Reabertura do comércio de SP foi ignorada por 48%
Foto: Rovena Rosa/ ABR
O primeiro dia de reabertura de lojas de rua de São Paulo, na parte da manhã, com operação também dos shoppings centers, na parte da tarde, manteve a taxa de isolamento social na cidade nos mesmo patamares observados nas semanas anteriores. O índice na capital paulista ficou, anteontem, em 48%, segundo dados divulgados nessa sexta-feira (12) pelo governo.
Embora a taxa não tenha caído, a semana que se encerra hoje será a primeira em quatro semanas sem que, em nenhum dia, o patamar de pessoas em casa não alcance a marca de 49%, ainda segundo dados da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico.
Quinta-feira, 11, não foi feriado na capital paulista, uma vez que a comemoração de Corpus Christi havia sido antecipada para a semana de 20 de maio, em um esforço da Prefeitura de aumentar as taxas de isolamento social. Entretanto, com bancos fechados, bolsa sem operar e o sistema financeiro de folga, os primeiros dia de reabertura foram “atípicos”. Os shoppings tiveram movimento baixo, sem filas e com parte das lojas de portas fechadas.
“Só no começo da semana que vem, depois desse feriado que não foi feriado, é que poderemos ter uma visão melhor do impacto da abertura no distanciamento social”, afirmou o físico Roberto Kraenkel, pesquisador do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro do Observatório Covid-19 BR.
O pesquisador afirma que, daqui para frente, além de um olhar sobre o número de novos casos, de internações e de mortes, é preciso um olhar mais atento com relação aos testes para detecção do coronavírus.
“Precisamos fazer mais testes, inclusive de casos leves, que também são transmissores. O governo fez compras de equipamentos o que é importante, mas não podemos achar que está tudo bem”, afirma. “Uma das formas de evitar o contágio é o distanciamento. Outra é testar todos os casos e monitorar (os positivos)”, relata o pesquisador.
Os dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) divulgados pelo governo do Estado mostram que, duas semanas após os seis dias de feriado prolongado, houve uma inversão de tendências na curva que indica a evolução de casos de coronavírus.
A média móvel – um linha que estima a evolução da doença – vinha crescendo até 3 de junho. Dali em diante, passou a cair. O feriado prolongado ocorreu entre 20 e 26 de maio, antecipando Corpus Christi, Revolução Constitucionalista de 1932 e Dia da Consciência Negra.
Entretanto, pesquisadores que vêm acompanhando a evolução da doença, como o também físico Domingos Alves, professor do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, apontam que a doença ainda está em alta, e fazem alerta sobre o impacto que abertura do comércio terá, nos próximos dias, na propagação da doença.
“O que dizemos é que os impactos são sentidos dentro de duas semanas, e a OMS (Organização Mundial da Saúde) fala em até três”, disse, para destacar que cidades que estão vivenciando a abertura poderão ter de rever esse processo antes mesmo desse período.