
PT nega vaga de vice de Haddad ao PSOL
Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) e o governador Rodrigo Garcia (PSDB) enfrentam desgastes para definir, a 80 dias das eleições, os vices de suas chapas na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes.
Com risco de ficar sem um posto de destaque na principal chapa de esquerda ao governo estadual, o presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, se reuniu na segunda com o ex-presidente Lula. Participaram da conversa a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o presidente do diretório petista de São Paulo, Luiz Marinho, e o pré-candidato a deputado federal pelo PSOL Guilherme Boulos.
Aliados não acreditam que Lula tenha disposição para interferir nas discussões para escolha do vice de Haddad após ter atuado fortemente para fazer com que Márcio França (PSB) desistisse da candidatura a governador e concorresse ao Senado.
O PSOL reivindica o posto de vice de Haddad, mas o pré-candidato petista a governador prefere um nome que sinalize ao eleitor de centro. O favorito, no momento, é o ex-prefeito de Campinas Jonas Donizette (PSB).
De acordo com petistas, Haddad ainda sonha que a ex-ministra Marina Silva (Rede) aceite ficar com a vaga. Seria uma forma de contornar a disputa entre PSB e PSOL. Mas a possibilidade é remota. Marina já lançou pré-candidatura a deputada e a estratégia da Rede é a de ampliar a bancada na Câmara.
Reservadamente, lideranças do PSB argumentam que o PSOL já foi contemplado com o acordo, tornado público por Haddad, para o PT apoiar a candidatura de Boulos a prefeito de São Paulo em 2024. O líder sem-teto chegou a lançar sua pré-candidatura a governador, mas desistiu da disputa após costura que teve participação de Lula.
No último sábado, durante um ato em Diadema, na região metropolitana de São Paulo, para apresentar a chapa formada por Haddad e França, Boulos se queixou nos bastidores de não constar na lista de lideranças a discursar. O mal-estar foi contornado e ele acabou falando ao público.
Pela primeira vez desde sua fundação em 2004, o PSOL não terá este ano um candidato a presidente. Com apoio da ala de Medeiros e de Boulos, o grupo a favor de uma candidatura própria foi derrotado e o partido decidiu apoiar Lula.
A situação do governador Rodrigo Garcia também é complicada: a vaga de vice tem sido disputada por dois partidos aliados, MDB e União Brasil. Segundo emedebistas ouvidos pelo GLOBO, pelo acerto inicial, firmado no início do ano, o União Brasil indicaria o apresentador José Luiz Datena para a vaga ao Senado na chapa de Garcia e o MDB ficaria com a vice, sendo o ex-secretário municipal da Saúde de São Paulo Edson Aparecido, ex-tucano, o nome indicado pelo prefeito paulista Ricardo Nunes.
Datena, porém, deixou o União Brasil — e depois a disputa eleitoral — e o partido referendou apoio à pré-candidatura de Garcia, confirmando o palanque paulista a Luciano Bivar, presidente da legenda e pré-candidato à Presidência. O apoio do União dobra o tempo de televisão de Garcia e passa a a contar com o apoio de pelo menos outros 50 prefeitos do estado.
Dirigentes do MDB alegam que o União Brasil passou a cobiçar a vice só depois da retirada de Datena. E que a essa movimentação foge do trato firmado no início do ano. Por outro lado, integrantes do União Brasil dizem que Bivar já dividirá o palanque de Garcia com a senadora Simone Tebet, pré-candidata emedebista ao Planalto, e portanto não faria sentido o partido não escolher o vice.
— Não faz sentido o União Brasil apoiar Garcia e não ter um vice que não seja do núcleo duro do Bivar — diz o deputado Junior Bozzella, vice-presidente estadual do União.
Entre as lideranças do União Brasil cotadas para a vice está o economista Marcos Cintra, ligado a Bivar. Pessoas próximas a Garcia, no entanto, dizem que a decisão ficará para o fim do mês. Aliados de Nunes afirmam que a situação gerou mal-estar entre o prefeito e o governador, tendo em vista a existência do acordo para indicar Aparecido, que em abril deixou o PSDB com o intuito de compor com o governador.