Esquerdista aumenta vantagem de novo em eleição no Peru

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Foto: ERNESTO BENAVIDES / AFP

Dois dias depois do segundo turno da eleição presidencial no Peru, a contagem dos votos mostra que o candidato da esquerda radical Pedro Castillo mantém a vantagem em relação a Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori (1990-2000), mas analistas afirmam que ainda é cedo para cravar um resultado.

Com 96,47% das atas contabilizadas, Castillo tem 50,24% dos votos válidos, 8.644.013 em números absolutos, e Keiko tem 49,76%, ou 8.560.013 votos. A diferença em favor do sindicalista, que na segunda-feira chegou a ser de mais de 95 mil votos, caiu na manhã desta terça-feira para 70 mil, à medida que foram contados mais votos depositados no exterior — urnas em que Keiko lidera por ampla margem —, mas voltou a aumentar para 84 mil votos sufrágios.

Na noite de segunda-feira, dia em que Castillo passou a liderar a apuração, o grupo político de Keiko alegou, sem provas, que era vítima de uma “fraude planejada e sistemática”. Observadores internacionais, no entanto, dizem não ter observado sinais de fraude, e um representante do Parlamento do Mercosul (Parlasul), o uruguaio Nicolás Viera, declarou que a candidata não mencionou o tema em conversas no domingo. Por sua vez, Castillo pediu que “todos permaneçam atentos para defender a democracia”, e afirmou que o Escritório Nacional de Processos Eleitorais (Onpe, em espanhol) deve “cuidar da correta proteção dos dados dos votos ao processá-los e publicá-los”.

As chamadas “atas contestadas” foram enviadas para análise posterior — até o momento são 1.385 — por conta de alegadas irregularidades, como dados ilegíveis, rasuras e dúvidas sobre assinaturas. Uma primeira análise é feita por juizados eleitorais especiais, com uma decisão final, se necessária, tomada pelo Júri Eleitoral Nacional.

Nesta terça-feira, o presidente dessa corte, Jorge Luis Salas Arenas, afirmou que as revisões serão transmitidas ao vivo, para garantir um processo “independente e imparcial”. Ele ainda rejeitou as acusações de fraude, dizendo ser “muito perigoso para o país” pôr em xeque toda uma eleição por conta de alguns incidentes.

Segundo especialistas, o número de pedidos de revisão não é muito diferente do registrado em votações anteriores, mas Keiko alega que a contestação, ocorrida especialmente em áreas onde obteve grande votação, é uma estratégia do grupo de Castillo para “distorcer ou atrasar” os resultados oficiais. Estimativas afirmam que, potencialmente, cerca de 300 mil votos estão em análise, incluindo nulos e em branco.

Outro fator que pode ser decisivo é o total de votos do exterior, onde Keiko Fujimori teve o apoio da maior parte dos peruanos que votaram. Segundo o Onpe, ela recebeu até o momento 66,19% dos votos depositados fora do país, enquanto Castillo recebeu 33,81%. O comparecimento ficou em torno de 35% dos cerca de 950 mil eleitores potenciais — o voto não é obrigatório a cidadãos peruanos com residência em outros países. A expectativa é de que 400 mil pessoas tenham votado no exterior.

Na maior parte das representações diplomáticas, em especial as menores, os votos foram computados localmente e os resultados enviados digitalmente para o Onpe. É o caso, por exemplo, da Rússia, onde 145 eleitores votaram e a maioria deu a vitória a Castillo, ou Israel, com 297 votos e ampla vantagem de Keiko. Mas, em locais com maior número de eleitores cadastrados, o processo demanda o transporte físico das atas até o Peru, o que atrasa o início da contagem — e este é um ponto que pode decidir uma eleição apertada.

No caso da Espanha, apenas 3% das atas foram contabilizadas, enquanto na França a contagem ainda não começou. Nos EUA, maior colégio eleitoral no exterior, com quase 200 mil pessoas aptas a votar, a apuração está mais avançada, com 64% de atas contabilizadas. No Brasil, o total contabilizado é de 88,13%, e Keiko lidera com vantagem de cerca de seis pontos percentuais.

Por outro lado, os votos remanescentes no Peru podem dar a Castillo a vantagem necessária para chegar à Presidência. Segundo o Onpe, as primeiras atas recebidas chegam de áreas urbanas, o que ajuda a explicar a vantagem de Keiko nas primeiras horas de apuração. Depois, chegam os votos de áreas rurais e da Amazônia, algumas dependendo de longas viagens de barco e avião. Aí estão incluídas regiões como o Vale dos rios Apurímac, Ene e Mantaro (Vraem), onde se espera maioria para Castillo.

No primeiro turno, em abril, foram necessários cinco dias até que a contagem dos votos fosse finalizada e os resultados fossem anunciados.

“No momento, a contagem favorece Castillo, com os mercados já assumindo que ele vencerá por margem estreita”, afirmou, em comunicado, Siobhan Morden, da empresa de análise de risco Amherst Pierpont. Mesmo assim, ele deixou claro que as coisas sempre podem mudar, e que uma eleição “não termina antes que chegue ao final”.

O Globo