Em SP, Haddad terá que driblar antipetismo remanescente

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Foto: Marlene Bergamo-29.out.21/Folhapress

À frente nas pesquisas para o Governo de São Paulo, Fernando Haddad (PT) vivia situação bem diferente em seu último ano à frente da prefeitura da capital paulista, em 2016.

Haddad enfrentava período de grande impopularidade, impulsionada pelo antipetismo em alta e pela pior avaliação de um prefeito da cidade desde Celso Pitta (1997-2000).

Se a candidatura do petista se concretizar, o que deve ocorrer, as vidraças do tempo de sua gestão como prefeito voltarão a ser exploradas por campanhas rivais.

A avaliação de petistas ouvidos pela Folha, por outro lado, é a de que Haddad tem um legado a mostrar dos anos que esteve à frente da administração municipal e que ele foi prejudicado pelo contexto daquele momento de desgaste do PT nacionalmente.

Pouco antes da eleição de 2016, o Datafolha mediu o humor da população com a gestão Haddad. Com três anos e sete meses, a administração era avaliada como ótima ou boa só por 14% do eleitorado —Pitta, na mesma época, tinha o índice de 7%. Para 48%, a gestão Haddad era ruim ou péssima.

A consequência disso foi vista meses depois na derrota para João Doria (PSDB), já no primeiro turno.

Haddad foi eleito em um cenário de crescimento econômico e grande popularidade do governo de Dilma Rousseff (PT). Mas nos dois anos seguintes a situação se inverteria.

Logo no primeiro ano de gestão, vieram os protestos contra o aumento da tarifa em junho de 2013 e, diante da pressão das ruas, o congelamento do valor da passagem.

O reajuste da base de cálculo IPTU também acabou barrado pela Justiça em 2013 e só liberado no fim do ano seguinte. O caixa da cidade se agravaria ainda com a piora nas condições econômicas do país.

Haddad, contando com a ajuda do governo federal, havia proposto metas ambiciosas, como 150 km de corredores de ônibus, 20 CEUs (centros de educação unificada), 43 unidades básicas de saúde e 55 mil moradias.

No entanto, de R$ 9 bilhões previstos para as obras, São Paulo não viu nem R$ 2 bilhões.

Ao fim do mandato, Haddad cumpriu apenas 67 das 123 metas propostas. Como lembrança das promessas não cumpridas, sobraram ainda vários esqueletos de obras paradas pela cidade.

A gestão tucana que assumiu depois contabilizou ao menos 35 delas suspensas, incluindo um hospital, corredores de ônibus e terminal de transporte.

Aliados de Haddad sempre justificaram aquele cenário pela forte recessão e a falta de repasses prometidos. E lembraram que várias obras foram deixadas em andamento e licitadas, citando ainda as finanças organizadas.

Presidente do PSDB na capital paulista e colaborador da pré-campanha de Rodrigo Garcia (PSDB), Fernando Alfredo diz que durante a eleição será lembrado o passado do petista.

Segundo ele, a performance atual do ex-prefeito nas pesquisas se deve ao recall da campanha presidencial de 2018, mas isso deve mudar a partir do momento em que a população passar a pensar de fato nas eleições.

“A hora que começar as veiculações eleitorais, a propaganda na televisão, as pessoas vão ter a memória de quem foi Haddad. Foi um péssimo prefeito, mal gestor”, disse. “Nós vamos apontar tudo aquilo que o Haddad não fez.”

Sem dinheiro, Haddad investiu em medidas baratas de mobilidade, como faixas de ônibus, ciclovias e redução de velocidades das vias. Hoje vistas como uma herança positiva, na época, essas medidas também geraram desgaste em uma cidade acostumada a ter o carro como elemento central.

A zeladoria também penou na ocasião. No último ano da gestão, houve queda de 22% no lixo varrido das ruas, em comparação com 2013. Os buracos tapados caíram para menos da metade no último ano de gestão, quando, por falta de repasses, a Usina de Asfalto da cidade praticamente parou.

Embora a gestão seja incorretamente acusada de ter deixado um rombo no caixa, foi nas finanças que o petista deixou sua principal herança para as gestões seguintes.

Ele capitaneou a renegociação da dívida com a União, fazendo com que o saldo devedor diminuísse de R$ 76 bilhões para menos de R$ 30 bilhões. A partir daí, as parcelas pagas pela prefeitura passaram a cair, aumentando o dinheiro disponível para investimentos.

A gestão do petista também criou a CGM (Controladoria Geral do Município), que descobriu o maior escândalo recente na prefeitura, a máfia do ISS, além de aumentar a transparência de dados públicos da administração.

A campanha de Haddad, inclusive, terá o combate à corrupção e o descobrimento da máfia do ISS como uma de suas grandes bandeiras.

Além disso, a direção da campanha ressalta a elaboração do plano diretor premiado internacionalmente, reconhecimento do grau de investimento das contas da cidade pela agência de risco Fitch e o investimento maior do que as gestões Bruno Covas (PSDB) e Doria.

A campanha sustenta que o cumprimento das metas foi de 80%, em contagem que leva em consideração também itens não concluídos e andamento.

Para o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV, haverá um debate mais relativo à gestão no caso de um embate entre Haddad e Rodrigo Garcia, atual vice-governador e escolhido de Doria para a sucessão no estado.

Já a questão ideológica, com exploração mais intensa do antipetismo, aconteceria numa disputa com o ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL).

“A lembrança da gestão certamente será trazida pelos adversários, sobretudo pelo PSDB que venceu. Mas ninguém tem telhado forte nesse momento”, diz o professor, citando que os tucanos também têm pontos a serem explorados.

Segundo um membro ligado à campanha do petista, “Haddad foi tragado naquele processo” e essas críticas não estariam ligadas necessariamente à sua gestão.

Aliados citam o desempenho de Haddad nas eleições presidenciais de 2018 —ele ficou em segundo lugar na disputa contra Bolsonaro com mais de 47 milhões de votos.

Ressaltam, no entanto, que estratégias da campanha sobre isso ainda não foram discutidas. Mas avaliam que, caso as críticas ressurjam na campanha, Haddad estará preparado e terá argumentos para se defender.

Ele deverá evocar a questão nacional daquele momento e resgatar pontos positivos da gestão.

Segundo o presidente estadual do PT em SP, Luiz Marinho, que vai atuar na coordenação-geral da campanha de Haddad, se em 2016 tivesse sido feita uma avaliação fria sobre a gestão, sem considerar esse contexto, ela teria sido outra. “Ele deu rumos para a cidade”, diz.

Marinho ressalta pontos positivos da gestão que mostram que “Haddad mostrou que tem capacidade”. “Na avaliação no momento eleitoral de 2016 não pesou essas coisas. Mas sim o ódio, a raiva, a antipolítica. Hoje, se você perguntar para o povo, ele tem outra avaliação.”

Marinho afirma ainda que o momento, agora, é de mapear as “oportunidades e fragilidades” de cada região do estado.

“O que vamos oferecer é um Haddad que tem visão de recolocar o estado no papel que ele deve estar para ajudar na retomada mais rápida de inclusão de políticas públicas efetivas”, continua.

O deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), que foi secretário da Saúde na gestão de Haddad, afirma que o petista está preparado “para fazer qualquer debate” que surgir na campanha e ainda criticou os seus possíveis adversários.

“Se a discussão for a cidade de São Paulo, ele estará debatendo com um candidato que é ligado ao governador que fugiu a ser prefeito e traiu a população de São Paulo, e um candidato bolsonarista que se largarem em Sapopemba, não vai saber chegar na Vila Prudente”, diz.

Padilha reforça ainda o legado que o petista tem de quando foi ministro da Educação.

“Cada cidade do estado que ele for visitar, terá alguma marca e alguma ação do MEC. Seja um estudante que teve a possibilidade de entrar na universidade pelo Prouni, pelo Fies, seja pelos institutos federais que foram criados”, diz.

Folha