Alcolumbre diz que pressão por Mendonça não funcionará
Foto: Roque de Sá/Agência Senado
Pressionado pelo governo e por parte dos senadores a pautar a indicação de André Mendonça a ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), teve um tenso encontro privado com o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ).
Os dois almoçaram juntos na segunda-feira, na mansão do filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro em Brasília. Uma tentativa de reaproximação de Bolsonaro e Alcolumbre, mediada por Flávio, pode ocorrer hoje, ou mais tardar até o fim da semana.
Conforme apurou o Valor, Alcolumbre, hoje no comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), responsável por marcar a sabatina de indicados, cobrou o governo por abandoná-lo no cumprimento de promessas para a eleição de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), seu sucessor na presidência do Senado. Ele lembrou ter sido um aliado do bolsonarismo nos dois anos em que comandou o Legislativo – inclusive segurando possíveis ações contra o próprio Flávio no Conselho de Ética do Senado, por conta das investigações do caso das rachadinhas.
Alcolumbre acusou ainda o governo de usar seu “gabinete do ódio” para coordenar ataques digitais a ele e sua família, inclusive de cunho religioso. Alcolumbre é judeu. Flávio tentou apaziguar a situação, reconhecendo Alcolumbre como um aliado e prometendo agendar uma conversa entre ele e Bolsonaro o quanto antes.
“Quer dizer que eu não ajudei?”, questionou Alcolumbre em certo momento. O senador então leu a Flávio as declarações de Bolsonaro, dadas na segunda-feira, em que insinuava que ele estava segurando Mendonça para que outro nome fosse indicado. “Não é justo e não é correto”, indignou-se.
Alcolumbre alega que, quando da eleição de Pacheco, firmou com aval do Palácio do Planalto uma série de compromissos políticos com senadores para garantir a vitória do aliado – como destinação de verbas de emendas, por exemplo. E que foi abandonado pelo governo sem concluir o que havia sido acertado.
Já os interlocutores de Bolsonaro dizem que Alcolumbre não soube segurar Pacheco, que tem passado longe da postura governista esperada. Mais que isso, o senador mineiro impôs várias derrotas ao governo em projetos importantes e passou a ser cotado como possível presidenciável, contra Bolsonaro, em 2022.
Flávio lembrou que o pai e o senador pessoalmente se dão bem e prometeu trabalhar pela reaproximação. Mesmo assim, Alcolumbre não deu nenhuma sinalização de que dará seguimento ao processo de Mendonça.
Em nota, Alcolumbre alegou estar sendo vítima de “agressões de toda ordem”. E avisou: “Não aceitarei ser ameaçado, intimidado, perseguido ou chantageado com o aval ou a participação de quem quer que seja”.
O ex-presidente do Senado relatou, sem apontar nomes de envolvidos, que as tentativas de intimidação chegaram até o seu círculo íntimo. “Agridem minha religião, acusam-me de intolerância religiosa, atacam minha família, acusam-me de interesses pessoais fantasiosos. Querem transformar a legítima autonomia do presidente da CCJ em ato político e guerra religiosa.”
Sobre a demora em dar seguimento à indicação, Alcolumbre apontou outras prioridades do parlamento. “Tramitam hoje pela CCJ cerca de 1.748 matérias, todas de enorme relevância para a sociedade brasileira. A prioridade do Poder Legislativo, no momento, deve ser a retomada do crescimento, a geração de empregos e o encontro de soluções para a alta dos preços que corroem o rendimento dos brasileiros.”
Pacheco tem procurado se esquivar da briga, mas afirmou ontem que a indicação de Mendonça não pode ser tratada como questão “principal ou única do país, porque ela não é”.
Em entrevista ao programa “CNN Rádio”, Pacheco pontuou que o nome deve ser apreciado assim como outros pendentes: para postos em embaixadas brasileiras e no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
“A indicação tem que ser apreciada, falei com Alcolumbre que é importante um esforço concentrado para esta e outras indicações”. Pacheco rechaçou ainda uma ação de outros senadores para paralisar a pauta da Casa até que a indicação seja votada. “Temos outros temas tão ou mais relevantes que não podem sofrer paralisação como retaliação a um atraso na CCJ”, disse, listando o fim do auxílio emergencial, a alta nos combustíveis e as reformas na lista de prioridades.
No plenário, o presidente do Senado voltou a ser cobrado. O senador Esperidião Amin (PP-SC) apresentou uma questão de ordem para que a indicação seja apreciada diretamente pelo conjunto de senadores no plenário, e não mais na CCJ. “É um abuso de poder exercer uma presidência de uma comissão e simplesmente transgredir o regimento”, disse. O parlamentar de Santa Catarina recebeu apoio de senadores como Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Alvaro Dias (Podemos-PR), Eduardo Girão (Podemos-CE) e também do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).
No STF, uma ala não esconde o desconforto com a demora para a sabatina. O presidente da Corte, Luiz Fux, tem inclusive suspendido julgamentos que empatam porque o Supremo está com apenas dez ministros. Um ministro, no entanto, aponta que o nome de Mendonça, pouco a pouco, está se tornando inviável. A avaliação é que ele tem pago a conta pelos erros do presidente Jair Bolsonaro. Também afirma que a interferência de líderes evangélicos no assunto, como o pastor Silas Malafaia, tem piorado a situação do ex-AGU.
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