Doria incentivou motoristas a invadirem ciclovias

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O trânsito parou, e o motorista apressado não teve dúvidas, avançou sobre as tartarugas que separam a ciclovia da faixa de rolamento na rua Coronel Lisboa, na Vila Mariana, zona sul de SP.

A manobra rendeu algumas ultrapassagens e quase terminou em tragédia. “Vi o carro vindo e joguei a bicicleta para a calçada”, afirma o arquiteto Fabio Latorre, 34.

“Situações como essa são recorrentes, por isso passei a pedalar na rua, entre os carros, porque deixei de me sentir seguro nas ciclovias”, completa Latorre, que usa a bicicleta como transporte no dia a dia.

Enquanto isso, na cidade de São Paulo, cada vez menos motoristas têm sido multados por desrespeitar as faixas exclusivas aos ciclistas.

Nos três primeiros meses deste ano, agentes da CET autuaram 40% menos motoristas que estacionam ou transitam nas ciclovias, em comparação com o mesmo período no ano passado.

Segundo dados do órgão de trânsito da prefeitura, de janeiro a março 1.045 multas foram aplicadas, contra 1.756 no primeiro trimestre de 2017. A queda é a primeira registrada desde o processo de ampliação da rede cicloviária, iniciada em 2014, sob a gestão Fernando Haddad (PT).

Em setembro e outubro daquele ano, por exemplo, quase triplicou o número de multas aos motoristas que avançaram sobre as vias segregadas. As multas acompanharam o crescimento da malha cicloviária já que, no mesmo período, São Paulo ganhou 65 km de ciclovias. Atualmente, a cidade dispõe de 498,3 km de ciclovias e ciclofaixas.

A expansão das vias segmentadas como política pública de mobilidade teve início em 2012, na gestão Gilberto Kassab (PSD), quando foi entregue a ciclovia da avenida Faria Lima com 6 km. Até então, a expansão mais recente havia sido em 1993, na gestão do prefeito Paulo Maluf (PP), que entregou 29 km, sendo 25 km dentro de parques.

Foi na gestão Haddad que as vias aos ciclistas ganharam atenção. Em quatro anos, São Paulo passou de 63 km para 498,4 km de ciclovias —muitas delas abertas às pressas e sem conexão com outras.

Pela quantidade, as faixas pintadas de tinta vermelha logo ganharam peso político e passaram a ser alvo de resistência de eleitores contrários ao partido do ex-prefeito.

O tema foi abordado com frequência na campanha de João Doria (PSDB) à prefeitura para criticar os altos gastos feitos pelo petista para ampliar a malha. Dias após ser eleito, o tucano enfrentou seu primeiro protesto, formado por ciclistas, na porta de sua casa. Dias depois, reagiu ao receber de um ciclista um maço de flores em “homenagem” aos mortos nas marginais. Doria jogou as flores no chão.

Mais uma vez, em novembro do ano passado, a gestão Doria inverteu a prioridade dada às ciclovias pelo antecessor ao sancionar lei municipal que impôs regras para a criação de novas ciclovias. Segundo o texto, as implantações devem sempre ser precedidas de estudo de demanda. A medida foi criticada por dificultar novas rotas.

 

Com informações da Folha de S. Paulo.