Mulheres e jovens veem governo corrupto
Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado
A pesquisa GLOBO/Ipec revela que a percepção da corrupção do governo federal entre os diferentes segmentos da população espelha os dados de rejeição e aceitação do presidente Jair Bolsonaro. Grupos que avaliam o governo como mais corrupto, como as mulheres e os mais jovens, são justamente aqueles que fazem as piores avaliações para o presidente.
Entre as mulheres, categoria com percentuais altos de rejeição a Bolsonaro, 69% das entrevistadas consideram que há “muita corrupção” no governo federal. Esse percentual não passa de 59% entre os homens. Por outro lado, 6% dos homens consideram que não haja “nenhuma corrupção” no governo federal, contra apenas 2% das mulheres. Segundo a pesquisa eleitoral do Datafolha de agosto, 53% das mulheres rejeitam o presidente Jair Bolsonaro. A rejeição é de 49% entre os homens.
Os mais jovens — a faixa etária que mais rejeita Bolsonaro, segundo o Datafolha — também percebem mais corrupção no governo do que os mais velhos. Entre os entrevistados de 16 a 24 anos, 68% afirmaram que veem “muita corrupção” no governo. O número chega a 70% entre pessoas de 24 a 35 anos e cai para 50% entre aqueles de 60 anos ou mais.
— A percepção sobre a realidade é diretamente influenciada por quem está no poder. Ou seja, quando você gosta de alguém que está no poder, você tende a avaliar as ações e decisões do governo de forma otimista. Esse é um fenômeno bem estabelecido nos Estados Unidos que também se manifesta de forma clara no Brasil polarizado de hoje. A percepção da realidade é filtrada pela rejeição ou aprovação do governo. Por isso, os segmentos que mais votam no presidente veem o governo como menos corrupto — avalia Manoel Galdino.
A pesquisa também questionou as atitudes dos próprios entrevistados sobre atos de corrupção cotidianos: uma em cada dez pessoas admitiu já ter pago propina, dado algum presente ou feito favores para se beneficiar ou obter vantagem em algum serviço público. A situação em que mais pessoas admitiram pagar propina foi para receber atendimento médico: 11% dos entrevistados afirmaram que já pagaram a um profissional de saúde ou funcionário do hospital público para obter cuidados médicos.
Uma pesquisa do Ipec feita com exclusividade para o GLOBO revela que a Câmara dos Deputados, o Senado e os governos federal e estaduais foram avaliadas pelos brasileiros como as instituições mais corruptas do país. Os órgãos políticos aparecem à frente do Judiciário, das polícias e de empresas privadas.
A Câmara dos Deputados foi avaliada como o órgão mais corrupto: para 76% dos entrevistados, existe “muita corrupção” no parlamento. O Senado, o governo federal e os governos dos estados vêm em seguida — com, respectivamente, 70%, 64% e 61% de avaliações de “muita corrupção”. O Poder Judiciário foi avaliado como “muito corrupto” por 47% dos entrevistados e aparece em quinto lugar.
Os brasileiros consideram a corrupção o segundo maior problema do país, segundo o Ipec. Ao todo, 36% dos entrevistados pelo instituto mencionaram pagamentos de propina e a troca de pagamentos ilícitos por vantagens como um dos três problemas mais graves do Brasil — somente o desemprego foi mencionado por mais entrevistados. No entanto, quando estimulados a escolher somente um desafio a ser enfrentado, a corrupção aparece como maior prioridade dos entrevistados, com 18% das menções, à frente de desemprego e saúde, com 14% cada uma.
Leia aqui os outros temas da série Tem Solução, que investiga os principais problemas do país a partir de dois levantamentos inéditos do Ipec. A primeira pesquisa foi feita de forma presencial com 2 mil eleitores com 16 anos ou mais, entre 1 e 5 de julho em 128 cidades brasileiras. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos. A segunda, feita com 2 mil pessoas na internet com 16 anos ou mais das classes A, B e C, entre 20 e 27 de julho, com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos.