Candidato-banqueiro de Temer diz que “não é” banqueiro
No primeiro vídeo produzido pela campanha de Henrique Meirelles, candidato do MDB à Presidência, o ex-presidente Lula aparece logo de cara fazendo um elogio à competência do chefe do Banco Central nos oito anos do seu governo.
Hoje, Lula e Meirelles são adversários. Meirelles assumiu a Fazenda do governo Michel Temer assim que seu grupo político conseguiu afastar a presidente Dilma Rousseff. Mas a se levar em conta o discurso de Meirelles expresso em entrevista à Folha de SP, a vitrine de sua campanha será sua participação no governo petista.
Folha – A imagem de banqueiro ajuda a ganhar ou a perder votos?
Meirelles – A imagem de banqueiro é uma coisa forçada por alguns da oposição porque na grande maioria da população não existe. Eu fui presidente do Banco Central do Lula por oito anos. Depois disso mais dois anos como ministro da Fazenda. Então o que a população tem de lembrança são os oito anos que eu fiquei no Banco Central, é tudo aquilo que eu gerei de melhora de padrão de vida de cada um. As pessoas falam: eu que na época pude viajar, pude comprar uma televisão, da outra vez que eu comprei um fogão. Foi na época em que eu estava no Banco Central e conduzi a política econômica. Depois disso, como ministro da Fazenda, tirei o Brasil da maior recessão da história.
Desvincular-se da imagem de banqueiro é um desafio? Meu maior desafio não é esse. Meu maior desafio é o nível de desconhecimento. O número de pessoas que conhecem a minha história hoje é mais relevante, mas que conhecem bem é cerca de 10%, já ouviu falar é um pouco mais que o dobro disso.
O senhor está se apresentando ao eleitor como herdeiro do Lula?Não, note bem. Eu apresento o meu trabalho, não o trabalho dele. Uma coisa é o Lula, que fez um trabalho como presidente da República, e não podendo ser candidato, ele diz: este aqui é meu herdeiro, meu candidato. Eu não. Eu apresento o trabalho que eu fiz. Não foi ele que fez, o trabalho é meu. Eu fui o presidente do BC, o condutor de toda política econômica fui eu, não foi ele. Eu não vou sonegar a informação de que ele era o presidente da República.
O senhor separa o governo do presidente Lula do seu trabalho de ministro da Fazenda? Eu não separo nem junto. Eu apresento o meu trabalho. É tão simples quanto isso. Eu fui presidente do Banco Central, fiz esse trabalho e eu apresento o resultado do meu trabalho.
Por que tanta gente fala que o senhor pode desistir? É falta de informação.
Não é por causa das pesquisas que mostram o senhor com apenas 1% das intenções de votos? Qual pesquisa? Todas as pesquisas que eu faço são entusiasmantes. Todas as pesquisas qualitativas que eu faço mostram que uma vez [o eleitor] tendo acesso à minha história, a intenção de voto é altíssima. Agora, o eleitor precisa ter essa informação. A maioria não tem. A partir do momento em que ele tem a informação ele tem a intenção de votar em mim.
Os problemas que seus aliados do MDB têm com a Justiça podem atingir a sua campanha? Nada.
Mas o senhor se lançou candidato ao lado de políticos como o presidente Temer, o senador Jucá e outros bombardeados pela Lava jato. Problema nenhum, primeiro porque meu histórico fala por si só. Eu não tenho nenhum processo, nem acusação e nem investigação. Zero. Eu sou o candidato… não tem o candidato dos sem teto? Eu sou o sem processo. E sem acusação e sem investigação também.
Na campanha vão questionar seu trabalho para os irmãos Batista, donos da JBS, já que o senhor trabalhou para uma empresa do grupo. Tudo bem, não tem nada a ver comigo. Trabalhei 30 anos no Banco de Boston, além dos dez anos de serviço público, 30 anos numa instituição de reputação internacional inquestionável. Primeiro, que eu nunca trabalhei com JBS. Eu prestei uma consultoria de orientação para a montagem da plataforma digital do Banco Original.
Nunca dei orientação para a JBS. Naquele período eu era o presidente do conselho do Lazard Americas, banco sediado em NY, primeiríssima reputação, fui presidente do conselho do Lloyd of London, fui membro do conselho da Azul transportes aéreos e também fui o advisor da KKR, maior empresa de investimentos do mundo. Aliás, acho bom discutir minha carreira porque eu vou comparar com a dos outros.
O senhor fala muito dos desafios da economia, mas e os problemas da área social? Eu nessas posições não olhei só para a renda mais alta. A primeira coisa que eu mencionei para você foram quantas pessoas que saíram da pobreza e entraram na classe média, então meu foco… E foi no governo do Lula. Eu tinha não só um diálogo nessas áreas. Quanto mais eu estava focado nisso, estudando o que fazer, que tipo de coisa que gerava mais emprego. Não há dúvida que os programas sociais na minha gestão vão ser reforçados e ampliados.