Começam a aparecer falcatruas de Beto Richa

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As operações deflagradas nesta semana no Paraná, que levaram à prisão temporária do ex-governador Beto Richa (PSDB), atual candidato ao Senado, e de sua mulher, Fernanda Richa, colocam os negócios imobiliários da família, tradicional herdeira política do estado, sob suspeita.

Tanto a força-tarefa da Operação Lava Jato quanto o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), ligado ao Ministério Público Estadual do Paraná, se debruçam sobre empresas pertencentes ou em sociedade com o político, sua mulher e os filhos do casal, que possuem dezenas de imóveis em Curitiba e região.

A suspeita é que parte das transações imobiliárias feitas pelo grupo serviu para lavar dinheiro ilícito, obtido com a cobrança de propinas e percentuais em obras públicas do governo do Paraná. O ex-governador e atual candidato ao Senado é apontado, por ambos os órgãos, como “chefe” e “principal beneficiário” de um esquema criminoso de arrecadação de recursos indevidos. Já Fernanda seria a “auxiliar” na lavagem de dinheiro, por meio das empresas nas quais é sócia.

O caso, porém, ainda está sob investigação, e não houve indiciamento nem acusação formal contra o ex-governador –por isso, as operações foram consideradas pela defesa uma medida oportunista e excessiva, em meio à campanha eleitoral. Richa nega as suspeitas, afirma que seu patrimônio é lícito e diz estar sofrendo um “julgamento antecipado”.

Em julho, após idas e vindas por decisões judiciais, a força-tarefa da Lava Jato instaurou um procedimento investigativo para apurar eventual crime de lavagem de dinheiro por Richa, que leva em consideração que a maior parte das 11 empresas da família (ativas e inativas), além de ocupar os mesmos endereços, não tem empregados, “indicando que ao menos parte dessas empresas não possui atividade real”.

Um parecer do órgão, que investiga o suposto pagamento de propina no contrato da rodovia PR-323 pelo grupo Odebrecht, também aponta “um incremento patrimonial significativo nas empresas relacionadas aos familiares diretos de Beto Richa”, em especial entre 2013 e 2017, período em que o político era governador.

A Ocaporã Administradora de Bens, uma sociedade entre Fernanda e os filhos do casal, que era dona de 42 imóveis em 2014 (entre apartamentos, lotes em condomínios, salas comerciais e garagens), é alvo preferencial da investigação –e também aparece no inquérito do Gaeco, que apura suspeitas de fraude à licitação em um programa de estradas rurais no Paraná.

Os promotores estaduais mencionam permutas de terrenos feitas pela Ocaporã em Curitiba, o que seria uma “prática sistemática” da família. Segundo a investigação, em um dos casos, houve uma “absoluta desproporção” entre os imóveis permutados em favor da Ocaporã, tanto em área quanto em valor de mercado, o que corrobora a suspeita levantada por um delator, Tony Garcia, de que a empresa tenha feito um pagamento “por fora” de R$ 900 mil, que não foi documentado na matrícula do imóvel.

O inquérito liga a transação à negociação de percentuais em uma licitação estadual, realizada entre 2012 e 2014. Mas não há provas do suposto pagamento em dinheiro, que está sob averiguação.

Os promotores ponderam que “não se pode afirmar, no momento, que a origem desses recursos [das transações imobiliárias] seja ilícita”. Mas o órgão considerou que a prisão temporária dos investigados era necessária para garantir a isenção dos depoimentos e minorar a influência do grupo sobre eventuais testemunhas, o que foi acatado pela Justiça.

O MPF ainda cita uma outra empresa da família Richa, a BFMAR Participações, pertencente a Fernanda e aos filhos do casal, que desde 2013 declara “expressivos valores” no exterior: em 2017, eram R$ 11,5 milhões em participação na offshore Discovery Express, situada nas Ilhas Cayman. O órgão destaca, porém, que “a investigação demanda aprofundamento”.

A defesa do ex-governador nega irregularidades. Em nota, Richa afirmou que está com “a consciência em paz” e que, “no devido tempo, a verdade sempre se impõe”.

O advogado de Fernanda Richa, Eduardo Sanz, destacou que “o simples fato de o nome [de Fernanda] constar no quadro societário” das empresas não justifica as suspeitas de lavagem de dinheiro. A ex-primeira-dama já depôs à Justiça e vem entregando documentos ao Gaeco desde maio. “Ela é inocente e a prisão é excessiva, inadequada e desnecessária”, afirmou Sanz.

Da FSP.