Por que cresce o ódio racial da elite branca
Apesar das negativas da grande imprensa, é inegável que nos últimos anos o Brasil começou a operar uma forte distribuição de renda de um grupo étnico minoritário e privilegiado para outro amplamente majoritário e eternamente prejudicado na divisão da riqueza.
Por estar a serviço do setor privilegiado – pois, em última instância, pertence a ele –, a mídia corporativa meramente canaliza um sentimento de “revolta” de classe e racial desses setores da sociedade que, até há pouco, vinham ganhando a luta de classes – que alguns tentam apresentar como anomalia ou desejo de grupos políticos, mas que, em um país tão injusto, é mera conseqüência de sua realidade social.
Estudo recente, pois, explica o ódio da elite branca contra um governo que desencadeou esse necessário processo redistribuidor de renda em prol da maioria étnica brasileira que sempre ostentou condições de vida infinitamente piores do que as de uma casta branca e descendente de europeus.
Data Popular é uma instituição que, segundo diz sua mensagem institucional, dedica-se a produzir “Conhecimento de qualidade sobre o mercado popular no Brasil”. Ao entrar no site, a mensagem institucional inicial esclarece a que ele se dedica:
Bem-vindo ao mundo do carnê, do consórcio, do SPC.
Bem-vindo ao mundo do metrô, do buzão, da lotação, da CBTU, do seminovo zerado.
Bem-vindo ao mundo do vale-refeição, do PF e da marmita.
Bem-vindo ao mundo do supletivo, da escola de cabeleireiro e do curso de computação.
Bem-vindo ao mundo do celular pré-pago, da megasena.
Bem-vindo ao mundo do trabalho informal, da pensão do INSS, do despertador pras 5,
da mobilidade social.
Bem-vindo ao mundo do Ratinho, Raul Gil, Bruno & Marrone, Banda Calypso, Calcinha Preta, MC Leozinho e da Rádio Tupi.
Bem-vindo ao mundo do supermercado com a família, da cervejinha gelada, da macarronada com frango, do financiamento da Caixa.
Bem-vindo ao mundo surpreendente da economia da base da pirâmide.
O trabalho mais recente do Data Popular, concluído nesta semana, busca prover com dados científicos o crescente interesse de grandes empresas por esse segmento em ascensão social, segmento no qual os negros sobressaem.
A renda da população negra no país atingiu R$ 544 bilhões. Segundo estudos recentes, desde 2007 a renda média per capita do negro cresceu 38% – o dobro da renda média do branco, que teve alta de 19% no mesmo período.
A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), feita pelo IBGE, deixa ver claramente como durante o governo Lula essa parcela amplamente majoritária – e “afrodescendente” – da população brasileira começou a ser resgatada da injustiça social em que foi mantida durante o século XX.
Segundo Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto de pesquisa Data Popular, o “enriquecimento” dos negros é resultado do aumento da renda da população da base da pirâmide de renda do país: “tem mais negros nas classes C e D, que teve aumento maior de renda que nas classes A e B [no período analisado]”.
Esse estudo não precisaria ter sido feito para que os beneficiados pelo processo redistribuidor de renda percebessem-no. Quem está comprando mais bens de consumo durável, vestuário, alimentos, ou que está chegando a universidades na condição de primeiro universitário da família, bem sabe o que lhe está acontecendo – e inclusive votou para manter esse processo.
Além de subsidiar empresas interessadas no mercado de consumo de massas que o governo do PT fez surgir, o estudo serve para finalmente calar os que tentam atribuir tal processo a governos que trataram de impedi-lo ou àqueles que tentam negar que tal processo esteja ocorrendo.