Sem provas, Bolsonaro vê “supernotificação” de covid19
Foto: Agência Brasil
O presidente Jair Bolsonaro reconheceu, em live transmitida pelo Facebook nesta quinta-feira, que pode ter sido infectado pelo novo coronavírus depois de viajar aos Estados Unidos com uma comitiva em que mais de 20 pessoas testaram positivo para a covid-19.
“Eu acho que eu já fui contaminado, dada a maneira que vim de um avião, dos Estados Unidos. Acho que 23 (pessoas) do avião pegaram (a doença)”, disse Bolsonaro.
No mês passado, o presidente enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) os resultados negativos de exames para a detecção da covid-19. Ele não falou, no vídeo desta quinta-feira, se foi submetido a outros testes ou se sentiu os sintomas da infecção.
Ele falava sobre o fato de não ter tomado cloroquina de modo preventivo, a exemplo do que havia feito o presidente americano Donald Trump. Mas voltou a defender o medicamento, que não tem eficácia comprovada para o tratamento da doença.
Apesar de pesquisas científicas mostrarem que o número de casos da covid-19 pode ser até sete vezes maior do que os efetivamente registrados, Bolsonaro voltou a sugerir que há supernotificação do número de mortes.
Ele diz ter recebido “dezenas” de denúncias em que a pessoa morreu devido a outros problemas de saúde, mas os atestados de óbito entregues aos familiares apontavam o coronavírus como a causa do falecimento.
“Não entendo o que querem ganhar com isso. Talvez os caras estejam aproveitando as pessoas que falecem para ter algum ganho político e colocar a culpa no governo federal”, afirmou, sem especificar quem seriam “os caras”.
De acordo com o presidente, casos de morte em que o paciente já tinha outras comorbidades, como cardiopatias e insuficiência respiratória, não poderia ser contabilizado entre as mortes por covid-19 mesmo que testassem positivo para a doença.
“Nos casos de idade avançada, infelizmente, a possibilidade de entrar em óbito é grande. E tudo o que o governo federal podia fazer para conter, ele fez. Tem gente que morre com covid e outras de covid. É difícil separar, mas não queremos números que não condizem com a verdade”, disse, negando que o governo tenha tentado “esconder dados” da população.
Bolsonaro ainda disse que o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que comandava o Ministério da Saúde no início da pandemia, apresentava “números fictícios”, “vendia o peixe” da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o isolamento social e “exagerava com o objetivo de vender o pavor”.
Em seguida, o assessor-chefe do governo para assuntos internacionais, Filipe Martins, disse que “ao longo da história sempre se adotou quarentena apenas para pessoas doentes”. A bibliografia citada foi a Bíblia, que narra o isolamento para portadores de lepra.
Bolsonaro voltou a criticar os governadores que têm optado por não flexibilizar as medidas de isolamento social, já que e os hospitais estariam conseguindo atender à demanda dos pacientes infectados. “Posso estar equivocado, mas ninguém perdeu a vida por falta de respirador ou leito de UTI.”
Em outra crítica recorrente, disse que a OMS estava “oscilando bastante” em suas orientações e se revelando uma organização “contraditória e fajuta” diante das mudanças nas orientações quanto ao uso de máscaras e quanto aos índices de transmissão por pessoas assintomáticas, por exemplo.