Bolsonarismo se beneficia de brigalhada da esquerda fluminense

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Foto: Reprodução/TV Globo

A campanha do governador Cláudio Castro (PL) lançará na próxima semana um manifesto de apoio que deverá contar com a assinatura de 85 dos 92 prefeitos do estado do Rio. A ideia é reforçar a imagem de uma campanha organizada e unida para se contrapor às brigas internas das candidaturas rivais de Marcelo Freixo (PSB) e Rodrigo Neves (PDT).

O mês de junho ilustra como tradicionalmente se dá a luta política no Rio: enquanto a esquerda briga, a direita pilota a máquina pública para se manter o poder.

Inspirado na “Super Terça” das eleições americanas, a campanha de Castro inventou o “Super Junho”. O governador candidato visitou 72 cidades e inaugurou (ou anunciou) 96 obras. Em todos os eventos, havia uma enxurrada de lideranças locais querendo fazer foto ao lado dele. Castro tem apoio de 15 partidos políticos, numa aliança que lançará 1.770 candidatos a deputados federais e estaduais.

Não tem mágica, tem fórmula. Castro repete o que dá poder no estado do Rio desde a década de 1970 e foi consagrado pelo ex-governador Chagas Freitas. Ao contrário de Lacerda e Brizola, que focavam nos temas nacionais, Chagas tratava prioritariamente dos assuntos locais. Ele costumava dizer :”Eu não sei o que é montanha. Eu sei o que é morro”, para reforçar que sua visão política não alcançava Brasília.

Castro também evita polêmicas da vida nacional, até mesmo para evitar atritos com seu maior apoiador, o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Outra semelhança: Castro, como Chagas, tem paciência de fazer política no varejinho, coisa que nem Brizola ou Lacerda gostavam. Mesmo porque os dois miravam o Palácio do Planalto e não o Guanabara.

A forma de compartilhar o poder também aproxima Castro de Chagas. Ambos privilegiam um forte vínculo com a Assembleia Legislativa e lideranças locais. São relações baseadas no clientelismo.

O próprio Castro dá o tom do reforço do discurso de união e ordem. Sobre a própria campanha, diz ter “diálogo, reconstrução do estado e entrega de políticas públicas”. E ataca a campanha de Freixo: “do outro lado há intrigas, ataques pessoais e busca desenfreada pelo poder! “.

Acreditar que não há problemas na campanha de Castro é ingenuidade. Houve atritos com o senador Romário, do mesmo partido e candidato à reeleição, sob a suspeita de que o governador estava “costeando o alambrado” e ajudando a campanha de André Ceciliano do PT.

Além disso, volta e meia há ruídos com o Palácio do Planalto, e uma briga com o ex-governador Garotinho pode custar caro ao seu projeto de reeleição.

Nada comparável com as confusões da esquerda, que briga com o próprio espelho. Freixo surpreendeu os adversários e conseguiu achar o “seu Alckmin”: anunciou Cesar Maia (PSDB) como possível vice , ampliando o leque de apoios para o centro e a centro direita. Mas a agenda de brigas da esquerda prevaleceu.

Alessandro Molon se desentendeu publicamente com Freixo, ambos do PSB, por conta da vaga ao Senado. Freixo afirma que havia um acordo para dar a vaga ao PT, portanto, a André Ceciliano. Molon alega que não houve acordo. Em bom português: os socialistas estão dizendo que há um mentiroso no partido.

E no ringue da esquerda sempre cabe mais um. O candidato do PDT ao governo, Rodrigo Neves, recebeu cartão amarelo do partido porque resolveu trair, de forma escancarada, Ciro Gomes, candidato à presidência de seu partido.

Rodrigues Neves participou, na ABI, do lançamento da chapa Rodri/Lula. Foi um evento em que nomes da esquerda, com a ex-ministra da cultura Ana de Hollanda, manifestaram apoio a sua candidatura e, consequentemente, apoio à traição a Ciro.

Rodrigo sentou-se à mesa com o vice-presidente do PT nacional, Washington Quaquá. Atrás deles havia a foto de Rodrigo Neves e Lula. Imagem de Ciro, nem pensar. O pedetista diz que não tem nada a ver com isso: “Fui ali apenas receber apoio”.

O PDT suspendeu as atividades de sua campanha e marcou uma reunião da executiva na segunda-feira (11) para ouvir as explicações sobre a infidelidade. Ciro foi traído no Rio, terra do presidente nacional de seu partido, Carlos Lupi.

Como se vê, campanha antecipada sempre existiu na política. Mas a esquerda do Rio inventou a traição antecipada. A direita agradece. E toca pau na máquina.

G1