Ataque a pesquisas é estratégia bolsonarista final

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Foto: Hugo Barreto/ Metrópoles

Faltando menos de duas semanas para os brasileiros irem às urnas para o primeiro turno, a campanha e a militância do presidente Jair Bolsonaro (PL) se mostram cada vez mais nervosas com o desempenho do candidato à reeleição nas pesquisas eleitorais de maior credibilidade. O que está levando a um aumento do tom dos ataques a elas e à Justiça Eleitoral.

O próprio Bolsonaro abandonou um período de trégua sobre o assunto “fraude nas urnas” ao dizer, em entrevista ao SBT no último domingo (18/9), que espera vencer a eleição já no dia 2 de outubro, com 60% dos votos. “Pelas minhas andanças pelo Brasil, em especial nos últimos dois meses, se nós não ganharmos no primeiro turno, algo de anormal aconteceu dentro do TSE”, afirmou.

O cenário pintado pelo presidente é distante do mostrado pelas pesquisas. O levantamento do Datafolha no fim da última semana, por exemplo, colocou o petista Luiz Inácio Lula da Silva estável com 45% das intenções de voto. Enquanto isso, Bolsonaro oscila de 34% para 33% em um momento em que a campanha contava com crescimento.

O clima piorou logo no início da manhã de segunda (19/9), quando a pesquisa BTG/FSB apontou Lula subindo acima da margem de erro e Bolsonaro estagnado. As reações para desacreditar as pesquisas, em geral, começaram no comando da campanha do candidato que está em segundo, com ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente. Eles dispararam postagens para valorizar o “Datapovo” e desdenhar dos levantamentos feitos com critérios científicos.

Antes de reclamar no voto útil em Lula, Nogueira também fez eco à percepção eleitoral de Bolsonaro. “O presidente falou em vitória em primeiro turno. Uma dica: ele sabe porque fala! O PT vai continuar fazendo o que sabe fazer melhor: vaiar da arquibancada, enquanto o Brasil vence dentro das quatro linhas”, escreveu o presidente do PP no último domingo.

O ministro das Comunicações, Fábio Faria, disparou postagens, na segunda-feira, convocando a militância a “anotar os números” divulgados pelos principais institutos de pesquisa. Chegou a prever que “no dia 2 de outubro a população vai cobrar o fechamento desse instituto”, referindo-se ao Ipec. “Se eu estiver errado não terei problema em reconhecer o erro, mas cobrarei o contrário. Dia 2 está logo aí. Aguardemos”, complementou ele, em outra postagem.

Em grupos de aplicativos de mensagens, como WhatsApp e Telegram, e nas redes sociais, a militância bolsonarista segue o roteiro de mostrar confiança na reeleição. Entretanto, há um nítido aumento no esforço para divulgar pesquisas eleitorais de institutos sem tradição e desacreditar as pesquisas de institutos mais famosos.

Paradoxalmente, porém, uma empresa com credibilidade no mercado, o Ipec, criado por ex-membros do Ibope e que costuma ser contratado pela Rede Globo para fazer pesquisas, está sendo usado para espalhar uma notícia falsa sobre a disputa eleitoral.

Desde domingo (18/9), circula com força nos ambientes digitais bolsonaristas um vídeo manipulado para parecer que o Jornal Nacional, da Globo, estaria noticiando uma pesquisa Ipec com Bolsonaro na frente e Lula em segundo – resultado que o instituto jamais apurou.

O Ipec confirmou em nota que o vídeo apresenta dados falsos e informou que vai denunciar o conteúdo. Veja o posicionamento:

“É falso o vídeo que circula em redes sociais e grupos de WhatsApp onde o presidente Jair Bolsonaro (PL) aparece com 46% das intenções de voto e o ex-presidente Lula, do PT, com 31%, segundo dados do Ipec e com imagens do Jornal Nacional, da TV Globo. Divulgada dia 12 de setembro, a pesquisa mostra o contrário: o ex-presidente Lula lidera a disputa, com 46% das intenções de voto, seguido por Bolsonaro, com 31%. O Ipec está denunciando o vídeo no Sistema de Alerta de Desinformação Contra as Eleições do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e no Ministério Público Eleitoral (MPE) para que adotem as medidas cabíveis.”

A própria Rede Globo se posicionou dizendo se tratar de deep fake.

Apesar de sustentar a crença em uma vitória no primeiro turno, o presidente Bolsonaro também tem dado espaço em sua campanha para pedidos de tentativas de virar votos. “Eu peço a todos vocês que compareçam às urnas, vá votar de verde e amarelo, convença as pessoas que estão do outro lado a vir para o nosso lado”, discursou ele, em comício na última semana. “A luta não será fácil. Ainda não está decidido”, afirmou ainda o candidato à reeleição.

O economista Rodrigo Constantino, apoiador de Bolsonaro e comentarista político na internet e na rede Jovem Pan, também diz não acreditar nas pesquisas. Porém, mostrou, em vídeo divulgado em seus canais na última quarta (21/9), que também não acredita cegamente na vantagem do presidente. “É hora de cada brasileiro decente e honesto trabalhar para conquistar votos de indecisos”, pediu ainda.

Um dos coordenadores da campanha do pai, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que é uma das vozes contra a radicalização por entender que isso afasta eleitores indecisos, resolveu remar no sentido contrário em relação ao questionamento das urnas eletrônicas, que caminha lado a lado com as críticas às pesquisas eleitorais.

Após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aceitar sugestões do Ministério da Defesa, o senador Flávio Bolsonaro disse à coluna de Guilherme Amado, no Metrópoles, que o risco de fraude passou a ser “quase zero”. “Somente o voto impresso seria 100% seguro, pois qualquer sistema eletrônico é passível de ser invadido. Mas, com as medidas implementadas, a possibilidade de fraude é quase zero. Vamos para as eleições com a convicção de que vencerá quem tiver mais votos”, disse Flávio Bolsonaro.

Metrópoles