Moraes acha que Bolsonaro confessou interferência na PF
Foto: Nelson Jr./SCO/STF
A pedido da defesa do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, presidenciável do Podemos, o Supremo Tribunal Federal (STF) vai examinar uma fala do presidente Jair Bolsonaro, que deve concorrer à reeleição pelo PL, na qual ele reclama de Moro por não ter atuado para evitar a abertura de procedimentos investigatórios pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e pela Receita Federal. A análise caberá ao ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito que apura uma suposta interferência indevida do presidente nos trabalhos da Polícia Federal (PF) e de outros órgãos de controle. Os advogados de Moro afirmam, na petição, que a entrevista concedida na quarta-feira por Bolsonaro ao jornal “Gazeta do Povo”, de Curitiba, traz “pontos que são de relevância para as investigações levadas a efeito neste apuratório”.
Na entrevista, Bolsonaro criticou seu ex-ministro da Justiça por não ter agido a seu favor ou a favor de seus aliados e familiares. Bolsonaro também disse, na entrevista, que cobrou de Moro investigações sobre políticos de oposição, mas que o ex-ministro nunca deu andamento a essas solicitações.
Em seu depoimento à PF em novembro, Bolsonaro admitiu ter requerido a troca do diretor-geral e de dois superintendentes regionais da corporação, mas negou que o objetivo fosse obter dados sigilosos sobre investigações em curso.
Segundo Bolsonaro, Moro condicionou a mudança à sua indicação para uma vaga no Supremo, algo que o ex-ministro nega. O desgaste em torno das possíveis trocas na PF levou Moro a pedir demissão do cargo e romper com seu antigo aliado.
Em nota, a PF afirmou que as recentes mudanças em seus cargos de comando são “medidas naturais”, adotadas sem nenhuma “motivação política”. O texto foi divulgado como resposta a uma reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo”, segundo a qual cerca de 20 delegados foram retirados de postos de chefia devido a divergências políticas com o governo federal ou com a cúpula da corporação.
“As substituições de cargos de chefias são medidas naturais e, em alguns casos, necessárias para a renovação do quadro dirigente, motivo pelo qual a instituição possui um corpo de servidores com formação profissional homogênea. Assim, todos os delegados indicados para cargos de chefia estão devidamente habilitados para o exercício das novas funções”, disse a PF. No Rio de Janeiro, o ex-ministro respondeu: “O presidente sabotou o combate à corrupção. Ele mesmo disse aqui que não gostava de mim porque eu não protegia lá a família [dele] de investigação da Receita ou do Coaf. E aí, quando chegou o momento que ele queria que eu fizesse isso e eu não concordava, eu saí”, disse o ex-ministro. “Isso eu posso dizer realmente para o presidente que eu realmente não impedi os órgãos de investigação de fazer o trabalho deles”, completou.
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