Bolsonaro segue combatendo vacinas
Foto: ALAN SANTOS/PR
O presidente Jair Bolsonaro e seus ministros têm aumentado nos últimos dias o tom crítico às vacinas e a exaltação da imunidade de quem, como ele, já contraiu a doença. O comportamento se exacerbou depois da confirmação de que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, testou positivo para a covid-19 em Nova York.
À frente das câmeras, apenas Bolsonaro tem tido uma postura mais incisiva. Mas, em conversas nos bastidores, os auxiliares reforçam o discurso do presidente.
Exceção ao comportamento discreto é o ministro do Turismo, Gilson Machado, que em entrevista à “Veja” na semana passada criticou fabricantes de vacinas: “Quem deveria pagar as diárias de Queiroga em Nova York, o governo federal ou o fabricante das vacinas e da máscara?” A Coronavac, imunizante usado pelo ministro, assim como todas as vacinas usadas no mundo, receberam autorização para uso sem terem 100% de eficácia.
As críticas ao imunizante do Butantan, trunfo político do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), também correm nos bastidores. Ao comentar a infecção de Queiroga, uma autoridade disse ao Valor: “Mais um da Coronavac.
” Na quinta-feira, o presidente fez sua “live” semanal mais antivacina. Ele ainda estava de quarentena por ter tido contato com Queiroga. E ironizou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que recomendou a medida. “Eu até questionei o pessoal da Anvisa, da Saúde também: ‘até quem está vacinado tem que ficar de quarentena? Ué, vocês não acreditam na ciência, não acreditam na vacina?’”, afirmou. A quarentena é recomendada para todos que tiveram contato com pessoas infectadas pelo vírus e que ainda não tenham feito teste para detecção do vírus.
Na transmissão, Bolsonaro ainda se disse contra vacinar menores de 12 a 17 anos e criticou jovens por postarem fotografias junto com o cartão de vacinação. A imunização de adolescentes está sendo feita em todo mundo e foi autorizada no Brasil pela Anvisa.
E, quando o teste do presidente deu negativo para a covid-19, essa mesma fonte exaltou que “o IgG dele [Bolsonaro] está lá em cima”. gG (Imunoglobulina G) são anticorpos que o corpo produz em contato com organismos invasores, como o coronavírus. O IgG permanece no sangue, em geral protegendo contra futuras infecções pelo mesmo vírus. A produção também é induzida pela vacina.
Bolsonaro vem insistindo em dizer que seu IgG está elevado, o que significa que está “imunizado” mesmo sem ter tomado a vacina.
Uma fonte do segundo escalão do governo, que contraiu a forma grave da doença, reforçou essa tese ontem ao conversar com Valor. E disse acreditar ainda que as restrições cairão à medida em que a população se infecte. Questionado sobre se isso não reforça a tese de “imunidade de rebanho”, afirmou que a expressão foi “demonizada”.
Julio Croda, infectologista da Fiocruz, afirma que quem já se infectou, sobretudo nas formas mais graves da doença, tende de fato a ter uma proteção mais elevada. Porém, alerta que a vacina aumenta a resposta imune de quem já foi contaminado. “Ainda não se sabe quanto tempo uma pessoa que contraiu o vírus ficará imune. Essa resposta a gente não tem”, disse. “É por isso que é importante a pessoa se vacinar. Porque garante mais proteção. E é importante adotar medidas preventivas.”
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