Bolsonaro cancela discurso em evento militar
Foto: Evaristo Sa/AFP
Em meio à crise institucional e ameaças veladas de rompimento, o presidente Jair Bolsonaro acompanhou ontem uma cerimônia em alusão ao Dia do Soldado, em Brasília, mas de última hora decidiu não discursar. Coube ao comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, levar mensagem à tropa, garantindo alinhamento aos anseios dos brasileiros por “tranquilidade, estabilidade e desenvolvimento”.
O protocolo previa a fala de Bolsonaro, assim como ocorreu na edição de 2019, mas os militares foram avisados já durante o evento que o presidente não falaria. O motivo não foi esclarecido.
Diante do envolvimento direto do presidente na convocação de manifestações para as comemorações do dia 7 de setembro, nos últimos dias auxiliares têm recomendado que os ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) sejam reduzidos, como forma de distensionar o clima.
Ao lado do presidente e do ministro da Defesa, Braga Netto, que tem dado demonstrações públicas de alinhamento político com o governo, o comandante do Exército mediu as palavras para colocar a tropa como exemplo de busca pela pacificação.
“O momento desta justa homenagem aos soldados, que muito contribuíram e contribuem para a unidade e a grandeza do Brasil, nos motiva a reafirmar o compromisso com os valores mais nobres da pátria e com a sociedade brasileira em seus anseios de tranquilidade, estabilidade e desenvolvimento”, afirmou Nogueira.
Sem fazer menção à controversa interpretação de que as Forças Armadas são o “poder moderador” da República, como defende Bolsonaro, o comandante do Exército acrescentou: “Sob a autoridade do presidente da República, comandante supremo das Forças Armadas, e integrado à direção superior do ministro da Defesa, o Exército Brasileiro não para em circunstância alguma e, irmanado com a Marinha do Brasil e a Força Aérea Brasileira, mantém-se sempre pronto a cumprir a sua missão, delegada pelos brasileiros na Carta Magna. A defesa da pátria e a garantia dos Poderes constitucionais, da lei e da ordem são, portanto, o farol que orienta o contínuo preparo e o emprego da Força Terrestre”.
O discurso enalteceu a atuação pacificadora do patrono do Exército, Duque de Caxias, “marcada pela conciliação, pela superação de posições antagônicas, e, sobretudo, pela prevalência da legalidade, da justiça e do respeito a todos”.
“Mantenhamos, sempre, a fé inabalável na missão do Exército Brasileiro e a crença nos princípios da nossa nacionalidade”, emendou. “Sejamos, junto aos irmãos brasileiros, inspiradores de paz, união, liberdade, democracia, justiça, ordem e progresso – que o nosso Povo tanto almeja e merece – dedicando-nos, inteiramente, à defesa da soberania nacional e ao bem do nosso amado país”.
A cerimônia durou aproximadamente duas horas e foi acompanhada por outros integrantes do governo, como o ministro da Economia, Paulo Guedes, o da Saúde, Marcelo Queiroga, e o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, condecorados por “serviços prestados ao Exército”.
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