Lula com Marina recupera pauta ambiental

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Foto: Ricardo Stuckert

O economista e diplomata Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente, afirma que a aliança da ex-senadora Marina Silva (Rede) com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) coloca a agenda ambiental em um novo patamar na campanha eleitoral. Ele prevê, no entanto, dificuldades com o Congresso em 2023.

Acadêmico influente na área do desenvolvimento sustentável, Ricupero diz ter achado “fantástico” que o ex-presidente Lula tenha se comprometido a atender pedidos de sua ex-ministra.

— O encontro de Marina e Lula deu visibilidade ao tema do desenvolvimento sustentável numa campanha que, de outros pontos de vista, está muito pobre em ideias — afirmou. — Quando debatem, os candidatos não conseguem apresentar propostas claras para um plano de desenvolvimento com visão de país.

Ricupero diz ter pouco diálogo com o PT, que o atacou quando era ministro do governo Itamar Franco, em 1994. Agora, ele afirma acreditar que Marina e Lula conseguirão impulsionar uma visão de desenvolvimento próxima à que ele defende.

— Isso foi o mais importante que aconteceu nessa campanha até agora. Eu decido meu voto na base da pauta ambiental, e não voto em ninguém que não tenha um compromisso claro— afirmou.

Ricupero diz, porém, que assumir compromissos não será suficiente para “mover a causa”. E alerta que o diálogo com o Congresso Nacional em 2023 promete ser difícil.

— Gostei que, em vez de se candidatar a vice-governadora em São Paulo (na chapa de Fernando Haddad, do PT), decidiu disputar uma vaga na Câmara dos Deputados, pois a causa dela é nacional. Eu inclusive disse isso a ela outro dia. — contou.

Ricupero afirma que, entre as propostas delineadas por Marina no encontro com Lula, uma que lhe agradou especialmente foi a da criação da Autoridade Nacional de Mudança Climática, que coordenará a ação entre todos os ministérios para implementação de uma política ambiental coerente.

— Esse é um velho sonho de todos os ex-ministros do Meio Ambiente — afirmou.

O planejamento “transversal” na política para a Amazônia e para o combate ao desmatamento, maior fonte emissora de gases do efeito estufa no país, foi demanda de vários dos ocupantes da pasta, que hoje conversam com frequência em um grupo informal digital. Participam do círculo todos os ex-ministros de meio ambiente vivos, exceto Ricardo Salles.

O economista e diplomata foi um dos críticos da política ambiental do governo Dilma Rousseff, sobretudo da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Ele diz crer, porém, que Lula e o PT estão mais conscientes da importância da questão ambiental agora.

— Eles não ignoram que, pra levar o Brasil para frente, precisarão investir em infraestrutura, e eles não conseguirão isso sem projetos que tenham forte componente ambiental, os grandes fundos mundiais exigem isso — diz.

Na visão de Ricupero, existe hoje um entrave para o desenvolvimento do Brasil, pois o país “perdeu o bonde das cadeias globais de produção”, agora dominadas pela Ásia. Para não se limitar ao agro e à exportação de commodities, a saída é apostar numa economia transformada pela transição que a crise do clima exige, defende.

— O grande salto que o Brasil pode dar economicamente, mesmo não levando em conta a variável ambiental, é aproveitar a economia de baixo carbono como vantagem comparativa — diz.

O Globo