Kassab diz que mau gestor na pandemia terá “dificuldades” eleitorais
Foto: Avener Prado / Folhapress
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, aposta que gestores que tenham cometido erros na pandemia terão dificuldades nas próximas eleições. Ele cita a derrota de Donald Trump nos Estados Unidos como algo que pode se repetir no Brasil. Na sua avaliação, o eleitor norte-americano “deu o troco” pelos erros na crise sanitária.
Kassab elogia a substituição de Ernesto Araújo no Ministério das Relações Exteriores e diz que evita “atirar pedras” no governo federal em relação às decisões do Ministério da Saúde, embora frise que “nós pagamos pelos erros do passado”.
Qual é a sua opinião sobre as ações do governo federal na pandemia?
A situação é tão grave que nós temos que identificar os erros do passado, que foram muitos, mas não podemos ficar pisando em cima deles, criando atritos, divergências. Nós pagamos pelos erros do passado, é evidente. Poderíamos estar com uma campanha de vacinação muito mais intensa.
Qual será o impacto político da pandemia nas próximas eleições?
Para a maior parte das pessoas que habitam o planeta, se você oferecer um carro ou uma vacina, elas preferem a vacina. Essa é a importância que tem para as pessoas o enfrentamento dessa pandemia. Acredito que, nas eleições, os que acertaram vão tirar proveito disso. Não tenho dúvida de que o presidente Trump, nos Estados Unidos, perdeu as eleições principalmente por conta de seu comportamento na pandemia. O eleitor deu o troco. Então, no Brasil, aqueles que erraram por convicção ou por vaidade vão ter dificuldades de conquistar o voto do eleitor.
A demissão de Ernesto Araújo da pasta das Relações Exteriores mostra uma nova sinalização do governo?
Não é possível que as pessoas não entendam que estamos num mundo globalizado. Onde as nações dependem cada vez mais umas das outras. A postura em relação às políticas dos ministérios estava tão equivocada que a primeira trombada foi na questão da vacina. E o chanceler Ernesto, falo de uma maneira respeitosa, estava na contramão. Entendo que sua substituição era mais do que necessária para que a gente possa restabelecer as corretas relações que precisamos ter com os países.
Uma candidatura forte de centro em 2022 é mais difícil com Lula elegível?
Hoje há números expressivos de uma pré-candidatura do Lula ou do Bolsonaro, mas têm rejeição alta. Entendo que existe espaço para uma candidatura de centro. Mas acredito que ainda não haja esse nome. Nós temos muito tempo ainda.
O PSD apoiou o governista Arthur Lira (PP-AL) na Câmara, mas se posiciona como independente. Como se equilibrar nisso?
São coisas diferentes. A relação com outros partidos dentro do Congresso não é a mesma lógica da relação do partido com o Executivo. O PSD é independente, dá aos parlamentares a independência para se posicionar em relação aos temas que estão apresentados.
Parlamentares do partido tem indicados no governo. Não é contraditório?
Todos os partidos, por conta da história de seus parlamentares, tem participação com indicações. O MDB parece que tem muitos cargos no governo, o DEM tem muitos cargos, o PSDB tem alguns cargos, o PL, o PP. Tem uma lógica. Os cargos existem, precisa ter governabilidade.
O PSD descarta fazer parte de uma coligação com Bolsonaro em 2022?
A palavra “descartar” não é adequada para não ser agressivo. O PSD vai ter candidatura própria. Eu acho um absurdo partidos não darem prioridade sempre à candidatura própria. Não tem sentido você existir para permanentemente fazer aliança. Para quê existir o partido, se você a todo momento vai se aliar a outro?
Quais nomes o partido tem para disputar a Presidência?
Nós tomamos uma decisão de só discutir essa questão a partir de janeiro de 2022. Mas no plano pessoal eu vejo bons quadros do partido. Citaria o governador Ratinho Júnior, do Paraná, o prefeito Alexandre Kalil, de Belo Horizonte, o senador Antonio Anastasia, de Minas Gerais, o senador Otto Alencar, da Bahia, o deputado federal André de Paula (de Pernambuco), (e) o deputado federal do Mato Grosso do Sul, Fábio Trad.
Vale a pena lançar um nome que não tenha viabilidade eleitoral?
Para ser sincero, essa união de partidos, lógico que é boa, mas geralmente não dá certo. É evidente que ninguém descarta poder estar todo mundo junto, mas cada partido vai ver aquilo que considera melhor para o Brasil.
O que o senhor acha do possível retorno das coligações proporcionais?
É impossível o Brasil ter governabilidade com um número tão grande de partidos como tem hoje. A reforma aprovada em 2017 é mais do que adequada para o país, com a proibição das coligações proporcionais.
Há de novo a proposta do “distritão” na Câmara, com a eleição dos mais votados, sem proporcionalidade. Qual é a sua visão?
É um absurdo, seria levar o país à ingovernabilidade, cada representante com compromissos apenas com uma instituição, sem compromissos partidários. Estou entre os que combatem o distritão e defendem o sistema proporcional.
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