Bolsonaro parou de falar de Nióbio após descobrir os fatos
Foto: Divulgação/Exército
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) inaugurará nesta quinta-feira (27) uma ponte vizinha ao maior depósito mundial de nióbio. Bastante citado por ele antes e durante a campanha eleitoral de 2018, o minério acabou esquecido durante o seu governo.
Distante 85 km de São Gabriel da Cachoeira (AM) pela BR-307, a ponte sobre o igarapé Ya-Mirim está a apenas 2 km do Morro de Seis Lagos, o maior depósito mundial de nióbio, com estimados 2,9 bilhões de toneladas.
O motivo é que não há interesse das mineradoras em abrir novas operações de nióbio. Com a demanda atual do minério, as jazidas em exploração têm capacidade para abastecer o planeta por várias décadas.
O Brasil já é o principal produtor mundial, com 88% do total, segundo o Serviço Geológico dos EUA. A maior parte vem da CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração), localizada em Araxá (MG).
Em 2016, quando já estava em campanha presidencial, Bolsonaro gravou um vídeo na CBMM onde dizia que o nióbio poderia dar “independência econômica” ao país.
Na Presidência, porém, o nióbio só ganhou menções breves. A mais famosa ocorreu durante uma visita ao Japão, em junho de 2019. Durante a sua live semanal no Facebook, Bolsonaro exibiu uma bijuteria com nióbio comprada no país asiática e disse que valia R$ 4.000.
O nióbio serve principalmente como elemento de liga nos aços de alta resistência e baixa liga, usados na fabricação de automóveis, e na construção civil, como pontes e edifícios. É encontrado também nas superligas, que operam em altas temperaturas, e em turbinas de aeronaves a jato.
Além da falta de mercado, a exploração de nióbio em São Gabriel exigiria uma ampla mudança na legislação. A jazida local está incluída em três áreas protegidas e sobrepostas: a Terra Indígena Balaio, o Parque Nacional Serra da Neblina e a Reserva Biológica Morro dos Seis Lagos, do governo estadual do Amazonas. Nenhuma dessas categorias permite a atividade.
No lugar do nióbio, tudo indica que a agenda de Bolsonaro incluirá a regularização da mineração ilegal em terras indígenas, que sofrem com a presença de milhares de garimpeiros, com a destruição de margens de rios, a contaminação por mercúrio e a entrada de bebidas alcoólicas e prostituição.
Depois de inaugurar a ponte, o presidente deve ir à comunidade yanomami Maturacá, a algumas dezenas de quilômetros de distância. A Terra Indígena Yanomami é uma das que mais sofrem com mineração ilegal.
Em uma live no dia 29 de abril, Bolsonaro disse que planeja visitar um pelotão de fronteira do Exército (PEF), “conversar com indígenas” e “aterrisar” em um garimpo ilegal, ao voltar a defender a regularização da atividade.
Maturacá é a sede do 5ª PEF. Nas últimas semanas, os militares informaram à comunidade da visita de Bolsonaro, que deve acontecer sem a imprensa.
Em reação à visita, lideranças locais publicaram uma carta de repúdio à presença de Bolsonaro. Para eles, a visita é para “tratar e tentar acordar conosco a legalização de mineração no território yanomami, portanto, essa não é a nossa ansiedade yanomami”.
“Ao contrário disso, exigimos que o governo deve implementar ações de fiscalização de forma contínua nos entornos e limites dos territórios indígenas já demarcados”, diz o documento.