Mercado financeiro acha que inflação vai disparar em 2021
Foto: Diego Vara/Reuters/VEJA
Grande termômetro da economia, a inflação é sensível a variação cambial, alta das commodities e, claro, recebe efeitos de política econômica. Apontada como uma pressão temporária durante todo o ano passado, o indicador não dá sinais de arrefecimento e está acima da menta para ese ano. Analistas do mercado financeiro apontam que o IPCA, índice oficial de inflação do país, deva fechar o ano em 3,87%, oitava alta consecutiva. No início deste ano, a expectativa era que o índice fechasse em 3,34%. A meta definida para 2021 é de 3,75%. Os dados são do Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira, 1º.
A projeção do indicador segue dentro da margem de erro, de 1,5 ponto porcentual para baixo ou para cima, segundo definição do Conselho Monetário Nacional. Essa pressão, porém, deve puxar a taxa básica de juros para cima. A Selic, em 2% neste ano, deve subir. Analistas já apostam em ajuste nesta próxima reunião, na próxima semana, e mercado vê trajetória de alta até o fim do ano, chegando a 4%.
A aposta é que principais fatores para a pressão inflacionária no ano passado – retomada das atividades, pagamento do auxílio emergencial e desvalorização do real em relação ao dólar – devem ocorrer em menor proporção, impactando menos a pressão da inflação neste ano. Mas isso não significa que a inflação deva ceder. O real desvalorizado e a alta das commodities são alguns desses motivos. O movimento pode ser visto no preço dos combustíveis, que inclusive gerou uma crise política no governo envolvendo a Petrobras.
A Petrobras utiliza parâmetros do preço do barril de petróleo no mercado internacional, que é cotado em dólar. A partir do último trimestre do ano passado, o preço do barril voltou a subir e, como o real passou a valer menos em relação ao dólar, o peso no valor do combustível é ainda maior. Nesta segunda-feira, 1º, a petroleira indicou nova alta, a quinta do ano para a gasolina e a quarta no etanol. Com os aumentos, os combustíveis já subiram mais de 30% no ano.
A pressão do combustível trouxe insatisfação dos caminhoneiros e consequentemente, ações de Bolsonaro, que preferiu a linha intervencionista em detrimento do posicionamento econômico liberal no governo para não desagradar suas bases. Mesmo com troca indicada no comando da estatal, projeto de fixar imposto estadual, decreto para detalhamento do preço das bombas, o consumidor já sente os impactos da alta do combustível. No IPCA-15, prévia da inflação, os combustíveis tiveram impacto maior que os alimentos na alta dos preços. A alta nos combustíveis impacta também no preço de produtos e serviços, porque o transporte está mais caro. No Boletim Focus, o mercado projeta o IGP-M, índice utilizado como base em contratos de aluguel, em 8,88% contra 6,57% a um mês atrás.
Os economistas consultados pelo Banco Central apontam uma recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) de 2021 após a queda histórica de 2020. A perspectiva é que a economia brasileira cresça 3,29% neste ano, após um recuo estimado de 4,37% em 2020 — o resultado oficial será divulgado nesta quarta-feira, 3. A previsão é a mesma da semana anterior e menor que há um mês, quando a projeção era de 3,50%. A escalada de casos do novo coronavírus e os percalços da vacinação são pontos de atenção para a retomada, já que o impacto do coronavírus continua presente. Estados e municípios voltaram a adotar medidas mais restritivas afim de evitar o colapso no sistema de saúde.
A expectativa para ajudar na volta econômica depende do andamento das reformas, essencial para melhorar o ambiente de negócios e destravar investimentos, estimulando assim a recuperação. Na semana passada, após crise na Petrobras, o governo enviou projetos de privatização dos Correios e da Eletrobras e há expectativa que a PEC Emergencial seja votada nesta semana. Por pressão do Congresso, o ajuste trazido pela PEC, contrapartida básica exigida pelo governo para uma nova rodada de auxílio emergencial, deve ser reduzida.
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