Crivella usa Bolsonaro acima do limite para apoiadores
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Perto da divulgação da primeira pesquisa após o início da propaganda eleitoral gratuita em rádio e TV, pelo Ibope, se acirra a disputa entre as campanhas dos dois candidatos bolsonaristas à Prefeitura do Rio: a do deputado federal Luiz Lima (PSL) e a do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos). Luiz Lima entrou com uma representação na Justiça eleitoral contestando o uso excessivo por Crivella da imagem de Bolsonaro. Ao mesmo tempo, Crivella resolveu questionar o próprio Ibope e pediu ontem a suspensão da divulgação da pesquisa, prevista para hoje à noite.
Numa das peças exibidas pelo prefeito no horário eleitoral, Bolsonaro aparece em mais de 50% do tempo do programa de 2min02seg. De acordo com o artigo 54 da lei eleitoral, apoiadores só podem dispor de até 25% de cada programa ou inserção de propaganda eleitoral. É um artigo criado em 2015, e que visava conter a influência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Com alta rejeição e baixo índice de preferência, Crivella tem tentado turbinar sua candidatura, desde a pré-campanha, com eventos e demonstrações de apoio de Bolsonaro. O presidente filiou seu filho e vereador Carlos e a ex-mulher Rogéria no Republicanos, partido do prefeito, mas não há sinais de engajamento entusiasmado de Bolsonaro.
Com esse cenário, Luiz Lima, eleito em 2018 na esteira do presidente, busca herdar o voto bolsonarista no Rio. Sua propaganda eleitoral, porém, tem sido discreta na associação a Bolsonaro, sobretudo com a menção de que foi escolhido recentemente para ser vice-líder do governo na Câmara. Nos bastidores, as informações são de que Lima estaria com o raio de ação limitado para se associar ao presidente, devido a restrições da própria família Bolsonaro O Valor apurou que a campanha do parlamentar não referenda essa visão por não haver um documento, tanto para proibir o uso da imagem por Lima quanto para permitir que Crivella se apoie nela.
Em São Paulo, a campanha a prefeito da deputada federal Joice Hasselmann (PSL) também entrou com uma representação contra o candidato Guilherme Boulos (Psol) por usar quase todos os 17 segundos de propaganda para exibir o apoio do ator Wagner Moura. O advogado Gustavo Bonini Guedes, especialista em direito eleitoral, que atuou na causa, conseguiu que a peça não fosse mais exibida e afirma que, sem querer, a vitória, “acabou desarticulando a estratégia de comunicação central de Boulos”, que já estava engatilhando outros vídeos de apoio semelhantes. A pedido do Valor, Guedes analisou a peça de Crivella e afirmou que “essa utilização também é indevida, pois vai além dos 25% permitidos”. Em sua conta, Bolsonaro aparece em 1min03seg durante a propaganda.
Estrategista da campanha do prefeito, Rodrigo Bethlem minimiza. “Confesso que não medi o tempo. O Luiz Lima também está usando mais de 50% do tempo dele para falar mal do Crivella. É choro de perdedor, de uma campanha natimorta”, disse.
Bethlem afirmou ainda que a campanha pediu a suspensão da divulgação da pesquisa Ibope, hoje. Ele alega que há sobrerrepresentação de universitários na amostra. “O Ibope informou que entrevistou 37,5% de universitários, três vezes mais do que há no Rio”, diz. Procurado, o advogado de Luiz Lima, Lauro Ramos, preferiu se pronunciar após a decisão do pedido à Justiça.