Marta vai trilhar o caminho de Erundina e Marina?
Três mulheres fortes, vítimas do machismo que permeia a política brasileira, Marta Suplicy, Marina Silva e Luiza Erundina vão mergulhando no ostracismo político por escolha própria, ainda que inconsciente.
Apesar de Marta e Erundina terem se tornado alvo da artilharia vil, covarde e baixa dos adversários políticos, ostentam biografias diversas. Marta vem de tradicional e abastada família paulistana e Erundina, migrante nordestina de origem humilde, veio tentar a vida no “sul maravilha” e venceu – mas, depois, jogou tudo fora.
A terceira personagem desse psicodrama é Marina Silva, que, como se verá adiante, tem tudo que ver com as duas primeiras.
Com história de vida similar à de Erundina, Marina, tal qual a primeira prefeita de São Paulo, também deixou o PT por se atribuir uma importância maior do que a realidade permitiria.
A união de Erundina e Marina sob o imenso guarda-chuva ideológico do PSB nas eleições deste ano, fez todo sentido. Apesar de terem ideias distintas sobre muita coisa, são duas políticas de trajetória errática e que, desde que deixaram o PT, não param em partido algum.
Erundina, após sair do PT, tornou-se uma metamorfose ambulante. Terminou coordenando a campanha de Marina, que adotou um projeto político que negou a história de vida de ambas.
Erundina e Marina, autoproclamadas “socialistas” durante suas trajetórias políticas, aliaram-se ao que há de mais reacionário na política brasileira.
Foi chocante ver a eterna defensora dos homossexuais Luiza Erundina ao lado da fundamentalista religiosa Marina Silva, que chegou a esbofetear o movimento LGBTT durante o recente processo eleitoral.
Foi deprimente ver Erundina e Marina recebendo apoio do Clube Militar do Rio e endossando a impunidade de torturadores e assassinos da ditadura militar.
Eis que Marina perde para si mesma durante a eleição, com suas idas e vindas, com suas mudanças radicais de discurso e posições em plena campanha eleitoral. E aquela que se fazia anunciar como arauto da “nova política” termina nos braços do “novíssimo” PSDB e seus tarados de extrema-direita.
Marta, como Erundina, foi massacrada ao longo de sua excelente gestão na prefeitura de São Paulo. Em 2004, perdeu para José Serra graças ao machismo mais degradante que já se viu.
Em 2004, Marta perdeu a eleição por ter se separado de Eduardo Suplicy e se casado de novo. Chocou as “Senhoras de Santana” e boa parte da hipocrisia conservadora paulistana.
Em 2008, disputa com o vice que Serra largou na prefeitura para disputar o governo do Estado e perde feio, quando poderia ter perdido bonito.
“É casado? Tem filhos?”. Foi assim que Marta, eterna defensora dos homossexuais, achou que poderia derrotar Gilberto Kassab em 2008.
Em plena campanha eleitoral a prefeito de São Paulo em 2008, no dia 10 de outubro, este Blog já sabia o caminho que Marta tomaria pouco depois na peça publicitária acima.
Abaixo, post publicado por este blogueiro no endereço antigo desta página
10/10/2008
Lutar com honra
Por Eduardo Guimarães
Nos últimos dias, diversos leitores vêm postando comentários que fazem insinuações sobre o prefeito Gilberto Kassab que demonstram quão baixa é a política. Esse tipo de jogo sujo mostra como estou certo em me manter independente de grupos políticos.
Acho Kassab um péssimo prefeito. Ele é do partido que representa tudo o que abomino na política. Não votaria nele nem que minha vida dependesse disso.
Dito isto, quero pôr os pingos nos is no que diz respeito aos boatos sobre a orientação sexual do prefeito.
Tem gente querendo discutir o assunto. É óbvio que a intenção é a de chocar o eleitorado conservador de São Paulo. E o que é pior, com uma mentira, porque ninguém tem prova nenhuma de que o que dizem é verdade.
Mesmo que fosse verdade o que estão dizendo sobre Kassab – e são apenas boatos sem qualquer comprovação –, isso não deveria nem ser mencionado por quem tem um mínimo de caráter.
Não se mede a competência de um administrador pela sua orientação sexual. E a revelação de uma orientação diferente da majoritária só cabe àquele que tem tal orientação.
Repudio com toda força esse vale-tudo, venha do lado que for, inclusive daquele em que estou.
Para mim, vitória em qualquer disputa tem que ser limpa para ter “gosto”. Nesse aspecto, prefiro mil vezes perder com honra que vencer com jogo sujo.
Peço aos que comungam de minhas idéias políticas que não toquem nessa imundice. Não se igualem àqueles que combatemos.
Peço respeito ao prefeito de São Paulo. Não só pelo cargo que ocupa, mas por seus direitos de cidadão. E peço que respeitem este blog, no qual jogo político rasteiro não tem vez.
Marta acabou se retratando, anos mais tarde. Mas, tal qual Erundina fez neste ano ao se aliar à homofobia, aos reacionários de extrema-direita, em 2008 mostrou quanto valiam suas convicções.
Agora, Marta ameaça trilhar a estrada de Erundina e Marina. Seu personalismo, ao dar o showzinho que deu ao deixar o Ministério da Cultura e ao pretender que Haddad abra mão da própria reeleição em seu favor, já suscita cogitações sobre deixar o PT pelas mesmas razões de Erundina e Marina.
Espera-se que não procedam as versões de que poderia ir para o PMDB ou para o PR. Tornar-se-ia uma nova Marina ou uma nova Erundina.
Enquanto isso, Dilma Rousseff vai sofrendo bombardeio de todo lado. Inclusive por parte de aliados personalistas que exigem deferências da presidente por terem apoiado sua reeleição.
Tenho dito, nas redes sociais, que ninguém fez favor algum a Dilma ao apoiar sua reeleição. E ninguém pode se arrogar o mérito de ter “reeleito” a presidente.
Dilma foi reeleita por uma massa de militantes que trabalhou dia e noite na internet e nas ruas, pela sua estratégia de campanha e pelo bem-estar que manteve, com fartura de empregos, salários em alta etc.
Voltando a Marta, de sua cabeça já saiu muita coisa que prejudicou não só a ela mesma, mas ao PT e ao governo Lula, quando recomendou aos descontentes com aeroportos que “relaxassem” e “gozassem”.
Para completar o efeito Marina-Erundina, só falta Marta começar a pular de legenda em legenda.
Marta deveria refletir que personalismo desbragado não tem feito bem a muitos políticos. A lista inclui José Serra. Como as petistas, o tucano também diminuiu, politicamente, por excesso de orgulho, por se achar maior do que é.