
Lula e senadores do PT divergem sobre crise na Europa
Foto: Ricardo Stuckert
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu principal assessor para temas internacionais, o ex-chanceler Celso Amorim, condenaram a guerra desencadeada pela Rússia contra a Ucrânia. Uma nota da bancada de senadores do PT, porém, produziu embaraço aos petistas ao apontar os Estados Unidos e sua política de longo prazo como os culpados pela crise. Minutos após a publicação, a nota foi apagada.
Lula manifestou-se ontem logo cedo pelas redes sociais. Sem mencionar a Rússia, afirmou que “ninguém pode concordar com guerra, ataques militares de um país contra o outro”.
Mais adiante, postou que “o ser humano tem que criar juízo e resolver suas divergências em uma mesa de negociação, não em campos de batalha”.
O tom de repúdio foi repetido durante uma entrevista a uma rádio em Brasília. “É lamentável que, na segunda década do século 21, a gente tenha países tentando resolver suas diferenças através de tiros, bombas e ataque”, afirmou.
Líder nas pesquisas da disputa presidencial, o petista ainda aproveitou a crise para criticar o presidente Jair Bolsonaro.
“Um presidente da República precisa conversar, ser um maestro da orquestra chamada Brasil para ela viver em harmonia. Se você tem um presidente que briga com todo mundo, ele serve para que? Até em coisas sérias, ele mente, disse que tinha conseguido a paz ao viajar para a Rússia”.
Celso Amorim foi mais enfático nas declarações ao longo do dia. Embora tenha classificado como “legítima” a preocupação russa com a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ao leste europeu, afirmou, em entrevista ao portal Opera Mundi, difusor de análises e opiniões de personalidades de esquerda, que as ações bélicas da Rússia contra a Ucrânia são uma “violação grave do direito internacional”, um ato “ilícito e injustificável”.
O que gerou mais repercussão no campo petista, porém, não foram as declarações do ex-presidente ou as análises de Amorim, mas uma nota divulgada pela bancada do PT no Senado acusando os Estados Unidos e sua política de longo prazo de serem os culpados pela crise.
“O PT no Senado condena a política de longo prazo dos EUA de agressão à Rússia e de contínua expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em direção às fronteiras russas. Trata-se de política belicosa, que nunca se justificou, dentro dos princípios que regem o Direito Internacional Público”, dizia o documento divulgado na manhã de ontem.
O texto afirmava ainda que “essa política imperialista produziu o quadro geopolítico que explica o atual conflito na Ucrânia. Tal conflito, frise-se, é basicamente um conflito entre os EUA e a Rússia”.
O documento prosseguia afirmando que os Estados Unidos não aceitam uma Rússia forte e uma China que tende a superá-los economicamente.
Com bem menor ênfase, a nota da bancada petista também criticava a Rússia. Dizia que aposta recente do país asiático na guerra “também agride o Direito Internacional Público e o sistema de segurança coletiva cristalizado na ONU”.
Em face da repercussão negativa, o documento foi apagado por volta das 13h. Prevaleceu em seu lugar uma mensagem de tom mais neutro publicada pelo senador Humberto Costa (PE).
“Conflitos políticos não podem ser resolvidos com guerras, mortes e destruição. O diálogo democrático precisa prevalecer entre países”, diz num trecho.
O estrago político, porém, já estava feito. Rivais de Lula na disputa presidencial, como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o ex-juiz Sergio Moro (Podemos), divulgaram mensagens de repúdio à primeira nota dos senadores do PT.
“Mais uma vez é a ideologia prevalecendo sobre a realidade”, escreveu Moro.