Início da vacinação divide Alemanha

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Foto: Deutsche Welle

É um dia ensolarado, mas gelado em Grossräschen, uma pequena cidade no sul de Brandemburgo. As ruas estão desertas e não se vê quase ninguém. Em frente a um lar de idosos operado pela Cruz Vermelha Alemã (DRK), há dois veículos da polícia, e um caminhão refrigerado está estacionado na entrada. A vacina contra o coronavírus, desenvolvida pela empresa alemã Biontech e sua parceira americana Pfizer, acaba de ser entregue sob estrita vigilância.

Grossräschen é um dos principais focos de covid-19 em Brandemburgo, o estado que circunda a capital alemã, Berlim. Nesta cidade com uma população de cerca de 100 mil habitantes, a taxa média diária de infecção é superior a 500 (de todos os estados alemães, apenas a vizinha Saxônia tem uma incidência maior). Nos lares de idosos, as medidas de precaução são rígidas: apenas os parentes mais próximos têm permissão para entrar na casa e somente se apresentarem um resultado negativo de coronavírus. E mesmo assim, o vírus já chegou aqui também.

A chegada da vacina em Grossräschen contou com a presença da secretária da Saúde de Brandemburgo, Ursula Nonnemacher. Enquanto um funcionário da Cruz Vermelha passava pelas viaturas da polícia carregando a caixa de isopor branco com a carga preciosa, trazida diretamente do caminhão refrigerado para o lar de idosos, ela falou sobre “um raio de esperança no horizonte”.

Naquele momento, Ruth Heise, residente da casa, é empurrada apressadamente em sua cadeira de rodas. Seu quarto fica um pouco mais longe, num outro prédio. Um vento gelado despenteia os cabelos brancos da senhora de 87 anos, que carrega seu prontuário médico diante do peito. Heise é a primeira a ser vacinada naquele dia, seguida pela moradora Elfriede Seefeld, que também é muito idosa e está igualmente numa cadeira de rodas.

Questionada se tem medo da vacinação, Ruth Heise responde secamente: “Não”. Mas isso não é tão evidente. Apenas doze dos 70 residentes se inscreveram para receber a primeira dose da vacina. Eles conhecem a médica responsável, pois ela trabalha regularmente no local. Segundo o chefe da Cruz Vermelha em Brandemburgo, Hubertus Diemer, isso é um componente importante da campanha de vacinação. “Trata-se de confiança, ou seja, de convencer as pessoas a se vacinarem”, afirma Diemer.

Dos cerca de 50 enfermeiros, 20 estão de férias ou doentes. Do restante, apenas metade decidiu se vacinar. “Há muito ceticismo”, lamenta a diretora do asilo, Bianka Sebischka-Klaus. Apesar de acreditar que só a vacinação pode trazer alívio, ela diz compreender tais receios, afinal, tudo foi desenvolvido e testado de maneira muito rápida. “Quando começamos a divulgar informações, a vacina nem havia sido aprovada”.

Sebischka-Klaus diz que agora é preciso “conversar com todos”, esclarecer dúvidas e dissipar preocupações. A secretária da Saúde, Ursula Nonnemacher, concorda, acrescentando que é importante não colocar as pessoas sob pressão e dar-lhes “tempo para discutir suas decisões com suas famílias. Às vezes, os tutores legais têm de dar sua aprovação e muitos parentes vêm acompanhar os idosos na vacinação.” Nonnemacher acrescenta que levará meses até que uma parte da população, cerca de 60% a 70%, seja vacinada para obter imunidade coletiva.

Tal estimativa vale para praticamente todo o país. A maioria dos centros de vacinação está pronta para começar a funcionar, assim como as equipes móveis de imunização programadas para distribuir a vacina nos asilos. Mas ainda não houve entregas suficientes.

Cada vacinação requer duas doses administradas com 21 dias de intervalo. Como aponta o porta-voz da Saúde do Partido Social-Democrata (SPD), Karl Lauterbach, os planos atuais permitem a imunização de apenas 5% da população até meados de março de 2021. Por isso, ele defende um aumento urgente na produção: “O tempo está se esgotando e o vírus já sofreu mutação. Devemos vacinar o maior número possível de pessoas o mais rápido possível, antes que o vírus desenvolva sua própria imunidade à vacina.”

Mais um raio de esperança reside na expectativa de que a União Europeia aprove outra vacina no início de janeiro, produzida pela empresa Moderna e de mais fácil manuseio. Entre as vantagens, está uma cadeia de resfriamento menos exigente do que a vacina da Biontech, que precisa ser armazenada em temperaturas extremamente baixas e rapidamente se torna ineficaz se a cadeia se quebra.

A cadeia de resfriamento não é o único “grande desafio organizacional” enfrentado pelas autoridades de saúde quando se trata de distribuir a vacina da Biontech, disse o chefe da associação de médicos Kassenärztliche Vereinigung de Berlim, Burkhard Ruppert: “Ela é embalada em conjuntos de cinco doses, em vez de frascos individuais. Como só pode ser guardada por um determinado período de tempo, teremos que organizar tudo com cuidado para não termos que jogar nenhuma delas fora.”

Em Berlim, foram criadas 60 equipes móveis de vacinação. Elas deverão visitar os lares de idosos da capital nas próximas semanas, cada uma administrando 50 vacinas por dia. Também foram instalados seis grandes centros de vacinação, o primeiro dos quais começou a funcionar no domingo.

Brandemburgo, a área ao redor de Berlim, ainda não está tão avançada na campanha. Por enquanto, funcionam dois centros de vacinação em Potsdam e Cottbus, com previsão de chegar a um total de onze até o final de janeiro. Nessa altura, Ruth Heise já deverá estar imune à covid-19. Ela deve receber sua segunda dose no dia 18 de janeiro.

Época

 

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