Diretor do Datafolha explica o perfil majoritário do eleitor em 2022
Foto: Silvia Zamboni / Valor
Os eleitores que decidem as eleições, ou seja, matade dos brasileiros que hoje sobrevivem com atá dois salários mínimos, votam com pragmatismo. É o que afirma o diretor do Datafolha Mauro Paulino, em entrevista ao GLOBO. Segundo Paulino, “quanto mais pobre, mais pragmático é o voto”. E esse eleitor vai votar, em 2022, no candidato que mostrar mais condições políticas de resolver o problema da fome e da queda do padrão de vida da população. Por isso, Paulino prevê que a economia vai recuperar o protagonismo que havia perdido nas eleições de 2018 para a corrupção.
Em setembro, pesquisa Datafolha apontou que quase metade dos eleitores mais pobres reduziu consumo de alimentos como frango, legumes, feijão e laticínios, e muitos não conseguiam substituí-los por outros, como ovo. Como esses números se traduzem no cenário eleitoral?
Hoje, metade dos brasileiros tem renda familiar mensal de até dois salários mínimos. Isso quer dizer que a grande maioria, que decide a eleição, está tentando sobreviver. Quanto mais pobre o eleitor, mais pragmático é o voto. Como a fome cresceu, estamos falando de pragmatismo no sentido de precisar de dinheiro para comprar comida. Esse eleitor vai escolher o candidato que mostrar mais condições e vontade política para resolver isso.
O Auxílio Brasil reúne as condições para credenciar Bolsonaro para esse papel?
É claro que, num primeiro momento, o Auxílio Brasil pode ter impacto positivo na avaliação de Bolsonaro, porque o programa não atinge só quem recebe, mas sim aqueles que conhecem alguém que recebe. Mas se a inflação continuar a crescer no início do ano que vem e tirar o poder aquisitivo desse auxílio, a maioria dos que recebem pode considerar que o dinheiro é insuficiente para se alimentar
Além da inflação atual, como o senhor avalia que o cenário econômico tem afetado eleições presidenciais?
Em 2006, o Bolsa Família foi decisivo para Lula se reeleger, e depois foi também decisivo para eleger Dilma Rousseff como sucessora. Era um contexto totalmente diferente do atual. Lula fez com que o poder aquisitivo do salário mínimo crescesse, em uma situação de estabilidade econômica. Não vejo perspectiva disso no momento presente, com inflação acima de dois dígitos.
Por que, mesmo após uma década fora da Presidência, Lula consegue manter a “memória” de programas sociais de seu governo entre os mais pobres?
O Bolsa Família é muito diretamente associado a Lula e aos governos do PT porque veio acompanhado de um planejamento de comunicação muito forte, que ficou muito introjetado especialmente entre eleitores mais pobres do Norte e do Nordeste. Bolsonaro terá que quebrar a identificação desse segmento com Lula e trazer para ele, o que não é simples. Não sei até que ponto esses eleitores, que têm menor acesso à informação, associarão o Auxílio Brasil ao governo atual. Mesmo com a mudança de nome, num primeiro momento, por exemplo, os cartões para receber o benefício ainda são os do Bolsa Família.
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Em 2018, de acordo com as pesquisas, Bolsonaro venceu a eleição entre homens mais pobres, mas perdeu para (Fernando) Haddad entre as mulheres mais pobres. E são essas mulheres que mais identificam o Bolsa Família como um benefício do governo Lula, porque são elas que recebem.
O auxílio emergencial trouxe algum impacto duradouro ou significativo para Bolsonaro?
O único momento em que a aprovação de Bolsonaro superou a reprovação foi entre agosto e dezembro de 2020, o que coincide com o maior número de pessoas recebendo o auxílio de R$ 600 e uma diminuição de casos da Covid-19. Quando diminuiu o valor pela metade, a popularidade do governo piorou. Há um dado que considero importante na pesquisa Datafolha de setembro: 57% dos brasileiros dizem nunca confiar nas declarações de Bolsonaro, e isso sobe para 61% entre os mais pobres. Portanto, esse é justamente o público que mais reprova o presidente.
Ou seja, a popularidade não se sustentou em um cenário econômico adverso…
Tem um número que ilustra bem isso: em setembro, 69% dos eleitores disseram que a situação econômica do Brasil havia piorado nos últimos meses. Só isso já aponta para um cenário bem diferente em relação ao salto de popularidade que o Bolsa Família trouxe a Lula.
A corrupção, embora com menor força, ainda é citada por um contingente relativamente grande de eleitores como um dos principais problemas do país. Qual deve ser a relevância desse tema na campanha?
Vejo que a economia vai recuperar o protagonismo no processo eleitoral que havia perdido em 2018 para a corrupção. Já fizemos pesquisas que mostraram que o eleitor, de certa forma, aceita a corrupção desde que tenha uma condição de vida melhor. É uma triste realidade, mas é o pragmatismo que temos observado em diversas eleições. É um tema que mobiliza muito mais a classe média, que tem seu prato de cada dia garantido, do que os mais pobres.
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