Campanhas eleitorais de 2020 estão mais baratas
Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo
Faltando duas semanas para o primeiro turno das eleições municipais, os gastos declarados pelos candidatos no país até agora retratam uma diferença marcante em relação a outros pleitos: menos comícios, menos santinhos e mais controle de gastos. Impactadas pela pandemia do novo coronavírus, as campanhas ao redor do país gastaram menos com carros de som, eventos para públicos grandes e materiais impressos, segundo levantamento feito pelo GLOBO.
Os números comparam o que foi gasto por todas as candidaturas a prefeito e vereador do Brasil este ano até 17 dias antes da eleição — ou seja, até a última quinta-feira — com o mesmo período de 2016.
Segundo os dados, os gastos com publicidade por carros de som este ano correspondem a apenas 14% do que foi desembolsado em 2016. No mesmo período da eleição passada, foram gastos R$ 53,9 milhões. Este ano, a despesa está em R$ 7,5 milhões. Diferença similar ocorre com gastos para a realização de comícios: R$ 14,8 milhões em 2016 e R$ 2,3 milhões em 2020.
De acordo com empresários ouvidos pelo GLOBO, o principal fator para a queda nos gastos foi a pandemia do novo coronavírus. Ao contrário de eleições passadas, as principais campanhas simplesmente tendem a evitar qualquer grande aglomeração. A agenda nas ruas, com uma série de cabos eleitorais, também foi deixada de lado pela maioria dos candidatos, que prefere fazer visitas em ambientes “controlados”.
— Na rua, não adianta marcar muita coisa mais, porque não vai ter aglomeração — diz Raul Cruz Lima, marqueteiro da campanha de Márcio França (PSB) à prefeitura de São Paulo.
Segundo Lima, outro fator é preponderante: as campanhas apertaram os cintos após a legislação proibir a doação de empresas para candidatos. Mesmo as campanhas mais abastadas, como a de reeleição do prefeito Bruno Covas (PSDB), em São Paulo, está buscando alternativas.
Os programas do tucano foram filmados com drones, mas muitas imagens estão sendo reaproveitadas nas propagandas do candidato.
— A restrição de verbas é bem maior em comparação com as outras eleições. Por causa disso, tem que fazer o dinheiro render. Ganha a criatividade — diz Lima.
Outros candidatos apostam em uma mudança cultural. A engenheira biomédica Thabata Ganga (PDT) é novata e candidata a vereadora na capital paulista. Uma de suas bandeiras de campanha é exatamente abrir mão de materiais impressos, como os santinhos que costumam sujar as ruas no dia da eleição.
— Quando eu falei no partido que não faria santinho, muita gente achou que eu era louca. Mas acho que não é assim que a gente vai mudar as coisas — afirma Thabata.
Segundo o levantamento do GLOBO, houve também uma redução de 25% nos gastos com materiais impressos: foram R$ 272 milhões em 2016, contra R$ 200 milhões neste ano. Apenas dois tipos de despesa tiveram gastos maiores que em 2016: a pré-instalação física de comitê de campanha e gastos com pesquisas ou testes eleitorais.
A diferença nas despesas também afeta o outro lado do balcão. Empresários com quem o GLOBO conversou contaram que o volume de serviços contratados é bem menor do que o de campanha anteriores. Um dos administradores da Publiserv, empresa que fornece carros de som e sonorização de eventos, Roberto Barbosa afirma que sentiu uma baixa significativa na procura em 2020:
— A pandemia contribuiu, mas também mudou a legislação para a campanha política, entre outras coisas — observa.
Em sua campanha, Thabata Ganga tem adotado medidas alternativas: até agora, a mais efetiva tem sido pedir para que eleitores a sigam nas suas redes sociais, onde apresenta discursos e propostas. O resultado, diz, tem sido satisfatório.
— Mas no fim das contas isso a gente só pode achar. Certeza, mesmo, só vai dar para ter depois do dia 15 de novembro — brinca.