Brasil será afetado por eleição nos EUA
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O cientista político norte-americano Anthony Pereira, especialista em estudos sobre o Brasil, afirmou que, desde a época do regime militar, não havia uma proximidade tão grande como hoje existe entre o Brasil e os Estados Unidos. O brasilianista, pesquisador do King’s College London, participou ontem do primeiro dia do evento “Cidadania em Cena”, promovido de forma on-line pela Votorantim S.A. e pelo Instituto Votorantim. Pereira conduziu palestra sobre os desafios da democracia no mundo.
“Tem que ir até o governo Castello Branco para achar um governo brasileiro que seja tão ligado a um governo americano”, afirmou o pesquisador. “Mesmo na época de Castello Branco a aproximação não durou muito, foi de 1964 a 1967.”
O marechal Humberto Castello Branco foi o primeiro presidente brasileiro do período militar, escolhido por eleição indireta após o golpe ter derrubado João Goulart. O presidente teve como embaixador brasileiro nos Estados Unidos Juracy Magalhães, que declarou, na época: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.
O professor evocou a convergência atual entre Brasil e EUA na política externa, na reação à pandemia e no meio ambiente. Segundo Pereira, o governo brasileiro está mantendo sem tarifas a importação do etanol dos Estados Unidos como uma forma de ajudar na reeleição de Donald Trump.
Para Pereira, a proximidade entre os governos Trump e Jair Bolsonaro fará o Brasil sentir os efeitos da eleição americana, em novembro. “A eleição nos Estados Unidos pode ter um resultado muito complicado, infelizmente, e isso pode ter um resultado muito ruim para a democracia mundialmente. Por causa da proximidade dos governos do Brasil e dos EUA, pode ter um impacto grande no Brasil.”
Os riscos que o pesquisador associa às eleições americanas estão relacionados à falta naquele país de um sistema eleitoral unificado e à radicalização das posições dos eleitores pró e contra Donald Trump. Pereira lembrou que Trump vem falando que, se perder as eleições, é porque elas foram fraudadas. Bolsonaro usava esse mesmo discurso no Brasil, nas eleições presidenciais de 2018.
“O único resultado que Donald Trump vai aceitar como legítimo é a vitória dele. Isso, claro, não é uma posição democrática”, afirmou Pereira. “Independente do resultado, a nação vai se dividir e um lado não vai reconhecer o outro como legítimo. Isso é preocupante.”
Anthony Pereira afirmou que tanto Bolsonaro quanto Trump são exemplos de populismo autoritário, um fenômeno que, na visão do pesquisador, está em ascensão no mundo. “O caso Bolsonaro é diferente entre os populismos mundiais porque ele não tem partido e ele é nominalmente neoliberal na economia. Trump não é um neoliberal. Ele fala: ‘America first’.”
O evento “Cidadania em Cena” vai se estender até a semana que vem, ao longo de seis dias. Ontem, na abertura do encontro virtual, o diretor-presidente da Votorantim S.A., João Schmidt, falou sobre o compromisso da companhia com o fortalecimento da democracia.
“Acreditamos que a transformação só vem a partir da participação dos cidadãos”, disse Schmidt. “O compromisso social está no centro da estratégia de negócios. Nossa preocupação com o bem-estar das pessoas e a vida das cidades faz parte da nossa forma de trabalhar e está refletida em todas as nossas atitudes dentro e fora da empresa.”
O executivo relembrou uma das bandeiras do centenário da companhia, em 2018, que era o voto consciente. “Acreditamos na força transformadora do voto. Ser cidadão é muito mais do que voltar. Por isso nos últimos anos, patrocinamos pesquisas, fizemos estudos, e este evento é uma contribuição da Votorantim para os brasileiros conhecerem a vida política.”
O diretor-presidente do Instituto Votorantim, Clóvis Carvalho, que também participou da abertura, disse que a entidade espera causar um “impacto grande, estrutural, na cultura democrática nacional”. “Queremos contribuir com a estabilidade democrática no Brasil”, afirmou.