Queiroga se ajoelha para Bolsonaro sem constrangimento
Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Em mais um episódio em que se dobrou ao discurso do presidente Jair Bolsonaro (PL) somente para agradar ao chefe, o ministro Marcelo Queiroga (Saúde), que assumiu o posto com a promessa de acelerar a vacinação contra a Covid-19 no país e seguir as orientações da ciência, mostra que não se constrange em dar sinalizações de que é fiel à cartilha ideológica de seu superior.
O objetivo de avançar na imunização foi cumprido – com muitos solavancos, vale dizer. O mesmo, no entanto, não pode ser dito a respeito do segundo compromisso. Queiroga deixou isso claro nesta terça-feira, 7, ao dizer que é “melhor perder a vida do que a liberdade”, fazendo referência a uma fala de Bolsonaro contra a obrigatoriedade da imunização e ignorando recomendação da Anvisa para a exigência do passaporte da vacina.
Ao descartar a recomendação da agência reguladora, o ministro afirmou que “não se pode discriminar as pessoas entre vacinadas e não vacinadas para a partir daí impor restrições”.
A declaração se soma a uma série de outras nas quais ele sintonizou o seu discurso com as ideias do presidente. Ao participar de uma live ao lado do chefe em setembro, Queiroga seguiu à risca a lista de assuntos que Bolsonaro adora abordar: fez piada com remédios para impotência, ironizou vacinas e criticou o uso obrigatório de máscaras. “O senhor sempre advertiu muito sobre a questão da segurança. Lembra da história do jacaré? O jacaré nada mais é que uma advertência acerca da segurança”, disse.
Naquele mesmo mês, o ministro também assumiu que conversas com Bolsonaro tiveram peso na suspensão da vacinação contra o coronavírus entre adolescentes, tomada por sua pasta. A medida foi adotada em meio ao surgimento de efeitos adversos leves em cerca de 1.500 vacinados e uma morte, que aconteceu em São Bernardo do Campo (SP). À época, o caso foi um prato cheio para o presidente mirar sua artilharia nos imunizantes contra a Covid-19. De acordo com investigações, no entanto, o óbito não teve relação nenhuma com vacinas.
Mais recentemente, Queiroga também se abraçou ao presidente ao afirmar, durante viagem a Itália para participar de encontros da cúpula do G-20, que iria passear com Bolsonaro em Haia — referência à cidade holandesa onde fica um tribunal internacional para crimes contra a humanidade. A declaração foi feita em novembro durante conversa com o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, após o chefe do Executivo brasileiro desabafar. “Eu sou o único chefe de Estado do mundo que está sendo investigado, acusado de genocida. É a política, né?”, disse Bolsonaro. “Eu também. Vou com ele [Bolsonaro] para Haia. Vamos passear lá”, emendou Queiroga, arrancando gargalhadas do presidente.
Ao que parece, o ministro da Saúde não se importa mais em colocar sua reputação à prova e, pior, guia a sua conduta para fazer o máximo de agrados possíveis ao presidente. Se serve de alívio, a variante ômicron, por ora, não parece representar tanto perigo para o surgimento de uma nova onda da Covid-19, mas fica o sinal de alerta.
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