PT quer identificar militantes que protestaram contra Ciro
Foto: Reprodução/ Internet
Uma tentativa de agressão ao presidenciável Ciro Gomes (PDT), bandeira rasgada por black blocs e vaias durante o ato contra Jair Bolsonaro (sem partido) no sábado (2), na avenida Paulista, em São Paulo, colocam em xeque a união do protesto que reivindica o impeachment do presidente.
Ontem, o próprio Ciro se manifestou sobre o episódio com um pedido de “trégua” entre os partidos. Mas os desentendimentos ocorridos no ato já provocam tensões e desdobramentos. Uma nota de repúdio foi assinada por siglas e entidades que participaram da manifestação, cobrando identificação e responsabilização dos envolvidos nos ataques.
O texto se refere ao ataque a Ciro como “emboscada” feita por “militantes com as camisas do PT e da CUT (Central Única dos Trabalhadores)”. E questiona a versão de que se trata de episódio isolado.
“Ocorreram ameaças, intimidação e xingamentos por parte de militantes do PCO [com] vaias e xingamentos inaceitáveis em um ato democrático”, disse o manifesto assinado por PSDB, PDT e PSB de São Paulo e por representantes de movimentos.
“Exigimos que os responsáveis sejam identificados e responsabilizados. Também cobramos o PT e a CUT para que tomem as providências cabíveis para que fatos como esses não voltem a se repetir”, disse o texto. “Em relação ao PCO, fica o nosso repúdio à organização e sua direção. E cobramos que a organização dos atos tome atitudes rígidas já que o grupo é reincidente e insiste em atacar a democracia.”
O PT não se manifestou diretamente sobre a nota. Ao UOL, a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, disse que o ataque a Ciro foi “lamentável”. O presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo, disse que “manifestações de violência contra os participantes não são a orientação da coordenação do ‘Fora, Bolsonaro'”.
Coordenador nacional da CMP (Central de Movimentos Populares) e um dos coordenadores da campanha “Fora, Bolsonaro”, Raimundo Bomfim disse que os organizadores dos protestos repudiam qualquer tipo de violência e agressão, mas fez um alerta para o destaque a atos isolados.
Para evitar problemas com black blocs, por exemplo, os protestos deixaram de ser passeatas e ficaram parados.
“O fato de a gente não ter caminhado foi uma medida, sim, para evitar esse tipo de questões com os black blocs”, disse Bomfim. “Infelizmente, ocorreu esse ato isolado”, comentou, em referência à ação contra uma bandeira ligada ao movimento Juventude Pátria Livre, do PCdoB, e à Umes (União Municipal dos Estudantes Secundaristas).
Keila Pereira, secretária de comunicação do Juventude Pátria Livre, criticou os incidentes. “Aqueles que falaram de união de modo mais amplo foram vaiados. Parece ter sido o movimento de um radicalismo meio inconsequente mesmo, que não prioriza a luta contra o Bolsonaro”, analisou.
O episódio também trouxe à tona desentendimentos recentes entre siglas rivais, como a briga entre militantes do PCO e do PSDB na manifestação de julho.
Membro da Executiva Nacional do PCO, Antonio Carlos questionou a nota de repúdio ao ataque a Ciro Gomes e às vaias. E se referiu aos rivais políticos como “impostores” —no ato, ele chamou Ciro de “canalha” em um caminhão de som como resposta pelo pedetista ter feito a mesma ofensa contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“São legendas e setores que não impulsionaram as primeiras manifestações. São impostores, que agora querem tomar conta da mobilização. O ato é da esquerda. O PSDB está no lugar errado. Quantas pessoas o PSDB leva para a rua? Leva só um cara para fazer discurso no carro de som, mas não tem militante”, atacou.
Ele se referia a Fernando Alfredo, presidente do diretório municipal dos tucanos em São Paulo. Procurado pelo UOL, ele não quis comentar as declarações do PCO. Sobre as vaias enquanto discursava, se limitou a dizer que “foi um ato isolado”.
Carlos disse que o PCO não acredita na unidade buscada pela campanha “Fora, Bolsonaro”. “O que existe aí é um oportunismo de alguns setores.” Nisso, ele incluiu Ciro, que estaria a serviço da “direita”, sendo um “infiltrado” na campanha porque críticas a Bolsonaro “dão voto”.
“Ele é um estelionatário [por participar do ato]. Ele acha que o Lula é um canalha, quando a maioria do ato apoia o Lula. A maioria do ato vem defendendo as reivindicações dos trabalhadores, e tem partido lá [no ato] que está voltando contra”, comentou o membro do PCO. O PSDB que está no lugar errado. Não somos nós. Nós estamos no lugar certo, em que sempre estivemos.”
Bomfim rechaçou a conduta do PCO e disse acreditar, sim, em união. “Quando a gente fez esses contatos com outros segmentos foi porque acreditamos que é possível ter uma unidade. Se não fosse possível, não teríamos aceitado o Ciro.” Carlos, porém, discordou e disse que, quando “algumas organizações importantes” buscam “uma política de ampliação”, elas acabam não consultando as bases. “Duvido que trazer Ciro Gomes seja aprovado por militantes do PT.”
O que o PCO faz é dar voz consciente organizada a um sentimento que é muito amplo. Um cara que chama o Lula de canalha não vai se dar bem num ato de esquerda. Se a gente não gritasse, as pedras gritariam
Antonio Carlos, membro da Executiva Nacional do PCO
Bomfim porém, diz que o objetivo dos atos visa a eleição, mas “criar condições” para afastar Bolsonaro. “Eu, da minha parte, acho muito complicado quem não concorda com o ato ir no ato. Quem não concorda não deve ir, e faça seus atos”, disse o coordenador, indicando que o tema deverá ser debatido com outros organizadores da campanha. “Não tem cabimento o que fizeram com o Ciro.”
Carlos disse que o PCO não deixa de integrar os atos porque o partido esteve no início dos movimentos contra Bolsonaro. “Esse pessoal que está entrando agora é de infiltrado.” Segundo ele, o PCO não tem como objetivo “estar bem com os outros partidos, mas estar bem com os trabalhadores.”
“Não existe essa unidade. Essa unidade é da galinha e da raposa. Isso vai ser para a raposa depois devorar a galinha. Nós, enquanto galinhas, achamos, inclusive, melhor protestar hoje”, disse o membro do PCO, fazendo uma referência à Diretas Já, dizendo que não deveria ter sido feita a união de forças naquele momento. “Era melhor ter continuar a luta contra a ditadura e eleger um governo do povo”, comentou, em referência ao governo de José Sarney, que foi aliado da ditadura.
Enquanto o PCO mantém a postura contra a unidade, os organizadores do “Fora, Bolsonaro” dizem que vão continuar em busca de mais adesões. “Vamos continuar a trabalhar para atrair outros setores que também defendem a democracia”, afirmou Izzo.
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