89% das cidades do Sul não têm UTIs

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Foto: Reprodução

O Brasil, segunda nação no mundo com mais casos confirmados do novo coronavírus, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), com 678.360 pessoas doentes, já soma 36.078 mortes por Covid-19. Apenas o estado do Rio de Janeiro, por exemplo, já ultrapassou a China em óbitos – 6.473 no estado fluminense e 4.645 no país asiático. Entre as regiões do território nacional, apenas Centro-Oeste e Sul ainda não atingiram a marca de mil falecimentos em decorrência da doença. A última possui 681 óbitos, de acordo com dados atualizados até o último dia 6 de junho.

Entretanto, nem todas as estatísticas no Sul são positivas. O especialista em epidemiologia e saúde pública, com ênfase em doenças infecciosas e parasitárias, Ricardo de Souza Kuchenbecker projeta que o pico da curva de contaminação na região ocorra entre os meses de julho e agosto.

A atualização mais recente mostra que o Sul soma 29.926 casos confirmados da Covid-19. O fator que pode complicar o cenário quando o momento mais alto de infecção ocorrer é que, dos 1.191 municípios da região, 1.059 (89%) não possuem leitos de unidade de terapia intensiva (UTI), conforme dados obtidos pelo Metrópoles por meio do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNESNet), do Ministério da Saúde.

A presença dessa estrutura hospitalar nas unidades de saúde é de extrema importância para que pacientes infectados pela Covid-19 sejam mais bem atendidos, principalmente os que se encontrarem em estado grave.

O Rio Grande do Sul sai na frente dos outros estados da região, mas, mesmo assim, os dados são preocupantes: conta com a estrutura em apenas 60 dos seus 497 municípios, enquanto Santa Catarina possui leitos para tratamento intensivo em 33 de seus 295 municípios. O Paraná possui a menor “cobertura”, tendo leitos em apenas 37 de seus 399 municípios.

O Rio Grande do Sul é o que acumula mais óbitos na região – 283 até agora, mas a Secretaria de Saúde do estado relatou ao Metrópoles que a quantidade de leitos de UTI “está dando conta” dos casos de novo coronavírus no estado. Além disso, o órgão pontuou que “vem monitorando diariamente a taxa de ocupação de leitos em todo o Rio Grande.” De acordo com dados atualizados até a tarde do dia 29/05, as unidades de cuidados intensivos tinham 72% de ocupação.

Kuchenbecker diz que o estado “está numa situação ainda bastante favorável se consideradas as outras regiões, capitais ou regiões metropolitanas (…). A gente ainda está numa situação que não chegou na capacidade plena de utilização dos serviços de saúde, em especial os leitos hospitalares e, dentro deles, os leitos de UTI”.

Logo atrás do estado sul-rio-grandense está o paranaense, que soma 232 óbitos. De acordo com atualizações de 28/05, os leitos de UTI destinados para adultos possuem taxa de 44% de ocupação, enquanto os pediátricos têm 22%.

A Secretaria de Saúde do Paraná não parece preocupada. Mostra-se orgulhosa e satisfeita com a “estrutura robusta” que tem na rede hospitalar. “Existem três hospitais cuja previsão de abertura seria em dezembro, e o governo do Paraná vai antecipar a abertura de parte da estrutura para o atendimento de pacientes exclusivos de coronavírus, nos municípios de Telêmaco Borba, Guarapuava e Ivaiporã”, informou o órgão.

“Além disso, como parte da estratégia, houve ampliação da oferta de leitos de UTI e enfermaria nos hospitais universitários de Maringá, Londrina, Ponta Grossa e Cascavel. A suspensão de cirurgias eletivas também ampliou a oferta de leitos. A previsão é de aumento, caso seja necessário, de pelo menos mais 1.800 leitos de UTI e quase 3.500 enfermarias”, assegurou a pasta.

O território catarinense, por sua vez, é o que acumula menos mortes pelo novo coronavírus, 166. Quanto às internações de casos da Covid-19 no estado, 10,8% dos leitos de UTI estão ocupados, segundo a atualização feita no dia 28/05.

A Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina informou ao Metrópoles que está atenta à situação dos pequenos municípios. “O governo de Santa Catarina já criou 396 novos leitos de UTI em hospitais públicos e filantrópicos desde o início da pandemia — o que representa 40% a mais da capacidade hospitalar pré-existente no estado”, assinalou.

“Além disso, (o governo) vem executando ações no sentido de ampliar a oferta no atendimento. E já derrubou as matrizes de avaliação da nova Política Hospitalar Catarinense para possibilitar que todos os hospitais inseridos recebessem o valor total durante o combate à Covid-19”, concluiu.

Ricardo Kuchenbecker analisa que “as medidas para achatar a curva (de casos e óbitos) já foram tomadas, que é o distanciamento social e as medidas de interrupção de atividades como escolas, processos de trabalho, como a mobilidade populacional determinada pela suspensão de atividades. De alguma forma, a gente já está impactando sobre a curva. Agora, quando e como isso (achatar a curva) vai acontecer, vai demorar. É preciso de algumas semanas ou meses para ter uma ideia”.

“O que nós fizemos foi empurrar a curva para frente. A curva ascendente, naquela situação de aumento exponencial de casos já observado em outras regiões ainda não aconteceu aqui com a ênfase que a gente imaginaria. A gente tem a expectativa de que isso possa acontecer entre julho e agosto, mas isso vai depender dessa capacidade do estado em lidar com essas questões todas do ponto de vista de distanciamento social”, disse o especialista. Para Ricardo Kuchenbecker, além do bom atendimento de saúde, é necessário obedecer às recomendações impostas pelas autoridades.

Metrópoles