Em SP, Boulos conta com eleitorado petista

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: AFP

A pré-candidatura do líder do MTST, Guilherme Boulos, à Prefeitura de São Paulo pelo Psol, com a deputada federal Luiza Erundina como vice, tenta resgatar bandeiras históricas do PT e mira a periferia, reduto eleitoral em que petistas perderam espaço nas últimas eleições para o PSDB e para o presidente Jair Bolsonaro.

A chapa foi escolhida no fim de semana, com o apoio de 60,9% dos filiados ao Psol que participaram da prévia em São Paulo para definir o pré-candidato. A dobradinha do líder do movimento dos trabalhadores sem-teto com a ex-prefeita e ex-petista como vice tem ganhado apoiadores entre militantes petistas descontentes com a escolha do ex-deputado federal Jilmar Tatto para concorrer pelo PT.

Entre as principais bandeiras da pré-candidatura estão a implementação da renda básica, o passe livre no transporte, fim da terceirização na saúde, extinção de privatizações e de concessões – com a possibilidade de reestatizar o que já foi entregue à iniciativa privada – e maior participação popular, com conselhos populares deliberativos e orçamento participativo.

Boulos diz que a mensagem principal da pré-candidatura é “enfrentar a desigualdade social” e o projeto do atual governo, do prefeito e candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), que “jogou a periferia para o esquecimento”. “A pandemia [de covid-19] escancarou a desigualdade”, diz. Os 20 bairros com maior número de mortes pela doença na cidade estão na periferia. A taxa de mortes confirmadas nos distritos mais pobres é 60% maior do que a registrada nos bairros ricos.

O líder dos sem-teto e pré-candidato diz que é “preciso quebrar os muros que separam essas duas cidades” e cita dados do “Mapa da Desigualdade” da Rede Nossa São Paulo, que mostram que a expectativa de vida nos Jardins, área nobre, é de 80 anos, e em Cidade Tiradentes, no extremo leste, de 57 anos.

O discurso de Boulos lembra o do ex-prefeito Fernando Haddad (PT), que, ao tomar posse em 2012, prometeu derrubar “o muro da vergonha que separa a cidade rica e a cidade pobre”.

Boulos, no entanto, marca diferenças em relação ao PT e indica que as ações voltadas à periferia não foram a prioridade da gestão Haddad (2013-2016). O “Arco do Futuro”, principal bandeira do petista, não saiu do papel. Haddad teve um dos piores desempenhos eleitorais do PT em São Paulo, com 16,7% a 53,29% da chapa João Doria/ Bruno Covas (PSDB), eleita no primeiro turno. Naquela eleição, os tucanos avançaram sobre bairros periféricos, tradicionais redutos petistas.

“É preciso inverter a lógica orçamentária e colocar a periferia como prioridade”, diz. “E queremos fazer uma gestão radicalmente popular, com ampla participação e incluir a sociedade nos grandes debates”, afirma. Boulos propõe também um amplo programa de alimentação agroecológica, com hortas nas periferias e em escolas municipais.

A chapa do Psol, no entanto, esbarra na falta de capilaridade do partido na capital, com 10,3 mil filiados. Candidato à Presidência em 2018, Boulos recebeu 76.953 votos na cidade, 1,21% dos votos.

No cenário nacional, o candidato do Psol registrou o pior desempenho eleitoral do partido em uma disputa presidencial, com 0,5% dos votos. Na eleição municipal de 2016, Erundina foi candidata pelo Psol e recebeu apenas 3,18% dos votos na cidade

Boulos diz que a eleição deve ganhar um caráter nacional em São Paulo, com a disputa contra o legado do presidente Jair Bolsonaro. Para o pré-candidato do Psol, o presidente não apoiará nenhum candidato na capital para “não passar vergonha”. Se eleito, diz, pretende transformar São Paulo na “capital da resistência” a Bolsonaro.

O presidente, no entanto, venceu na capital nos dois turnos, em 2018. No primeiro, recebeu 44,58% dos votos, ante 19,7% de Haddad e 1,21% de Boulos. No segundo, Bolsonaro teve 55,13% dos votos e Haddad, 44,87%.

“O cenário mudou”, afirma Boulos. “O presidente não tem mais esse apoio. Foi uma eleição atípica, movida pelo ódio, pelo medo. O mesmo Bolsonaro que vendia a ideia de que acabaria com a corrupção, agora está envolvido em denúncias de milícias, rachadinha, comprando o Centrão. Bolsonaro está em declínio”, afirma.

O pré-candidato critica o fato de o PSDB estar não só no comando da capital, mas também em sua sétima gestão consecutiva à frente do governo paulista. “É uma capitania hereditária do PSDB”, diz. “Quando foi que eles olharam para os pobres, para a periferia? E qual é a marca de Covas? Esse governo é um puxadinho do Doria”, diz, citando o governador de São Paulo. Para Boulos, o apoio que a chapa Doria/Covas teve em 2016 não deve se repetir. “Além do antipetismo, havia um forte sentimento de desmoralização da política. Isso marcou as duas últimas eleições. Mas veja no que deu aqueles que se diziam fora da política. Há uma mudança no clima da cidade”, afirma.

Boulos evita falar sobre a falta de acordo com o PT em São Paulo em torno de uma candidatura única e também esquiva-se ao ser perguntando sobre um eventual apoio de Luiz Inácio Lula da Silva. “Nunca falei com Lula sobre a candidatura.”

Ao ser questionado sobre a articulação para formar um novo partido de esquerda depois das eleições, em uma espécie de “MDB da esquerda”, Boulos rejeita imediatamente a proposta. “Afasta de mim esse cálice”, diz. “MDB é um partido onde cabe todo mundo, não tem critério. Não vejo motivo para reproduzir um modelo como esse.”

Valor Econômico