Em SP, brancos moram em áreas centrais e negros na periferia
Foto: Apu Gomes/Oxfam/Reprodução
Na Região Metropolitana de São Paulo, a desigualdade social e étnica é exposta pelo endereço. As pessoas negras vivem principalmente em áreas periféricas, com menos infraestrutura e oferta de serviços. As áreas com melhor infraestrutura são cheias de prédios e habitadas em grande maioria por pessoas brancas.
O mapeamento da moradia e do perfil da população em São Paulo foi realizado pelo LabCidade, laboratório de pesquisa FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo). Foram utilizados os dados de distribuição da população por tipo de domicílio e da população negra do Censo Demográfico de 2010.
As análises do LabCidade indicam a segregação do espaço urbano: pessoas brancas nos centros e as negras nas periferias e nas cidades ao redor da capital. Os negros que vivem nos centros são, normalmente, em residências antigas ou em pensões e ocupações — que são discriminadas pela cidade.
“Seja em casas ou prédios, a segregação racial é evidente: as áreas historicamente com melhor infraestrutura da cidade são brancas e de média e alta renda”, diz o laboratório da FAU.
Quanto mais vermelho, mais vertical e menos negro; quanto mais amarelo, mais horizontal e menos negro; quanto mais verde, mais horizontal e negro e quanto mais roxo, mais vertical e negro
Além disso, o LabCidade afirma que a verticalização, ou seja, o processo de construção de prédios, não democratiza a cidade por si só. Sem uma política de inclusão econômica e racial, as áreas que ganharam investimentos com a construção de condomínios e prédios continuam ocupada por brancos.
A verticalização, em teoria, poderia facilitar o acesso de um maior número de pessoas à infraestrutura urbana. Afinal, mais pessoas vivem na mesma área e, idealmente, com qualidade de vida.
A população negra também mora em prédios. Mas a maioria são em áreas habitacionais que foram construídas como parte de políticas públicas, como as construções da Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação) e CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano).
Segundo os pesquisadores, a segregação é, nesses casos, “produzida pelo Estado”, já que esses prédios normalmente ficam afastados de infraestruturas urbanas.
“Simples assim: em Pinheiros ou Vila Mariana [bairros tradicionais de São Paulo] não serão feitos empreendimentos de habitação social pelo mercado.”
Outra questão no Estado é que os poucos prédios populares que ficam na área central são alvo de preconceito. “Pardieiro, treme treme e outras denominações racistas” são como essas moradias são conhecidas.
A forma como a Região Metropolitana se organiza, de acordo com os pesquisadores, reproduz desigualdades que mantém pessoas negras e pobres excluídas da infraestrutura urbana. Essa infraestrutura inclui serviços que facilitam o dia a dia e oferecem melhores oportunidades à população, como escolas, hospitais, meios de transporte e aparelhos de cultura (museus, teatros, centros esportivos e de lazer).
“A segregação racial não acontece ‘por acidente’”, dizem os pesquisadores.
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