Bolsonaro manobra para levar eleição mineira para 2o turno
Partido de Jair Bolsonaro, o PL traçou uma estratégia para tentar salvar a pele do presidente da República no estado de Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país que desempenha papel crucial na disputa pelo Palácio do Planalto.
O objetivo é insistir na candidatura do senador Carlos Viana (PL-MG) ao governo do estado, ainda que Viana apareça bem atrás dos dois principais candidatos nas pesquisas – o atual governador Romeu Zema (Novo) e o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD). Kalil é apoiado pelo ex-presidente Lula.
Com a candidatura de Viana, aliados de Bolsonaro avaliam que aumentam substancialmente as chances de forçar um segundo turno entre Zema e Kalil, o que obrigaria o governador a se posicionar publicamente – e a, enfim, declarar apoio à reeleição do presidente.
Os detalhes do plano devem ser discutidos nesta terça-feira (2) em reunião de Bolsonaro com o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto. Nesse roteiro para encurralar Zema, Viana não tem nada a perder, já que está no meio do mandato.
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Bolsonaro está irritado com a postura do governador de Minas, que decidiu ficar longe do Planalto no primeiro turno. O governador tem relutado em declarar apoio à reeleição do chefe do Executivo, devido à alta rejeição de Bolsonaro entre o eleitorado mineiro.
O presidente já teve duas reuniões com Zema para tratar do cenário político mineiro – e saiu ainda mais irritado da última vez, ao não aceitar as justificativas do antigo aliado para manter distância.
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Pesquisa Datafolha divulgada no mês passado mostra Zema com ampla vantagem sobre os adversários, liderando a disputa com 48% das intenções de voto. Kalil aparece com 21% em segundo lugar e Viana bem atrás, em terceiro, com pífios 4%.
O plano do PL de lançar Viana é visto com bons olhos pelo PT, já que a rejeição de Bolsonaro poderia contaminar a candidatura de Zema em um eventual segundo turno – e favorecer o ex-prefeito de Belo Horizonte. “Isso é ótimo para o Kalil”, diz um petista.
Com 15,7 milhões de eleitores, o equivalente a 10% do eleitorado brasileiro, Minas Gerais é peça-chave no tabuleiro político nacional. Desde a redemocratização, todos os candidatos à Presidência da República que ganharam no Estado também saíram vitoriosos no plano nacional.
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Para o cientista político Cristiano Rodrigues, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a candidatura de Viana é uma espécie de revanche e chantagem de Bolsonaro contra Zema.
“Se Zema apoia Bolsonaro explicitamente, o que seria importante para o presidente, Zema sai perdendo. É como se o Bolsonaro fosse a criptonita do Zema, mas o Zema é uma espécie de oxigênio do Bolsonaro. É um dilema quase insolúvel”, afirma Rodrigues.
Globo