No desespero, campanha de Alckmin viola direitos autorais
A campanha de Geraldo Alckmin vai de mal a pior. O início da propaganda eleitoral na TV, onde tem o maior tempo, não o ajudou. No desespero, a campanha tucana viola até direitos autorais.
Assistir ao programa de Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à Presidência da República, na televisão e na internet pode dar ao espectador uma sensação de déjà vu. Dona do maior tempo de TV e de quase metade do fundo partidário destinados aos partidos políticos, a candidatura do tucano tem apostado na reciclagem de campanhas.
Em pelo menos duas peças, Alckmin reproduziu ideias de comerciais existentes. Foi o caso do primeiro e um dos mais impactantes vídeos do candidato tucano, lançado na internet no dia 30 de agosto.
Cópia de uma campanha britânica contra o desarmamento, lançada em 2007, a propaganda é um ataque a Jair Bolsonaro (PSL), defensor do armamento dos cidadãos. A peça mostra uma bala atingindo objetos, como um copo, frutas e livros, com as palavras saneamento básico, desemprego, analfabetismo e fome.
Ao fim do vídeo, o projétil para e surge a imagem de uma menina. “Não é na bala que se resolve”, conclui a propaganda.
“Conheça o primeiro filme da nossa campanha! Baseado no comercial “Guns kill:Kill guns”, a peça fala de como os problemas não serão resolvidos na “bala”, publicou a conta oficial de Alckmin no dia do lançamento, no Twitter.
A versão que entrou no ar na televisão, um dia depois, em 31 de agosto, também dá crédito para a campanha britânica, lançada em 2007.
“O mais decente seria eles terem nos consultado. A campanha é realmente muito parecida”, afirmou à Folha Gary Walker, um dos criadores da peça original. “Mas fico feliz que a mensagem que passamos seja forte o suficiente para ser reproduzida”, completa.
Walker não sabia da reprodução feita pela campanha tucana. Avisado pela Folha, assistiu ao vídeo, que tem a mesma trilha da versão original, da ópera Norma, de Vincenzo Bellini.“Ficou muito bom. Acho até que eu faria algo igual”, ironizou. Segundo Walker, seu parceiro na produção, o publicitário Huw Williams, tampouco foi avisado da cópia.
“A campanha respeita rigorosamente a legislação brasileira, inclusive no que se refere aos direitos autorais das peças produzidas. Dessa forma, não há nenhum tipo de plágio, como evidencia o filme”, afirmou a campanha do PSDB.
O caso não foi o único em que a coligação que apoia Alckmin buscou uma propaganda antiga para replicar uma ideia. Em um vídeo publicado na internet na última semana, os tucanos fizeram outro ataque a Bolsonaro.
A peça começa com uma imagem desfocada. Um locutor cita características de um personagem. No início do vídeo não há a informação sobre a identidade dele, até que surge a imagem de Hugo Chávez (1954-2013).
“Um presidente militar para por ordem no país. Foi assim que escolheram Hugo Chávez na Venezuela. E deu no que deu. Inflação de 1.000.000%. Aumento na pobreza. Mais de um milhão de venezuelanos refugiados. Judiciário rendido. Aniquilação de qualquer oposição”, diz o vídeo, numa referência ao ex-capitão do Exército, candidato do PSL.
A peça é muito parecida com uma propaganda da Folha. No comercial de 1987, o locutor descreve personagem que não é revelado no início do vídeo. A imagem, assim como na propaganda tucana, começa com um zoom, desfocada. A identidade do personagem —Hitler — é revelada apenas do final.
Em outro vídeo, Alckmin encerra a defesa da ampliação do programa Bom Prato, de restaurantes populares, citando frase do sociólogo Herbert José de Sousa, o Betinho: “quem tem fome, tem pressa”. Novamente, não foi dado crédito. Questionada, a assessoria do PSDB não respondeu sobre a divulgação dos créditos.
Da FSP.