o @SF_Moro sai, saio junto.
— Xico Graziano (@xicograziano) April 24, 2020
Mais do que isso, imediatamente declarou apoio a Moro como candidato a presidente em 2022.
“Só há um vencedor nesse episódio, Sergio Moro. Será ele o aglutinador da esperança nacional contra a velha política. #Moro2022″, escreveu.
Ao blog, Graziano afirmou que Moro “pode ser a verdadeira terceira via” na próxima eleição.
Site bolsonarista muito influente, o Jornal da Cidade Online disse que a demissão de Moro “enfraquece extremamente o governo”. “É lamentável. O governo perde um herói”, escreveu.
Principal empresário que apoia o presidente, Luciano Hang, da rede de lojas Havan, mencionou quatro hashtags em que chama Moro de herói nacional e o agradece de forma efusiva.
Obrigado por tudo que você fez pelo nosso país. Gerações e gerações lembrarão do seu legado. O povo brasileiro estará sempre ao seu lado. Estamos juntos 🇧🇷
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.#moro #morheroinacional #moroheroi #brasil #seguranca #nacaobrasileira #heroi #moroheroidobrasil pic.twitter.com/OP7TpHjun5— Luciano Hang (@luciano_hang) April 24, 2020
Comentarista de posições alinhadas ao presidente, Rodrigo Constantino mencionou claramente a palavra que passou a frequentar oficialmente o meio político: impeachment.
Quem tem Sergio Moro e escolhe Olavo de Carvalho merece sofrer impeachment mesmo.
— Rodrigo Constantino (@Rconstantino) April 24, 2020
Houve também muita perplexidade, como do deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ).
“Moro saiu, fomos pegos de surpresa. Ontem mesmo ele nos garantiu que não sairia. Lamentável. E mais lamentável ainda a maneira como saiu”, escreveu.
Entre apoiadores mais radicais, as primeiras horas foram de silêncio. Críticas ao ex-ministro foram isoladas, mas duras, o que pode ser o prenúncio de uma reação que ainda está sendo organizada.
Paulo Eneas, editor do site bolsonarista Crítica Nacional, chamou Moro de “traidor profissional”.
“Existem traidores amadores, como Joice, Santos Cruz, o falecido Bebianno e o ator pornô. Existem os traidores profissionais. Moro é profissional, e fez hoje seu primeiro discurso de campanha”, afirmou.
Entre os momentos inusitados de um dia histórico, houve um raro mea culpa do líder de um dos mais importantes grupos que mobilizam apoiadores para ir à rua apoiar o presidente.
Edson Salomão, presidente do Movimento Conservador, pediu desculpas à imprensa por ter colocado em dúvida as notícias sobre a saída de Moro.
Errei em dizer que a imprensa e outros passariam vergonha por propagar a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça. Desculpem.
— Edson Salomão (@edsonsalomaomc) April 24, 2020