Argentina e Nova Zelândia adotaram lockdown cedo e ficarem livres
Foto: Robson Leandro da Silva
Ainda que com variações nas listas do que mantiveram aberto e fechado, e no nome que deram à medida, diferentes países que estavam longe de ver seus sistemas de saúde colapsarem adotaram o “lockdown” para enfrentar a pandemia do novo coronavírus.
A medida —que significa bloqueio, em inglês— se dá quando um governo impede o movimento das pessoas, fechando bares, restaurantes, empresas e lojas e estabelecendo multas e até prisão para quem sai de casa sem motivo justificado.
A palavra quarentena também tem sido usada por países para designar restrições mais drásticas, como nos casos de Argentina, Itália e Espanha.
Na Argentina, a quarentena obrigatória foi decretada em 20 de março. Vigiada pela polícia e pelo Exército, a medida prevê penas de prisão de 1 a 15 anos, por atentado à saúde pública, para quem sair às ruas sem necessidade comprovada.
A medida deveria durar até 10 de maio, mas foi prorrogada até o dia 24 deste mês, com flexibilizações e autonomia para os governos locais decretarem o que deveria reabrir.
No Peru, o “lockdown” deve durar até a mesma data.
Na Colômbia, após duas prorrogações de prazo, a quarentena obrigatória, como foi chamada pelo presidente Iván Duque, deve ir até o dia 25, mas setores da economia do país já começam a reabrir.
Na Espanha, a quarentena total foi decretada pelo governo em 28 de março. O país proibiu a saída de casa sem necessidade, sob multa de 600 euros (cerca de R$ 3.400). Depois dessa data, o número de morres por Covid-19 caiu e o de novas infecções estabilizou.
A Itália foi o primeiro país a entrar inteiramente em confinamento após a China. No início deste mês, depois de 56 dias de quarentena total, cerca de 4,5 milhões de pessoas voltaram ao trabalho. O índice de infecções e de mortes vem caindo no país, que durante semanas foi o epicentro mundial da doença.
O caso mais bem-sucedido, no entanto, é o da Nova Zelândia, país com cerca de 5 milhões de habitantes, em que o “lockdown” foi decretado rapidamente após o primeiro caso de contágio, em 28 de fevereiro. Apenas hospitais, lojas de comida e postos de gasolina eram autorizados a funcionar.
Desde o dia 13 deste mês, o país retomou a normalidade. Para a comunidade científica, a Nova Zelândia eliminou o novo coronavírus de seu território.
Nos Estados Unidos, atual epicentro da doença, com mais de 1,4 milhão de casos, os moradores de estados como Nova York cumpriram uma rigorosa quarentena.
No Brasil, que já registrou 16.792 mortes e 254.220 casos no total, há pelo menos seis estados que instituíram medidas de “lockdown”. Elas estão em vigor no Rio de Janeiro, Pará, Tocantins, Amapá, Roraima e Paraná.
No Amapá, o estado inteiro entra em “lockdown” a partir desta terça (19).
Já no Pará, o “lockdown” foi decretado desde 7 de maio (com validade até o dia 24) para Belém e outras nove cidades.
No Rio de Janeiro, o governador Wilson Witzel deixou a decisão de “lockdown” para os prefeitos e Niterói, Campos de Goytacazes e São Gonçalo aderiram à medida. A capital decretou um “semi-lockdown”, instituindo bloqueios em alguns bairros.
Em São Paulo, projeções feitas com um modelo matemático desenvolvido na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) indicam que a adoção de “lockdown” obrigatório no estado será inevitável caso o nível de isolamento social não suba significativamente nas próximas semanas,
Ainda assim, o governdo do Estado nega que vá implementar a medida.
“‘Lockdown’ significa atestado de falência do sistema público de saúde. Quando você decreta o ‘lockdown’, é que você perdeu a capacidade de enfrentamento da epidemia. Não estamos ainda neste momento”, disse o coordenador do comitê contra coronavírus, Dimas Covas.
“Se num determinado momento o sistema de saúde for nocauteado, todos os países adotaram o ‘lockdown’ como medida extrema para recuperar a capacidade de atendimento. É uma medida extrema, não é preventiva, é uma medida que você toma quando seu sistema for, eventualmente, nocauteado”, acrescentou.
Doria afirmou que é preciso tomar cuidado com o uso desta medida. “Decisões precipitadas nós não tomamos, sobretudo num tema como esse do ‘lockdown’. A população talvez não saiba o que é o ‘lockdown’. É uma situação infinitamente mais dura do que a quarentena. É preciso ter cuidado com isso”, disse Doria.
O governador afirmou que é preciso aumentar o número de leitos para evitar que se chegue a essa situação. “Não podemos simplesmente adotar essa medida como algo confortável para a saúde. Temos que reforçar o sistema público de saúde, aumentar os leitos. A situação está sob controle. Não temos nenhum risco neste momento. Pelos dados que dispomos ainda estamos dentro de uma margem segura que não estabelece colapso.”
Dimas Covas afirmou, no dia 13, que os principais critérios para adoção do “lockdown” são a velocidade do contágio e lotação das UTIs, dando a entender que a situação era próxima disso.
“Existem critério internacionais. O primeiro é a taxa de ocupação dos leitos de UTI. Quando essa taxa ultrapassa 90%, liga-se a luz amarela. Chegando a 100%, o sistema começa a entrar em crise. A segunda variável é a taxa de transmissão, a capacidade de um indivíduo transmitir para outros. Quando é superior a um, a pandemia vai progredir. A associação desses dois fatores determina a necessidade determina o lockdown”, disse no dia 13. “Nós estamos próximos de 90% de ocupação e a taxa de contágio é superior a um”.