Após incendiar o Brasil, extrema-direita conflagra os EUA

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Foto: Patrick T. Fallon/Reuters

Treze mil soldados da Guarda Nacional de Minnesota foram acionados neste sábado (30), após quatro dias de protestos e o início de mais uma noite de manifestações detonadas pela morte de George Floyd, homem negro sufocado por um policial branco de Minneapolis.

O governador do estado, Tim Walz, disse que a medida foi necessária porque, segundo ele, agitadores estão usando os atos para semear o caos. O democrata espera que os atos deste sábado sejam os mais intensos até agora.

Assim como em Minnestota, os governadores de Utah, Texas e Colorado também acionaram a Guarda Nacional, em uma demonstração de que a expectativa é de aumento da violência, uma vez que já há registros de vários policiais e jornalistas feridos em Pittsburgh e dezenas de detenções em Nova York.

Um vídeo publicado no Instagram mostra grandes colunas de fumaça em local próximo à prefeitura de Filadélfia, enquanto um carro da polícia de Los Angeles foi incendiado.

Em um movimento raro, o Pentágono disse que colocou unidades militares em alerta para serem acionadas caso sejam solicitadas por Walz para ajudar a manter a paz. As cidades de Cleveland, Atlanta, Los Angeles, Louisville, Rochester, Beverly Hills e Filadélfia adotaram toques de recolher.

Na noite deste sábado, ativistas se organizam em novos protestos em dezenas de grandes cidades americanas de todo o país.

Na capital Washington, centenas de manifestantes se reuniram próximo à sede do Departamento de Justiça e marcharam em direção ao Capitólio, berrando “vidas negras importam” e “não consigo respirar”, grito de guerra que ecoa as palavras de Floyd enquanto era sufocado pelo policial que o matou.

Em Minneapolis e em diversas outras cidades americanas, ativistas entraram em confronto com a polícia na noite de sexta (29) e na madrugada deste sábado, em uma onda crescente contrária ao tratamento dado pela polícia a minorias, em especial, os negros.

“Estamos sob ataque”, disse o democrata Walz em uma entrevista no sábado. “A ordem precisa ser restaurada. Usaremos toda a nossa força de bondade e justiça para garantir que isso termine.”

O governador de Minnesota disse acreditar que um grupo “fortemente controlado”, formado por pessoas de fora do estado, incluindo supremacistas brancos e membros de cartéis de drogas, provocaram parte da violência em Minneapolis. Questionado por jornalistas, no entanto, não ofereceu evidências que sustentem as declarações.

Ainda que afirme que 80% dos que foram presos durante os protestos são pessoas de fora de Minnesota, os registros de detenção mostram que apenas oito residentes não pertencentes ao estado foram alocados na cadeia do condado de Hennepin desde terça-feira.

Tampouco ficou claro se todos eles foram presos em conexão com os atos em Minneapolis.

Membros do governo do presidente dos EUA, Donald Trump, por outro lado, sugeriram que os distúrbios são orquestrados pela esquerda.

“Em muitos lugares, parece que a violência é planejada, organizada e conduzida por grupos anárquicos e extremistas de esquerda”, afirmou o procurador-geral dos EUA, William Barr, em um comunicado. “Muitos dos quais viajam de fora do estado para promover a violência.”

Neste sábado, o clima estava sombrio no bairro de Lynale, em Minneapolis, onde dezenas de pessoas avaliavam os danos após os atos enquanto varriam cacos de vidro e detritos.

Algumas das cenas mais caóticas de sexta-feira ocorreram no Brooklyn, em Nova York, no Brooklyn, onde policiais armados com cassetetes e spray de pimenta detiveram mais de 200 pessoas em confrontos por vezes violentos. Vários policiais ficaram feridos, informou a polícia.

Em Washington, Trump disse que se os manifestantes reunidos na noite anterior na Praça Lafayette, em frente à Casa Branca, tivessem violado a cerca em torno da sede do governo americano, “eles teriam sido recebidos com os cães mais cruéis e as armas mais ameaçadoras que já vi”.

Em Atlanta, Bernice King, filha mais nova do ícone dos direitos civis Martin Luther King Jr., pediu às pessoas que voltassem para suas casas na noite de sexta-feira, depois que mais de mil manifestantes marcharam para a capital do estado e bloquearam o tráfego em uma rodovia interestadual.

A manifestação se tornou violenta em alguns momentos. Incêndios ocorreram perto do prédio do canal de notícias CNN, e janelas foram quebradas no saguão do prédio da emissora. Vários veículos foram incendiados, incluindo pelo menos um carro da polícia.

O rapper Killer Mike, em um discurso apaixonado, acompanhado pelo prefeito da cidade e pela chefe de polícia local, implorou que os moradores ficassem em casa e se mobilizassem para ganhar nas urnas. “Não é hora de queimar sua própria casa.”​

Floyd, vítima da violência policial que desencadeou os protestos, havia perdido o emprego como segurança em um restaurante por conta das medidas de isolamento social para conter a pandemia do coronavírus.

Nascido em Houston e conhecido pelos amigos como “gigante gentil”, foi acusado de assalto a mão armada em 2007 e, em 2009, condenado a cinco anos de cadeia.

Ao deixar a prisão, em 2014, mudou-se para Minneapolis e passou a atuar como segurança. Na última segunda-feira (25), a polícia foi chamada por um funcionário de uma loja que dizia que Loyd tentara fazer uma compra com uma nota falsa de US$ 20 (R$ 106).

Aos 46 anos, ele morreu depois de ter sido algemado e ter o pescoço prensado contra o chão pelo joelho do agora ex-policial Derek Chauvin. Os agentes envolvidos na ação alegaram que ele resistira à prisão. As imagens da ação mostram o gigante já imobilizado.

O caso de Floyd foi mais um de uma longa série de outros negros mortos pela polícia durante abordagens violentas.

A de maior repercussão foi a de Eric Garner, em 2014 em Nova York, que deu origem ao movimento Black Lives Matter (vidas negras importam). Esta ação se tornou a principal articulação dos negros nos EUA na atualidade.

Folha