Lula promete acabar com a farra dos acionistas da Petrobras
Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo
Nos dois primeiros dos cinco dias que passará no Rio, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez uma agenda pública, no sábado – quando voltou a criticar a política de preços da Petrobras e projetou dificuldades com o Congresso caso se eleja – e teve dois encontros de caráter privado. Ontem, Lula almoçou na casa da deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), onde também se reuniu com o cantor e compositor Chico Buarque. Na véspera, jantou com seu ex-ministro da Cultura, o também cantor e compositor Gilberto Gil.
No sábado, o ex-presidente discursou no Festival Vermelho, evento de comemoração do centenário do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), em Niterói, na região metropolitana. O discurso de 48 minutos abriu espaço a promessas e conjecturas sobre as forças com as quais terá de lidar, no Congresso, se eleito.
Sobre Petrobras, Lula afirmou de forma genérica que a empresa “voltará a ser do povo brasileiro”. Ele disse que, se eleito, vai reverter a política da estatal de preços pareados com o mercado internacional de óleo e gás a fim de “abrasileirar” os preços dos derivados de petróleo.
“No meu governo [2008], o barril de petróleo chegou a US$ 147 e o litro da gasolina custava R$ 2,67. Agora jogam a culpa na guerra da Ucrânia e botam tudo nas costas do povo brasileiro”, disse. “Se preparem, brasileiros e brasileiras, porque nós vamos abrasileirar o preço do combustível, do óleo diesel e do gás de cozinha nesse país”, acrescentou. Nos anos de governos do PT, a Petrobras também esteve sob fortes críticas por causa da grande defasagem entre o preço internacional e a política de preços da companhia.
Lula também falou em incluir as faixas de menor renda no orçamento público, tópico frequente nos discursos dele. “A contrapartida para compensar será colocar o rico no Imposto de Renda, porque eles não pagam Imposto de Renda nesse país”, disse.
Mas, no fim, o ex-presidente voltou ao tom conciliador ao dizer que será o “Lulinha paz e amor”. “Vou conversar com todo mundo. Não se preocupe, banqueiro e empresário. Mas o que eu sei é que não posso perder muito tempo porque vocês nunca vão votar em mim. Quem vai votar em mim é o povo trabalhador”.
Lula atacou ainda o orçamento secreto instituído sob a presidência da Câmara de Arthur Lira. Para o ex-presidente, isso lhe garante controle maior sobre a Câmara dos Deputados do que teve Ulysses Guimarães no fim dos anos 1980. “[Governar] não vai ser tarefa fácil. Não basta votar no Lula, é importante ter em conta o que acontece no Brasil hoje”, discursou. “Eu já disse que nem o Doutor Ulysses teve tanto poder. Esse orçamento secreto é a maior vergonha desse país. Se é secreto tem safadeza”, completou.
Contudo, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) votou a favor da resolução do Congresso e contrariou a orientação da bancada da legenda no Senado.
No discurso no Rio, Lula reforçou a preocupação com a governabilidade de um futuro governo: “Se não construir maioria de deputados e senadores, vamos ficar fragilizados. [O deputado] Ricardo Barros (PP) já disse que qualquer presidente eleito tem que saber que vai comer na mão da Câmara”.
Os ataques ao principal adversário na disputa, o presidente Jair Bolsonaro, vieram somente mais para o fim do evento. Lula prometeu, como primeiro ato de governo, se eleito, convocar todos os 27 governadores para uma reunião em Brasília para discutir um programa de recuperação econômica e “refazer” o pacto federativo. “Bolsonaro não se reúne com um prefeito, com ninguém, só com os milicianos dele”, disse.
Até quarta-feira, Lula terá reuniões na missão de pacificar a aliança dos partidos que o apoiam no Rio (PSB e PCdoB). Para governador do Rio, Lula tem reiterado apoio ao deputado federal Marcelo Freixo (PSB), mas também é cortejado pelo ex-prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PDT). Junto a Felipe Santa Cruz (PSD), ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Neves deve integrar a chapa patrocinada pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD). Todos eles estavam sentados ao lado de Lula na primeira fileira do palco.