Bolsonaro critica fechamento de escolas na pandemia
Foto: Marcos Corrêa/PR
O presidente Jair Bolsonaro fez da posse do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, uma nova ode à hidroxicloroquina, remédio sem comprovação científica que ele exalta como forma eficiente de tratamento da covid-19. Ele disse ainda que as escolas não deveriam ter fechado durante a pandemia. E afirmou que “mídia catastrófica” gerou “pânico” entre os governadores, que por isso optaram por interromper a atividade econômica.
Em outra afirmação sem respaldo na ciência, Bolsonaro afirmou que 30% das mortes na pandemia poderiam ter sido evitadas com uso precoce de hidroxicloroquina. E disse não ter se acovardado ao dar opiniões sobre o combate ao coronavírus.
Ao longo da pandemia, além de defender o uso da hidroxicloroquina, Bolsonaro chegou a classificar a covid-19 como uma “gripezinha”, criticou o fechamento do comércio e das escolas e desobedeceu recomendações de especialistas ao participar de atos públicos sem máscara e provocar aglomerações em diferentes eventos.
Uma dessas aglomerações foi vista ontem no Palácio do Planalto: a cerimônia de posse de Pazuello, agora efetivado no cargo, foi de longe a mais lotada de convidados na sede da Presidência desde a chegada do coronavírus ao país. “Hoje, estudos já demonstram que por volta de 30% das mortes poderiam ser evitadas caso fosse ministrada a hidroxicloroquina”, defendeu o presidente. “A decisão não foi da minha cabeça. Passei a defender a cloroquina pautado por médicos do Brasil inteiro”.
O Planalto foi uma das portas de entrada do coronavírus no país, depois que Bolsonaro voltou de uma viagem aos Estados Unidos em março com dezenas de infectados em sua comitiva.
Ontem, o presidente disse que aproximadamente 200 pessoas já foram infectadas no Palácio do Planalto. E que, por utilizarem hidroxicloroquina, nenhuma delas desenvolveu sintomas graves.
Bolsonaro voltou a falar sobre a necessidade de lidar com o vírus e o desemprego de forma simultânea e elogiou a condução do ministro Paulo Guedes na Economia. Para o presidente, houve medidas exageradas no fechamento de escolas e comércio.
“Não tínhamos por que fechar as escolas, mas as medidas restritivas não estavam mais nas mãos da Presidência da República. Por decisão judicial, elas competiam exclusivamente aos governadores e prefeitos. Lamento. Somos o país com o maior número de dias em ‘lockdown’ nas escolas. Isso é um absurdo”, disse Bolsonaro. “Alguns governadores foram tomados pelo pânico por conta dessa mídia catastrófica que nós temos no Brasil.”
Em seu discurso, Pazuello defendeu o tratamento precoce da doença, mas evitou propagandear o uso de cloroquina. O ministro afirmou que o país hoje vive uma situação de estabilidade da doença. “No Norte e Nordeste, as pessoas já começam a voltar à normalidade. No Centro-Sul, a tendência de queda é clara”, acrescentou.
Apesar de só ter sido efetivado ontem, Pazuello ocupava o cargo desde 15 de maio, quando o ministro Nelson Teich pediu demissão. O general já afirmou a pessoas próximas que não pretende passar à reserva, como fizeram outros ministros militares, o que contraria a cúpula das Forças Armadas.
Depois da posse, Pazuello reforçou à imprensa que o Brasil espera oferecer a vacina contra covid-19 a partir de janeiro, com possibilidade de antecipar caso os testes e a conclusão da vacina sejam mais rápidos que o previsto.