MP denuncia Flávio Bolsonaro hoje
Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo
O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e seu ex-assessor, Fabrício Queiroz, deverão ser denunciados hoje por pertinência à organização criminosa, lavagem de dinheiro e peculato pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ).
A denúncia envolve a investigação que apurou por dois anos um suposto esquema de rachadinhas no gabinete de Flávio Bolsonaro quando ele era deputado da Assembleia Legislativa fluminense e é assinada pelo subprocurador-geral de Justiça Ricardo Martins. A acusação deveria ter sido enviada ontem, eletronicamente, ao Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ). No entanto, houve um problema na transmissão, porque a denúncia tem mais de 280 páginas e traz em anexo diversas provas da investigação. Como o envio digital falhou, provavelmente pelo volume de dados a serem transmitidos, a peça deverá ser entregue fisicamente ao relator do caso na Corte, desembargador Milton Fernandes, conforme apurou o Valor.
Ontem à noite, o MP-RJ divulgou nota em que negou que tenha apresentado a denúncia.
“A instituição lamenta e repudia a divulgação de notícias relacionadas a investigações sigilosas, sem qualquer embasamento ou informação oficial por parte do MP-RJ, o que causa prejuízo à tramitação do procedimento e desinformação junto ao público”. A nota foi divulgada por ordem da Procuradoria-Geral de Justiça como uma estratégia de prevenção: há receio no MP-RJ de que a conclusão das investigações e o consequente encaminhamento da denúncia à Justiça provoquem uma reação política forte do clã Bolsonaro, disse à reportagem uma fonte familiarizada com a investigação.
Flávio será apontado como líder da organização criminosa. Queiroz será acusado de operar financeiramente o esquema de corrupção que funcionaria no gabinete do então deputado.
A acusação tem em sua base dados de quebras de sigilos bancário e fiscal que revelaram que Flávio usou ao menos R$ 2,7 milhões em dinheiro vivo do esquema de rachadinhas. Esse montante dá contra de três métodos de lavagem de dinheiro que teriam sido empregados no esquema, segundo o MP-RJ.
Vinte e três ex-assessores do gabinete de Flávio são mencionados nos relatórios de investigação. O MP-RJ os dividiu em três grupos, conforme a função desempenhada por cada um. O primeiro, com 13 pessoas, é o núcleo ligado a Queiroz e do qual fazem parte seus familiares, amigos e conhecidos indicados ao gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro. Esses 13 investigados depositaram R$ 2,06 milhões na conta do ex-assessor de Flávio durante período de 11 anos. O grupo também é apontado como responsável por saques de R$ 2,9 milhões em dinheiro vivo ao longo desse mesmo período.
O segundo grupo, de acordo com o MP-RJ, contava com Danielle Nóbrega e Raimunda Magalhães, respectivamente ex-mulher e mãe de Adriano Nóbrega, ex-policial e líder de milícia em Rio das Pedras. Ele foi morto em fevereiro durante confronto com a polícia da Bahia. As duas mulheres repassaram, juntas, mais de R$ 200 mil a Queiroz. Cerca de R$ 200 mil adicionais foram transferidos a Queiroz por meio de pizzarias mantidas por Raimunda, segundo o MP-RJ.
O terceiro grupo apontado na investigação conta com 10 ex-assessores de Flávio que moram em Resende (RJ). Nove deles têm algum parentesco com Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro e mãe do filho mais novo do presidente. Desses 10 ex-funcionários, nove sacaram o equivalente a R$ 4 milhões em salários durante os 11 anos contemplados pelos investigadores.
Queiroz foi preso em junho na casa do advogado Frederick Wassef, em Atibaia (SP). O criminalista representava Flávio no caso até então. Queiroz foi encaminhado para Bangu, no Rio, mas obteve prisão domiciliar concedida pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. A reportagem não conseguiu contatar as defesas de Flávio e Queiroz até o fechamento desta edição.