Mortes disparam em capitais após abertura
Foto: Lalo de Almeida
Um estudo da Fiocruz estimou o número de mortes naturais que ocorreram “em excesso” em capitais que sofreram de forma intensa a crise do novo coronavírus. Elas saltaram 42% em relação ao que era esperado para 2020.
O trabalho contabilizou todas as mortes de pessoas maiores de 20 anos que ocorreram nas cidades de São Paulo, Fortaleza, Rio e Manaus —por doenças como câncer, infarto, acidentes vasculares e problemas respiratórios (entre eles, a Covid-19).
Foram excluídas mortes por causas violentas como homicídio e acidentes.
Entre 23 de fevereiro e 13 de junho, quando a epidemia explodiu no país, 74.406 pessoas morreram nas quatro capitais. Eram esperadas 52.133 mortes, tomando-se por base o período anterior de cinco anos. O indicador de mortalidade se mantém estável ao longo dos anos e só sofre aumentos bruscos em situações de desastres naturais, guerras ou epidemias.
Do excesso de 22.273 mortes, 14.918 tiveram como causa oficial a Covid-19. As demais 7.355 ocorreram por outros motivos.
“Mas todos os óbitos excedentes devem ser integralmente atribuídos ao agente estressor: a crise do coronavírus”, diz o epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz e um dos autores da pesquisa.
A crise, acredita, fez com que doentes de outras enfermidades não encontrassem atendimento em hospitais colapsados, ou mesmo que evitassem buscá-los.
“O escandaloso número de mortes excedentes não foi obra do acaso, mas da má gestão da epidemia. Elas poderiam ter sido evitadas. As propriedades quase milagrosas atribuídas à cloroquina e a narrativa da preservação da economia mostrou-se ineficaz e pode seguir causando milhares de mortes”, diz.