Mutação do coronavírus faz mundo fechar fronteiras
Foto: Stefan Rousseau/Pool via Reuters
O alerta veio do Reino Unido, que classificou como “fora de controle” uma variação do novo coronavírus, em uma cepa que indica ser muito mais contagiosa do que a que se disseminava até então no país.
O sinal amarelo provocou uma reação em cadeia, com diversos países anunciando restrições a viajantes oriundos do Reino Unido e de outras nações onde há indicativos ou casos confirmados dessa mutação do novo coronavírus.
Em solo britânico, o primeiro-ministro Boris Johnson fez um recuo brusco na reabertura do país e anunciou uma série de novas restrições, a fim de conter a disseminação do novo coronavírus.
O primeiro-ministro vinha indicando que iria no sentido contrário, flexibilizando as orientações com a proximidade das festas de final de ano. “Isso agora está se espalhando muito rápido”, alertou Johnson. “É com o coração muito pesado que digo que não podemos continuar com o Natal como planejado.”
Como quase tudo que diz respeito à pandemia, as decisões políticas estão tendo de ser tomadas com o carro andando, quando ainda não se sabe tudo a respeito dos desafios pela frente. Até agora, o panorama é de uma contaminação mais rápida, mas não mais mortal ou imune a uma vacina.
“Existe alguma evidência de que esta cepa pode ser mais infecciosa. Não há evidência de que seja mais mortal e não há evidência de que será mais resistente a uma vacina”, resumiu, em entrevista à analista da CNN Abby Philip, o médico Ashish Jha, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Brown.
Em entrevista à rede britânica BBC nesse domingo (20), a líder técnica da Organização Mundial da Saúde (OMS), Maria Van Kerkhove, afirmou que os dados atuais indicam que a nova variante surgiu na Inglaterra, entre o sudeste do país e a capital, Londres.
Maria afirmou que casos de Covid-19 causados pela cepa mais contagiosa foram verificados na Dinamarca, na Holanda e na Austrália. No final do domingo, ao menos um caso já havia sido registrado também na Itália.
O final de semana se encerrou com crescentes anúncios de países impondo restrições de viagem a passageiros oriundos do Reino Unido.
A Holanda adotou uma das restrições mais longas, decidindo que voos oriundos do Reino Unido estarão impedidos de pousar no país até o final de 2020. O governo holandês afirmou que a cepa foi identificada em um paciente, diagnosticado no início de dezembro, e que está investigando se há outros casos.
O primeiro-ministro da França, Jean Castex, anunciou uma suspensão de 48 horas de viagens entre os dois países por todos os meios de transporte.
O governo da Irlanda tomou medida semelhante. O país anunciou a suspensão dos voos “pelos interesses de saúde pública”, inicialmente nesta segunda (21) e terça-feira (22). O mesmo na Bélgica. Segundo o primeiro-ministro Alexander De Croo, os belgas determinarão o bloqueio aéreo por 24 horas e reavaliarão se será necessário prorrogar.
No caso de Israel, a decisão vai além. O país optou por restringir os voos não só do Reino Unido, mas também da Dinamarca e da África do Sul, onde a nova mutação também teria sido registrada. A Arábia Saudita suspendeu todos os voos internacionais ao país, independentemente da origem, por ao menos uma semana.
A Espanha reforçará a exigência e a conferência dos testes do tipo PCR, obrigatórios para entrada no país, dos passageiros britânicos. El Salvador fechará as fronteiras para o Reino Unido e a África do Sul.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “todos os vírus, incluindo o da Covid-19, mudam com o tempo”.
Os vírus são as estruturas mais simples conhecidas no nosso planeta: são basicamente material genético envolvido por uma cápsula proteica. Essa simplicidade faz com que ele seja altamente mutável.
Em recente entrevista à CNN, Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), afirma que essas variações são normais e acontecem no momento em que os vírus se reproduzem.
“Toda vez que os vírus se copiam, eles podem errar uma parte e criar uma microvariante. É como se eles cortassem o cabelo, fizessem a barba, passassem batom. É diferente num detalhe específico”, disse.
Até novembro, ao menos oito linhagens da Covid-19 estavam em circulação no Brasil, de acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Até o momento, nenhuma das mutações registradas no Brasil ou no mundo é diferente a ponto de “escapar” da cobertura das vacinas já desenvolvidas contra a doença do novo coronavírus.
“Não há demonstração até o momento que essas mutações tenham relação com mais gravidade, transmissão mais rápida ou aspecto diferente que a vacina não cubra”, afirmou Kfouri, da SBIm.
Ashish Jha, da Universidade de Brown, corrobora essa avaliação. “Creio que a vacina terminará sendo eficaz para todas estas cepas, mas obviamente teremos que analisar isso com muito cuidado”, disse.
Para Jha, a única solução é reforçar o uso de máscaras de proteção individual e o distanciamento social, contendo a disseminação do novo coronavírus. Com menos contágio, menor também a reprodução e a mutação.
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