Bolsonarista critica excesso de militares no governo
Foto: Hugo Barreto/Metrópoles
Coronel da reserva da Polícia Militar do Distrito Federal e amigo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) há 40 anos, o ex-deputado federal e presidente do DEM no DF, Alberto Fraga, fez duras críticas à presença de militares em altos cargos do governo federal que demandam articulação política.
“[Bolsonaro] cometeu alguns erros que, na política, são inadmissíveis. Quem tem que fazer política são os políticos. Colocar militares para fazer política não dá certo. A coisa fica muito pesada”, disse Fraga em entrevista ao Metrópoles (confira a partir de 7’30”).
Para o ex-deputado, que esteve na Câmara por quatro mandatos, a quantidade de emendas distribuídas aos parlamentares é uma demonstração de que não adianta escalar militares sem experiência para as relações com Legislativo: “Alguém que não tinha relacionamento com o Congresso resolveu fazer essa negociação e, para se cacifar, teve de pagar a peso de ouro”.
Esta é a primeira vez que Fraga fala publicamente sobre sua relação com Bolsonaro, após ter se afastado do presidente, e se pronuncia depois da morte de sua esposa, Mirta Fraga, aos 56 anos, em decorrência da Covid-19.
Personagem polêmico por dizer o que pensa sem meias palavras, Fraga surgiu por diversas vezes como candidato a ocupar posição estratégica no governo. A nomeação nunca ocorreu e Fraga diz não saber o motivo. “Mágoa? Não. Quem pode responder, realmente, o porquê ele nunca me fez ministro é o próprio presidente. Eu não sei até hoje. Acho que deve ter alguém dentro do convívio do presidente que sempre me vetou”, afirmou (11′).
Ele conheceu Bolsonaro em 1981, no Exército, muito antes de os dois iniciarem a carreira política. Mas a dupla que dividiu opiniões e palanques por anos viu a relação esfriar recentemente.
Fraga teve Covid-19 e ficou internado. Mas o grande baque na vida do coronel da PMDF aposentado veio depois: em maio deste ano, a esposa dele faleceu por complicações provocadas pela doença, após 71 dias no hospital. “A minha esposa contava os dias para ser vacinada e, com 56 anos, acabou morrendo prematuramente. O vírus, para ela, foi muito cruel”, lamentou (15′).
Fraga disse que é exagero imputar a morte da esposa ao amigo Bolsonaro, que tem posicionamento negacionista em relação à Covid, mas admite que ela poderia ter sobrevivido se tivesse sido vacinada, assim como milhares de outros brasileiros.
Fraga contou que costumava trocar mensagens com Bolsonaro de madrugada, pois o presidente acorda cedo. Porém, o ex-deputado se afastou há alguns meses e a rotina de conversas não é mais a mesma: “A situação da minha esposa foi se agravando e eu não tinha mais condições de ficar falando de política. Eu me afastei não foi só do presidente Bolsonaro, mas de todos os amigos, porque o assunto é muito dolorido”.
“Não houve rompimento, uma briga. Eu, pelo menos, continuo tendo apreço e amizade dele. Tem algumas perguntas que quem tem que responder é o Bolsonaro. Mas, como eu sei que ele não gosta de responder determinadas coisas, fica ao arbítrio de cada um”, afirmou (14′).
Uma prova de que a relação não morreu é que Fraga ainda mantém fotos ao lado de Bolsonaro e do filho do presidente e deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), em seu escritório na sede do Diretório Regional do Democratas, em Brasília.
Distante do presidente Bolsonaro e retomando a vida pública após o luto, Fraga se posiciona de forma mais crítica contra ações do governo federal que julga incorretas, mas ainda se mostra alinhado com pautas defendidas pelo chefe do Executivo e não vê motivos para impeachment.
Presidente do DEM-DF, Fraga questionou as denúncias apresentadas pelo deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19. “A gente está percebendo que a história não está batendo”, disse. Para Fraga, está mais para denunciação caluniosa do que para fato verdadeiro: “Se o deputado cometeu qualquer tipo de crime, eu não terei nenhuma dúvida ao pedir a expulsão dele do partido” (0’50”).
Fraga cobrou a apuração do áudio atribuído a Miranda apresentado pelo policial militar Luiz Paulo Domingueti durante sessão da CPI da Covid-19. “Ele disse que era sobre a negociação de luvas. Mas um deputado federal pode fazer negociação de compra e venda de luvas? Deputado não é para fazer isso não. De certa forma, aquele áudio que foi ignorado estava mostrando que ele praticou uma ilegalidade na vida parlamentar”, afirmou.
“Já teve gente que insinuou que ele fez a denúncia porque foi escanteado de uma negociação. Eu não sei. Não quero acusar ninguém. A princípio, o deputado Luis Miranda continua no DEM porque não ficou caracterizado nenhum crime. Sendo assim, eu não posso me precipitar e fazer qualquer pedido de expulsão”, disse.
Fraga também fez críticas aos integrantes da CPI. “Infelizmente, está sendo muito parcial. O comportamento do relator e do presidente é uma coisa totalmente focada em achar algum erro para poder incriminar o governo federal. Eu não quero fazer defesa de governo nenhum, mas que o fato realmente precisa ser melhor apurado, eu não tenho dúvida nenhuma”, afirmou.
Em 2018, Fraga disputou o Governo do Distrito Federal. Apesar de ter aparecido como um dos favoritos nas pesquisas de intenção de voto, o coronel da reserva teve apenas 5% dos votos e amargou a sexta colocação no primeiro turno da disputa. O ex-deputado federal atribui o desempenho pífio às condenações feitas na época da campanha, que foram revertidas por decisão colegiada meses depois.
Ao Metrópoles, o político revelou disposição para concorrer ao posto novamente, mas afirmou que abriria mão da candidatura para compor com aliados. “Eu estou conversando com um grupo político e a gente não tem uma posição definida, ainda, de quem será o candidato”, afirmou (29’50”).
Fraga disse que o grupo reúne Eliana Pedrosa (Pros), que também concorreu para o governo do DF, em 2018, e Alírio Neto (PTB). De acordo com ele, também participam das tratativas representantes do PSL, PTC e Patriotas.
Sobre as eleições presidenciais, Fraga afirmou considerar o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, como bons nomes para a disputa. No entanto, demonstrou mais entusiasmo com uma possível candidatura do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, ao Palácio do Planalto. Todos eles são do Democratas.
Durante a entrevista, Fraga disse desconfiar do sistema eleitoral brasileiro e defendeu a adoção do chamado voto impresso. O coronel da reserva comentou também a recente crise entre integrantes das Forças Armadas e representantes do Congresso Nacional.
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