Bolsonaro busca jeito de questionar eleição
Foto: Hermes de Paula/Agência O Globo
Derrotado nas urnas no último domingo (30) por uma margem de apenas 2,1 milhões de votos e isolado desde então entre o Palácio do Planalto e o Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro não parece disposto a dar uma trégua nas suspeitas e ataques lançados contra o sistema eleitoral.
Enquanto se reunia com ministros para discutir se fazia ou não um pronunciamento reconhecendo a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o atual ocupante do Palácio do Planalto esperava pela apresentação dos resultados de uma missão dada ao PL.
Bolsonaro ordenou ao partido que vasculhe as atas das seções eleitorais para garimpar incidentes que ocorreram em cada local de votação por todo o País. Ele quer um relatório desses incidentes.
Os incidentes são registros de eventuais problemas ocorridos ao longo da votação, sejam eles graves ou corriqueiros, feitos pelo mesário na ata de cada seção eleitoral.
Por exemplo: troca de urna, substituição da votação eletrônica por cédula de papel em um caso extremo, problemas no reconhecimento de eleitores por biometria.
São incidentes pontuais, inexpressivos, que acontecem em toda eleição. Mas, se reunidos em um mesmo relatório, podem ser usados como reforço argumentativo para tumultuar o pleito – e alimentar a incansável narrativa bolsonarista contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Uma vez dada a ordem, os advogados do PL já começaram a trabalhar no levantamento. A interlocutores do bolsonarismo raiz com quem falou na manhã de segunda-feira, Bolsonaro disse estar esperando as provas de fraude para se manifestar. E isso ao mesmo tempo em que caminhoneiros bloqueavam estradas em diversos pontos do país.
Mas a equipe da coluna apurou que o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e o advogado da campanha bolsonarista, Tarcísio Vieira de Carvalho, resistem à nova ofensiva esboçada contra a Justiça Eleitoral.
Valdemar já havia sido enquadrado pelo TSE por conta de um relatório do PL que contesta a segurança do sistema eleitoral. O presidente do PL também havia se posicionado contra a apresentação da denúncia de que rádios nordestinas não haviam veiculado inserções da campanha bolsonarista entre 7 e 4 de outubro.
Desde a divulgação do resultado, porém, Bolsonaro resiste a reconhecer a derrota e dar início à transição, apesar dos mais variados apelos para que o faça.
Inclusive Valdemar da Costa Neto esteve ontem com Bolsonaro no Palácio do Planalto, mas saiu sem falar com ninguém.
Após o forte crescimento do PL na eleição para o Congresso no primeiro turno, que passou de 76 para 99 deputados, Valdemar está mais preocupado com o novo desenho legislativo e busca ocupar postos estratégicos na Câmara e no Senado.
Tarcísio Vieira, por outro lado, já atuou como ministro do TSE e não parece muito disposto a aprofundar os desgastes com o tribunal após a derrota bolsonarista nas urnas.
Ao longo da última segunda-feira (31), uma série de aliados procuraram Bolsonaro para convencê-lo a aceitar o resultado das urnas e desistir de qualquer tentativa de reforçar a artilharia contra a Justiça Eleitoral.
Observadores nacionais que acompanharam o processo eleitoral durante o primeiro e o segundo turno relataram à equipe da coluna que aumentou consideravelmente o número de fiscais do PL que acompanharam o processo de votação nas seções eleitorais no último dia 30 – tanto no Brasil quanto no exterior.
De acordo com relatos obtidos pela equipe da coluna, fiscais do PL questionavam o trabalho de alguns observadores, argumentavam que eles não poderiam ficar dentro da seção e até procuravam mesários para afastá-los dos locais de votação.
Houve episódios dessa natureza em Curitiba, Vitória, São Paulo e Fortaleza, mas nenhum deles descambou para violência.