Aras denuncia ataques à sua família
Foto: Dida Sampaio / Estadão
Em meio à crise sem precedentes na instituição que dirige e isolado pelos próprios pares, o procurador-geral da República, Augusto Aras, partiu para o contra-ataque. Em reunião virtual organizada para discutir proposta orçamentária da entidade em 2021 nesta sexta-feira, 31, acusou os colegas de plantarem notícias falsas em ‘oposição sistemática’ a sua gestão.
Os membros do Conselho Superior do Ministério Público Federal (MPF) aproveitaram o final da sessão para marcar oposição às críticas públicas feitas pelo procurador-geral ao funcionamento da entidade e ao trabalho da Operação Lava Jato.
O conselheiro Nicolao Dino fez a leitura de uma carta aberta, subscrita pelos colegas subprocuradores Nivio Freitas, José Adonis e Luiza Frischeisen, na qual rebateu acusações de Aras e pediu a regulamentação definitiva das forças-tarefas, cuja vigência se esgota em setembro deste ano.
“A fala de Vossa Excelência não constrói e em nada contribui para o que denominou de “correção de rumo”. Por isso, não se pode deixar de lamentar o resultado negativo para a instituição como um todo, expressando a nossa perplexidade principalmente por se tratar de graves afirmações articuladas pelo chefe da instituição que a representa perante a sociedade e os demais órgãos de Estado”, diz um trecho do manifesto lido na sessão.
Os conselheiros criticaram a exposição do ‘racha’ da instituição e reiteraram o trabalho da Corregedoria para apurar e responsabilizar eventuais desvios. Em transmissão ao vivo na última terça, 28, Aras defendeu a necessidade de superar o ‘lavajatismo’, levantou suspeitas sobre o volume de dados conservado pela força-tarefa e os critérios usados para obtê-los e ainda falou que as eleições da instituição são ‘fraudáveis’ e que é preciso corrigir ‘desvios’.
“É angustiante ver a nossa instituição travando uma luta fratricida internamente. Nós assistimos lamentavelmente a exposição pública das nossas divergências internas. Fica parecendo que nós não temos Corregedoria e que por isso precisamos expor a nossa instituição à censura pública para que os excessos cessem”, disse o conselheiro José Elaeres.
Em resposta, Augusto Aras acusou colegas de ‘oposição sistemática’ a ele e de plantar notícias falsas contra sua gestão e sua família, de forma anônima e ‘covarde’.
“Todas as matérias que saem na imprensa, é um procurador ou uma procuradora que fala. O anonimato mais do que inconstitucional e ilegal, é covarde. Eu não tenho medo de enfrentar nenhum argumento, eu tenho o costume de enfrentar tudo o que faço e digo e não tenho receio de desagradar”, disparou Aras. “Quando tivermos condições de conversar com a dignidade, sem a fake news, sem a covardia, sem a traição, sem a mentira propiciada por aqueles que estão aqui na Casa, eu acho que teremos paz”, emendou.
O chefe do Ministério Público Federal disse que tem provas das afirmações sobre irregularidades internas na instituição e que elas já foram encaminhadas aos órgãos competentes para apuração.
“Não me dirigi, em um evento acadêmico, se não pautado em fatos e em provas que se encontram sob investigação da Corregedora Geral do Ministério Público Federal e do Conselho Nacional do Ministério Público. Caberá a eles apurar a verdade, a extensão, a profundidade e os autores, os coautores e os partífices de tudo o que declarei. Porque me acostumei a falar com provas, tenho provas e essas provas já estão depositadas perante os órgãos competentes. De logo, registro que não houve nenhum protesto, houve fatos e provas que estão entregues e sob apreciação dos órgãos oficiais competentes”, afirmou.
Aras também voltou a criticar o aparelhamento da instituição dissimulado, em suas palavras, em ‘ igualdade demagógica de horizontalidade’, e prometeu combater ‘ilicitudes’ e ‘irregularidades’ no MPF.
Mais cedo, a abertura da sessão foi marcada por um bate-boca quando Dino acusou o procurador-geral de cercear a palavra dos membros do órgão colegiado depois de ter o pronunciamento inicial interrompido antes de conseguir concluir fala crítica ao chefe do MPF.