“Parem de matar nossos filhos”, dizem mães à polícia
Em protesto organizado por 15 coletivos da periferia, do movimento negro e frentes populares, manifestantes reivindicaram respostas para a morte de cinco jovens assassinados pela polícia e para a falta de acesso à saúde na zona leste de São Paulo durante a pandemia.
O ato batizado de Vidas Pretas Importam aconteceu neste sábado (4), em Cidade Tiradentes. Ele partiu da Praça 65 , na av. dos Metalúrgicos, às 13h e foi até às 17h30, terminando em frente ao Terminal Tiradentes, na capital paulista.
Segundo a organização, entre 150 e 200 pessoas participaram do ato, entre eles familiares dos jovens Felipe Santos Miranda, Brayam Ferreira dos Santos e Igor Bernardo dos Santos, assassinados durante a pandemia.
A manicure Ana Paula Bernardo dos Santos, 45, mãe de Igor Bernardo, 17, morto em 18 de março, esteve presente. Segundo ela, o filho foi morto com quatro tiros por ter sido confundido com outro jovem da região que teria roubado uma moto.
Ana acredita que o assassino seja um policial, que não estava fardado no momento do crime. Ela levou o caso à Ouvidoria da Polícia Militar, mas até o momento não sabe se há uma investigação sobre o ocorrido.
“Esse protesto é uma forma de mostrar que muitos jovens têm morrido. Hoje sou eu que choro e amanhã é outra mãe, já vi muitos casos acontecerem e nunca temos uma resposta”, afirma ela, que vive há 30 anos em Cidade Tiradentes.
Os manifestantes carregavam cartazes com os nomes dos jovens que foram mortos, além das frases “vidas pretas importam” e “parem de matar os nossos filhos”, entre outras.
Segundo Katiara Oliveira, articuladora da Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio, que ajudou a organizar a manifestação, fazer o ato dentro dos bairros atingidos por mais violência policial, apesar de não reunir milhares de pessoas como em protestos na Avenida Paulista, faz mais sentido para a comunidade.
“Essas pessoas estão sofrendo e precisam ver o ato de perto, ver que a vizinha está lá com a camiseta do filho dela, que ela pode demonstrar sua solidariedade”, afirma. “As quebradas que têm mais violações de direitos são as que mais têm medo e necessidade de organização para transformar esse medo em revolta.”
A rede criou em abril a campanha Fala Quebrada, com um formulário para enviar denúncias anônimas sobre abusos policiais.
A quantidade de pessoas mortas por policiais militares no estado de São Paulo cresceu 6% em maio deste ano em comparação com 2019, segundo a secretaria de Segurança Pública. Desde janeiro, foram 442 pessoas.
A Polícia Militar foi procurada mas ainda não respondeu à reportagem.
Folha de SP