Candidato bolsonarista esconde Bolsonaro em Fortaleza
Foto: Câmara dos Deputados
Candidato a prefeito de Fortaleza, o deputado federal Capitão Wagner (PROS-CE) faz parte do seleto grupo de candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro nas eleições deste ano. Ao contrário dos seus colegas, no entanto, ele não tem usado o presidente como cabo eleitoral. O nome de Bolsonaro não aparece nas redes sociais do parlamentar nem em programas eleitorais.
Apesar de dizer que não iria participar das eleições deste ano, o presidente já declarou publicamente apoio a cinco candidatos a prefeito — Bruno Engler (PRTB), em Belo Horizonte; Ivan Sartori (PSD), em Santos; coronel Menezes (Patriota), em Manaus; Celso Russomano (Republicanos), em São Paulo; e capitão Wagner, em Fortaleza — e uma candidata a senadora, coronel Fernanda (Patriota), na eleição suplementar ao Senado em Mato Grosso.
O apoio do presidente é parte central da campanha desses candidatos. Engler, por exemplo, colocou Bolsonaro ao seu lado na foto de perfil das redes sociais, enquanto Sartori fez um vídeo com o título “Conheça o candidato apoiado pelo presidente Bolsonaro em Santos”. A relevância do apoio do presidente no planejamento desses candidatos é tamanha que a Justiça Eleitoral suspendeu a propaganda eleitoral de Fernanda por excesso de tempo em que Bolsonaro aparece.
Wagner, por sua vez, desde que começou a campanha oficial não publicou nenhuma foto com o presidente — mas postou com os cantores Léo Santana e Régis Danese. Além disso, não fez alarde quando o presidente declarou, durante uma live no dia 8, apoio a um “capitão” que estava na frente das pesquisas, em Fortaleza.
Ao GLOBO, o candidato do PROS afirmou que pretende utilizar o apoio de Bolsonaro na reta final do primeiro turno. Wagner, no entanto, ressalta ser mais importante uma parceria com o governo federal do que especificamente com Bolsonaro.
— Na verdade, o presidente se comprometeu a entrar nas campanhas somente nos últimos 15 dias. A partir desse envolvimento maior dele, eu acho que a gente vai usar (a imagem de Bolsonaro) — disse. — Estamos em uma crise econômica muito grande. Ter o apoio do governo federal vai ser muito importante.
O candidato relatou que Bolsonaro, antes de declarar o apoio, perguntou se isso ajudaria na campanha, e que recebeu um sinal positivo.
— Me consultou se seria importante ter o apoio dele aqui, se ajudaria na campanha. Ele disse que só quer colaborar, que não quer atrapalhar de forma nenhuma. A gente deu a positiva para ele, falou que seria importante sim, ter o apoio dele.
Ele está à frente nas pesquisas, com 28% das intenções de voto, segundo levantamento do Ibope divulgado na quarta-feira. Luizianne Lins (PT) aparece com 23%, e José Sarto (PDT), com 16%.
Aliados de Wagner avaliam que a campanha dele tem envergadura, independentemente do apoio presidencial — em 2016, ele perdeu o pleito no segundo turno, com 46,4% dos votos. Por isso, segundo essa análise, ele não precisaria nacionalizar o debate para crescer nas pesquisas, como outros candidatos apoiados pelo presidente Brasil afora.
Por outro lado, candidatos apoiados por Bolsonaro que estão atrás nas pesquisas em suas cidades, como Bruno Engler e Coronel Menezes, são os que mais utilizam a imagem do presidente.
A mesma pesquisa do Ibope mostrou que 48% dos moradores de Fortaleza consideram o governo Bolsonaro ruim ou péssimo, enquanto 26% o avaliam como ótimo ou bom.
Wagner minimiza os dados e diz que pesquisas internas da campanha mostram outro cenário:
— As pesquisas que a gente tem não dizem isso. Está crescendo, em todo o estado do Ceará, em Fortaleza também. A aceitação dele (Bolsonaro) tem melhorado a cada dia.
Opositores de Wagner afirmam que, apesar de Bolsonaro ter melhorado a popularidade no estado, ele ainda enfrenta dificuldade. Em 2018, o eleitorado local votou majoritariamente em Ciro Gomes (PDT) no primeiro turno e em Fernando Haddad (PT), no segundo.
Aliados do deputado, por outro lado, dizem que o apoio do presidente não é negativo e tende a se intensificar em um eventual segundo turno.
Na disputa deste ano, Wagner tenta diversificar sua pauta, para se afastar da imagem de homem com uma só bandeira — no caso, a segurança pública — problema que sofreu em 2016.
Comparado com o anterior, o programa eleitoral deste ano tem menos ênfase nesse tema e mais destaque para outros assuntos, incluindo questões sociais. Para isso, escalou como vice a advogada Kamila Cardoso Ribeiro (Podemos), conhecida no estado por atuar na causa de pessoas com deficiência. Há ainda uma proposta para implantar uma coordenadoria especial para a promoção dos direitos da população LGBTQIA+.
Os ajustes na campanha para atingir o eleitor de centro, no entanto, não impediram uma aproximação com o presidente, articulada pelo deputado estadual André Fernandes (Republicanos), parlamentar próximo à família Bolsonaro.
Segundo Fernandes, Wagner e Bolsonaro tiveram uma conversa “de capitão para capitão” no fim do mês passado, na qual foi consolidado o apoio do presidente ao candidato — o anúncio em live foi feito em 8 de outubro.
Um dos argumentos usados na conversa com Bolsonaro, segundo Fernandes, foi a necessidade de “acabar com a oligarquia dos Ferreira Gomes” no estado — a capital cearense é a maior cidade comandada pelo PDT. Fernandes também ressaltou que Wagner fez campanha para o presidente, em 2018, e apoia o governo federal.
Questionado porque, então, Wagner tem usado pouco o nome de Bolsonaro em suas redes sociais, Fernandes afirma que não tem percebido isso e que, nos grupos de Whatsapp e Facebook que participa e nos eventos de campanha que vai, a “imagem do capitão Wagner com o capitão Bolsonaro está sendo muito usufruída”.
— A propaganda mais importante do capitão Wagner hoje aqui no Ceará é: ‘Conseguimos’, ele deixa bem claro, ‘através do governo federal, R$ 43 milhões para a saúde’. Isso é algo que outros parlamentares, outros candidatos não usam. Ele deixa claro a ajuda que vem do governo federal — comentou.
O parlamentar cearense afirma ainda que, o que até houve até agora foi um “aceno” do presidente ao capitão Wagner, mas que isso ainda está “se construindo”. Ele diz, no entanto, que a tendência é que a presença do presidente na campanha aumente, principalmente em um eventual segundo turno.
— O segundo turno polariza, então, com certeza, a imagem será mais usada, o presidente deve entrar mais, eu acho que vai entrar mais, vou insistir que entre mais. É o que a gente espera — comenta.