Carluxo faz campanha própria para o pai

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Alan Santos/PR

Apontado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro (PL) como um dos principais responsáveis por sua chegada ao Palácio do Planalto, o vereador pelo Rio Carlos Bolsonaro mantém uma espécie de núcleo de comunicação paralelo ao comitê de reeleição do pai. Crítico do trabalho feito pela equipe de marketing contratada pelo partido, o parlamentar ignora grande parte das estratégias e até a identidade visual adotada pela campanha, coordenada por seu irmão mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PL).

Antes das eleições de 2018, Carlos já detinha a senha do Twitter de Bolsonaro, rede social em que o presidente é mais ativo e por meio da qual propagou a maior parte da narrativa que ajudou a elegê-lo chefe do Executivo federal. Apesar do aumento da estrutura disponível para a campanha de Bolsonaro, ainda hoje Carlos mantém o método que deu certo quatro anos atrás: publicação de peças com aparência de produção caseira e fotos do pai com pouco tratamento. As diferenças entre o trabalho comandado pelo vereador e as ações elaboradas pelo comitê são visíveis.

O filho do presidente ignorou, por exemplo, as imagens oficiais produzidas para estampar as peças publicitárias de Bolsonaro. Nelas, o presidente aparece diante de uma bandeira do Brasil, sorridente, numa imagem em que mal se vê as manchas de sua pele. Esse material poderia ser usado a partir de meia-noite do dia 16 de agosto, quando a campanha começou efetivamente. Carlos só atualizou as redes cerca de 24 horas depois, acrescentando o nome e o número do presidente na urna, assim como a identificação do candidato a vice, o ex-ministro Braga Netto. Ele manteve, porém, a foto de baixa qualidade que ilustra o perfil de Bolsonaro há anos.

O vereador também administra um Flickr, uma plataforma que armazena fotos, onde posta materiais que exaltam realizações da gestão Bolsonaro. Essas peças são disparadas tanto na rede social do presidente administrada por Carlos como nos grupos de WhatsApp e Telegram em que ele dissemina informações que considera favoráveis ao pai.

No núcleo paralelo, Carlos conta com o apoio de servidores da Presidência, entre eles os assessores Filipe Martins, José Matheus Sales e Mateus Matos Diniz. Outro que deve se juntar ao quarteto é Tércio Arnaud Thomaz. Ele deixou o cargo que ocupava no governo para concorrer como suplente do candidato a senador pela Paraíba Bruno Roberto (PL). Thomaz, Sales e Diniz formam o chamado “gabinete do ódio”, grupo capitaneado por Carlos responsável por disseminar o discurso bolsonarista nas redes.

O GLOBO apurou que o vereador ainda é o único que opera o Twitter de Bolsonaro. Já no Facebook e no Instagram, usados para transmissões ao vivo, assessores do Planalto também administram as contas.

Para se dedicar integralmente à campanha do pai, Carlos se licenciou do cargo de vereador no início de agosto e tem passado praticamente todo o período eleitoral em Brasília. Apesar disso, ele não frequenta o QG da campanha e não vai às reuniões da equipe oficial. Quando necessários, os contatos são feitos com Flávio. Eventualmente, segundo interlocutores, os irmãos conversam sobre estratégias, embora procurem não interferir no trabalho do outro. Ainda assim, já houve rusgas entre eles.

Carlos criticou publicamente a campanha, ao comentar um post que anunciava o slogan “sem pandemia, sem corrupção e com Deus no coração, seremos uma grande nação”. “Vou continuar fazendo o meu aqui e dane-se esse papo de profissionais do marketing”, desdenhou. À época, Flávio foi questionado:

— Olha, para mim as inserções do partido foram perfeitas. Isso foi fruto de muito trabalho, de muito estudo. Não foi um achismo.

Integrantes da campanha minimizam o embate e preferem dizer que “as redes sociais do presidente têm vida própria”. Já a campanha do PL, responsável pela propaganda na televisão e no rádio, tem a missão de alcançar outros públicos.

A equipe de comunicação da campanha é formada pelo ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten, o marqueteiro Duda Lima e o publicitário Sérgio Lima. O GLOBO tentou contato com Carlos Bolsonaro, mas não houve resposta.

O Globo