Governo não indica seu líder no Senado há 4 meses
Foto: O Globo
Há quatro meses vago, o cargo de líder do Senado tem gerado constrangimentos. O presidente da casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), por exemplo, tem reclamado a pessoas próximas de que está assumindo a função de líder ao pautar temas de interesse do governo e colocar panos quentes nos embates com a oposição. A insatisfação com o vácuo da liderança na Casa legislativa foi abordada em uma recente conversa entre o senador e o ministro Célio Faria Júnior, que assumiu a Secretaria de Governo e agora faz a ponte entre Planalto e Congresso.
O presidente do Senado perguntou ao ministro se tinha alguma novidade no caso. Mas a resposta que teve é que o assunto ainda estava emperrado e não havia nenhum avanço sobre quem ocuparia o cargo. Uma demora que chegou, inclusive, a contar com uma desistência e a indicação de dois senadores ao mesmo tempo para o posto.
O posto até dezembro era de líder Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), que renunciou ao cargo um dia após perder a indicação de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Segundo a interlocutores, o pernambucano saiu reclamando do pouco apoio do Planalto em emplacar seu nome, apesar de todos os esforços que ele havia feito em temas importantes no Congresso.
Há quase três semanas o governo de Jair Bolsonaro (PL) indicou o senador Carlos Viana (PL-MG) como seu líder no Senado. Mas até agora a escolha ainda não foi oficializada e o posto de quem cuida das articulações do presidente na Casa legislativa continua vago. O mineiro foi escolhido para o cargo no dia 6 de abril, mas, até agora, a nomeação não foi publicada no Diário Oficial e, por isso, não tem validade.
Mas há mais motivos para a demora. O primeiro deles é que, ao mesmo tempo que indicava Viana, o governo também prometia a liderança de governo ao senador Marcos Rogério (PL-RO), que já era cotado para assumir o posto desde a saída de Bezerra Coelho. Inicialmente, Rogério resistia à ideia porque, assim como Viana, também vai concorrer ao governo de seu estado.
Ser pré-candidato tem sido visto pelo governo como um empecilho para quem for assumir como líder no Senado, já que tiraria o foco do cargo e faria com que o parlamentar fique distante de Brasília durante o período da campanha eleitoral. Porém, entre Rogério e Viana, o Planalto vê como mais viável a eleição do senador de Rondônia — o que pesou para terem indicado o mineiro no lugar.
A escolha tanto de Rogério quanto de Viana também segue uma estratégia do Planalto: ter um líder que seja próximo do presidente do Senado. Os senadores tem bom trânsito com Pacheco, e essa interlocução poderia ajudar o governo a emplacar seus projetos na Casa. No início do ano, Bolsonaro já havia sido aconselhado a escolher alguém ligado ao mineiro por esse motivo e indicou, por isso, o senador recém-empossado Alexandre Silveira (PSD-MG), braço direito de Pacheco na Casa.
Silveira, porém, declinou o convite. Entre os motivos alegados é que focaria na sua campanha à reeleição neste ano. Porém, o que pesou mais na decisão foi o próprio Pacheco, que o convenceu que uma proximidade tão grande entre líder do governo e presidente do Senado poderia causar estranhamento a demais parlamentares.
O segundo motivo para demora, porém, é a resistência ao nome de Viana por ele ser um senador de primeiro mandato e por não ser tão influente dentro do Senado. Além disso, as mudanças partidárias do mineiro geraram, dentro da Casa legislativa, desconfianças em relação a ele. Para poder disputar o Palácio da Liberdade, Viana migrou, no fim do ano passado, do PSD — que já tinha pré-candidato na disputa, o ex-prefeito Alexandre Kalil — para o MDB. A desfiliação da sigla gerou descontentamento entre seus ex-correligionários. Depois, durante a janela partidária, ele deixou o MDB para ir para o PL, a legenda de Bolsonaro.
A interlocutores, Viana já admite a possibilidade de abrir mão da liderança por causa da demora do governo. O senador avalia que o cargo, embora lhe dê visibilidade, pode prejudicar sua pré-campanha ao Executivo de Minas Gerais, na qual vai concorrer como o candidato bolsonarista. Ele também está insatisfeito por, mesmo após tanto tempo de sua indicação, não ter recebido ainda nenhum indicativo. A novela da liderança do governo no Senado, ao que parece, ainda poderá ter novos capítulos.